ACUSAR a si mesmo

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Acusar a si mesmo deveria constar do enfrentamento da violência sexual infantojuvenil para quem deseja se libertar.

Há uma frase na Cartilha Educativa, deste ano, da Campanha sobre o tema que me chamou a atenção: “Um país que quer ser grande tem que proteger quem não terminou de crescer”.

Tive e tenho contato com muita gente que foi vitimada pelo abuso sexual na infância e/ou na adolescência. Muitas delas, sem estrutura interior e esteio para serem tratadas, tropeçaram e caíram no comércio do sexo. Diversas, da exploração sexual para o alcoolismo e o uso de drogas ilícitas. É um assunto que pesquiso desde 1967, já falei sobre isso, quando, com 13 anos, tornei-me voluntária no Educandário Nossa Senhora do Desterro, na rua Marechal Deodoro da Fonseca, que acolhia meninas em desamparo. Naquela época, acreditava que abuso sexual era coisa de desequilibrado, que ameaçava a pessoa e a agarrava na rua. Jamais poderia imaginar que pudesse acontecer dentro de casa e de outros lugares considerados de respeito e proteção.

Foi essa dor de abandono, que senti e sinto, de meninas, meninos e pessoas grandes, que me motivou e motiva estar na Pastoral da Mulher/ Magdala. Nem todas, mas inúmeras viveram esse padecimento de sentir seu corpo, seu coração e sua alma rompidos pela fúria de safados de todas as classes sociais e com papeisvariados de“honra” na sociedade. Na Cartilha, com o tema – “Aprendendo a não errar” – destaca-se que nem toda a pessoa que abusa de criança ou adolescente é pedófilo. “A pedofilia é um transtorno de personalidade caracterizado pelo desejo sexual por crianças pré-púberes, geralmente abaixo de 13 anos. Para que uma pessoa seja considerada pedófila, é preciso que exista um diagnóstico de um psiquiatra. Muitos casos de abuso e exploração sexual são cometidos por pessoas que não possuemesse transtorno”. Dizer o quê?

Esse círculo de morte prossegue porque o(a) abusador(a) alimenta-se de mentiras e incontáveis vezes o seu entorno igualmente. Se bem que, como dizia nossa avó paterna, “A terra jurou não guardar segredo”.

Na semana, em que li a Cartilha, na Liturgia das Horas – oração pública e comunitária oficial da Igreja Católica – havia duas leituras do Abade São Doroteu (Séc. VI). O inesquecível Dom Joaquim Justino Carreira (1950 –2013), destacava sempre as instruções de São Doroteu.

Relaciono também, na questão de abuso sexual, São Doroteu, que aconselha a acusar-se a si mesmo. Afirma: “Esta é a verdade. Por mais virtudes que tenha um homem, ainda que sejam inumeráveis e infinitas, se se afasta deste caminho, nunca encontrará a paz, mas ao contrário andará aflito ou afligirá os outros…”

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Quando alguém é denunciado pelo abuso de criança ou adolescente – o assédio também é uma forma de abuso sexual – a primeira atitude é a de procurar quem o(a) defenda. Se o indivíduo se acusasse a si mesmo, teria uma chance, penso eu, de tratamento que o tornasse do bem. Caso contrário, permanecer de caráter pervertido. Acusar-se de seus erros não é fácil, mas salva.

Na Cartilha, há uma pergunta: “O que você tem a ver com isso?” E a resposta: garantir os direitos dos meninos e meninas do país é dever de todos e está na Constituição.(Foto: Manga Verde/Pexels)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

É professora e cronista.

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