ADOLESCENTES TARDIOS

adolescentes

Surpreendente este mundo dos adolescentes tardios: um momento de muito divertimento, pouco compromisso, responsabilidade não existe e cobranças intensas pulverizam as relações interpessoais daqueles que convivem nesse universo. Hoje em dia quase ninguém erra. Temos uma geração que já veio com selo de perfeição da fábrica, uma vez que eles são sobejamente perfeitos e sábios.

Não há uma situação sequer que nossos jovens não saibam. Palpitam sobre tudo, com ar supremo de conhecedores, ainda que nunca nem ao menos tenham ouvido falar sobre o assunto; suas pesquisas são muito bem fundamentadas no Instagran ou em qualquer rede social ou sites de encontros, apesar de se dizerem estudados. E se instruem com voracidade, já que não desgrudam do Insta..

Tão incríveis, descolados e despojados, optam por residir na casa dos pais para não gastar seus salários; ou moram separados, desde que haja uma mesada para complementar os gastos com apartamento ou carro ou celular. Não avançam para a autonomia e não crescem, visto que permanecem dependendo do caixa-forte familiar, que intitulam de ‘financiador’.

São vencedores em campeonatos de truco da faculdade ou da galera do bairro, são empenhados em esportes radicais, lutas, academias e jogos aos finais de noite ou pela madrugada, buscam viver como jovens das sociedades mais evoluídas, ainda que se diferenciem daqueles, pelo seu estilo dependente e de pouco conhecimento do Mundo. Conhecem e discutem sobre a última droga descoberta, dando comprovações de que ela não vicia. Fazem os regimes alimentares mais radicais, jurando que são sadios. São tão evoluídos!!!

Quando buscamos elos de comparações, colocamo-nos diante de seres exemplares: têm sempre um conselho na ponta da língua. São capazes de aconselhar sobre saúde, divórcio, serviços de atendimento ao cliente, casamento, sexualidade, igreja, finanças, segurança pública e álcool e demais drogas, com a mesma segurança de quem abre a torneira para lavar um copo. São extremamente capazes de aconselhar, ainda que não consigam viver adequadamente suas próprias vidas, mas aconselham.

É fácil ouvi-los falando sobre casamento e segurança da vida a dois, quando suas próprias vidas estão um lixo, suas relações matrimoniais estão conflitosas e frágeis; entretanto, servindo de ouvido e consolador, sempre sobra uma lasquinha para se aproveitar, afinal o mundo é deles, dos espertos e canalhas. Mentem com muita naturalidade e desfaçatez sem se preocupar em serem pegos na mentira, entretanto sentem-se vítimas ao menor sinal de desconfiança. Acreditam-se injustiçados, quando o vento não sobra para seus lados.

Incertezas, jamais. Isso é para os fracos, uma vez que sempre têm uma opinião formada sobre tudo. A cada vivencia, uma frase instagramável para servir de anteparo a sua sabedoria, no máximo, rasa e de senso comum, distante da vertente crítica e reflexiva. Transformam-se em avatares, em seres despersonalizados, que têm seguidores (copiadores) para validar suas inconveniências e suas infantilidades.

Roupas de grife, posturas infundadas e bebida em pleno meio dia, afinal, são a última bolacha do pacote, com centenas e milhares de seguidores, sem ter que dar satisfação de nada para ninguém. Eles acreditam nisso. Este é o mundo perfeito e suave onde vivem: uma bolha cheia de verdades pessoais e que tentam forçar para que sejam verdades universais. Talvez estejam certos, visto que o Universo deles é constituído deles e das amebas que os seguem, confirmando a idolatria e o mundinho minúsculo de seu entorno.

Vivem como as redes sociais reprogramam suas mentes e seus mundos, sentindo-se autênticos e capazes, cheios de frases de efeito e pouca ação. Quanta pobreza cultural, quanta abstração infundada. Faz-me sentir falta de pessoas reais, daqueles que admitem seus erros e suas dificuldades, dos que confessam as falhas e os medos: estes são reais. Os demais são factoides, meros factoides, “ossos secos” na linguagem de Richard Park em seu livro “Humanidade Artificial”.

Sinto falta das pessoas que sentem e demonstram, sem falsear e sem exagerar, tendo tempo para viver uma emoção, uma amizade, uma família sem se sentir forçado a nada; entretanto, a teatralização tem sido tão presente no mundo dos cancelamentos que fica difícil saber o que é e o que nunca foi nem nunca será. Esta indefinição identifica este mundo abstrato e vazio, destes adolescentes tardios de 30 a 40 anos: eles querem ter, querem mostrar, mas odeiam ser. Um verdadeiro invólucro vazio.

Como era boa a época das pessoas que se diziam aprendizes e viviam o período do aprendizado e diziam com voz firme e forte que ainda estavam aprendendo. Hoje, nossos adolescentes tardios já sabem tudo e são gurus nas mídias sociais, em especial no Instagran, onde se apresentam rodeados de seguidores, geralmente do sexo oposto, fato a ser analisado com bons olhos, pois o reduto de fãs sempre é peculiar. Muito peculiar.

LEIA OUTROS ARTIGOS DO PROFESSOR AFONSO MACHADO

NONSENSE

AINDA BEM QUE É SÓ NA ESPANHA…

ALGUMAS SITUAÇÕES SÃO ETERNAS

Pessoas artificiais me desinteressam, pela inexistência: não são, não estão e não fazem diferença. Isto deixa estranha a vivência num mundo onde muitos passam por eles sem deixar suas marcas, sem deixar uma construção e sem exercerem suas próprias histórias. Apenas representaram e apenas passaram, ainda que com grande alarde e grande pompa, esquecendo que há um brilho único naqueles que vestem apenas a humanidade; esquecendo que há uma beleza incomparável naqueles que não se escondem na mentira da perfeição.

O que será de nossos adolescentes tardios quando a máscara cair e a Vida cobrar atitudes? Com que caráter se apresentarão, encobertos de tantas mentiras e tantas falsidades? Olhemos ao nosso redor e perceberemos que estamos cercados de adultos que se recusam a crescer, orbitando como moscas ao redor de fezes, acreditando que sejam a ultima bolacha do pacote. Não consigo avançar em minhas análises diante desta geração tão comprometida em sua dimensão afetivo-intelectual em função de um narcisismo gritante e de uma incultura gigantesca. Não consigo avançar…(Foto: mises.org.br)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do Lepespe, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da Unesp. Mestre e Doutor pela Unicamp, livre docente em Psicologia do Esporte, pela Unesp, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Diretor técnico da Clínica de Psicologia da Faculdade de Psicologia Anhanguera, onde leciona na graduação.

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES