No último dia 21 foi comemorado, nacionalmente, o dia do(a) adolescente. Estou aproveitando o Setembro Amarelo, mês da prevenção ao suicídio, para conversar a respeito da saúde mental das crianças e adolescentes. Como psicólogo clínico, sociólogo e especialista em adolescência, trata-se de uma obrigação falar a respeito.
Antes de tudo, se você sente que está em sofrimento psíquico, com ideação suicida, uma vontade de sumir ou algo assim, lembre-se que temos o CVV(Centro de Valorização da Vida), no número 188. Lá, você encontra um acolhimento seguro e sigiloso, 24 horas por dia, sete dias por semana. É importante que você saiba disso, que você não está só!
Recentemente, nós tivemos uma notícia bem alarmante. Pela primeira vez no nosso país, a ansiedade entre crianças e adolescentes superou os índices observados entre pessoas adultas. Os dados foram compilados da Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, entidade vinculada ao Sistema Único de Saúde – SUS. A análise envolveu o período entre 2013 e 2023.
Numa outra fonte, dados da Pesquisa Nacional de Saúde, do IBGE, revelou que entre 2013 e 2019, houve um crescimento significativo na incidência de depressão em todas as faixas etárias. Entre jovens de 18 a 21 anos, por exemplo, a taxa de depressão aumentou 152%. E vejam que esse crescimento ocorreu mesmo antes da pandemia.
Uma meta-análise robusta, publicada no periódico Jama Pediatrics, em 2021, forneceu uma estimativa mundial sobre as taxas de depressão e ansiedade entre crianças e adolescentes, durante a pandemia de Covid-19. O estudo reuniu dados do final do primeiro ano de pandemia e os comparou com as prevalências no período anterior.
Assim, um em cada quatro adolescentes em todo o mundo apresenta sintomas de depressão clinicamente elevados, enquanto um em cada cinco apresenta sintomas de ansiedade generalizada. Uma comparação destes resultados com as estimativas pré-pandêmicas, sugere que as dificuldades de saúde mental nesta faixa etária, durante a pandemia de Covid-19, duplicaram.
Nós também sabemos, por meio de outros estudos, que todas as principais síndromes que constituem cerca de 75% das psicopatologias, começam antes dos 25 anos. Se quisermos sonhar com uma nova geração de pessoas adultas saudáveis, então precisamos agir preventivamente.
E quando se pensa na infância e adolescência LGBTQIAPN+, sabemos, também por meio de diversas pesquisas e estudos, que já é esperado um agravo em saúde mental, apenas por serem pessoas diversas do padrão cis-hetero-normativo. Padrão esse imposto pela nossa sociedade, pela nossa cultura e, justamente por essa imposição, não tem nada de “natural”.
Nestas vivências diversas, outra coisa que nós já sabemos é o papel da família como um importante fator de proteção da saúde mental, sobretudo após a descoberta ou a revelação de que a filha, filho ou filhe é uma pessoa LGBT. Nesse momento desafiador, mesmo que a compreensão não surja de imediato, a recomendação para essa mãe, esse pai ou a pessoa adulta responsável, é acolher essa demanda, da maneira mais aberta e afirmativa que for possível para o momento.
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Outro estudo apontou que adolescentes LGBTQIAPN+ que recebem rejeição da família, apresentam oito vezes mais probabilidade de tentativas de suicídio e seis vezes mais probabilidade de desenvolver transtornos depressivos graves, se comparado aos que experimentaram abertura e acolhimento dos familiares. O acolhimento, o respeito e o diálogo são importantes fatores protetivos da saúde mental.
Uma ansiedade patológica ou um quadro de depressão que não receba cuidado e acolhimento profissional, pode se tornar um perigoso fator de risco para ideação suicida ou mesmo tentativas de autodestruição. Como mães, pais ou responsáveis, familiares, profissionais da educação, da saúde, enfim, é um dever de toda a sociedade cuidar da saúde mental de nossas crianças e adolescentes.(Foto: Paloma Clarice/Pexels)
MARCELO LIMÃO
Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP. Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042
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