Ainda sobre livros e e.books, num grupo de discussões do Linkedin, voltado para profissionais do livro, uma das participantes propôs uma curiosa enquete. Ela queria saber dos que atuam no grupo quantos tinham o hábito de comprar livros digitais e quantos costumavam baixar e.books gratuitos e de onde. Não tenho aqui a intenção de fazer uma análise estatística dos resultados. Mesmo porque não há elementos para isso. Mas as respostas foram bem curiosas.
Lembrando: a consulta foi realizada num ambiente formado basicamente por editores, escritores e demais profissionais do livro, em sua maioria, revisores e tradutores. Todos leitores regulares e habituais.
As preferências empataram. Metade respondeu que sim, costuma comprar livros digitais; a outra metade disse que não. Aí começam as curiosidades. Uma pequena maioria não tem o hábito de baixar livros gratuitos (mesmo tendo o hábito de comprar e.books e frequentar com regularidade a Amazon!). Vários dos que responderam sim, fizeram questão de registrar sua preferência pelo livro impresso. Por último, a maioria dos que responderam não optaram por uma resposta curta e grossa: Não, Não e Não, para as três questões que foram apresentadas pela autora do tópico.
Não sei de onde vem esse tremendo mau humor quando o assunto é livro digital. Também não consigo entender porque não aproveitar as oportunidades de baixar e ler algo diferente. Ainda mais sendo de graça! Cabe destacar que, neste caso, a referência é para os livros disponibilizados gratuitamente pelos autores (o que é muito comum na Amazon, por exemplo!) e não à pirataria de obras literárias, vamos deixar isso bem claro.
O que fica evidente, no entanto, é que todo esse preconceito com relação ao livro digital está diretamente relacionado à faixa etária dos consultados, praticamente todos com mais de 30 anos. Ok, estou sendo bacaninha neste ponto. A maioria dos consultados que respondeu Não, Não e Não, aparenta ter mais de 50 anos!
O problema, por outro lado, é que o público mais jovem, imerso até o pescoço em novas tecnologias e ávidos consumidores de recursos móveis, lê muito pouco. Pessoalmente eu acredito que eles leem muito mais do que se supõem. Porém, bem menos do que deveriam! De qualquer forma, são eles que devem sustentar o mercado de livros digitais daqui em diante.
Até aqui, acredito que eu não tenha ido muito além do óbvio. Mas será que nosso mercado editorial consegue enxergar essa obviedade?
Basta uma rápida pesquisa nos principais sites de vendas de livros para perceber que nada é tão óbvio assim. Desde que a Amazon passou a vender livros impressos no Brasil, a distorção do mercado editorial brasileiro ficou ainda mais evidente para mim. E não é só na Amazon. Pesquisas nos sites da Saraiva e da Cultura revelam o mesmo sintoma: não é raro encontrar versões digitais de um livro custando quase a mesma coisa e, às vezes, até mais caro do que a versão impressa! Ma che!
E o que justifica um e.book custar mais caro do que um livro impresso?
Ainda que as grandes editoras não abram mão do processo editorial completo (avaliações, revisões, mais avaliações, mais revisões!), que naturalmente encarecem a publicação de um livro, as etapas mais custosas ainda são a impressão e a distribuição física do livro impresso. E essas duas etapas não existem na produção de um e.book!
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Mesmo a diagramação é infinitamente mais simples na versão digital. Um programa básico como o Microsoft Word resolve muito bem o problema. Basta saber combinar as ferramentas de estilo para se chegar à versão final do livro. Ainda assim, a versão digital dos maiores sucessos das principais editoras brasileiras custam entre R$ 22,00 e R$ 25,00. A versão digital do livro 1889, de Laurentino Gomes, sai por R$ 29,90 na Saraiva.
Como as editoras pretendem seduzir o público potencial de e.book cobrando preços semelhantes aos das versões impressas dos seus livros? Lembra do que eu disse acima? …o público mais jovem, imerso até o pescoço em novas tecnologias e ávidos consumidores de recursos móveis… E que lê muito pouco?!… Assim fica difícil!(foto acima: www.thegermanprofessor.com)
RONALDO TRENTINI
É jornalista e escritor. Com passagens pelo Jornal de Jundiaí, Jornal da Cidade, Jornal O Tempo e A Tribuna de Jundiaí. Foi secretário de Comunicação na Prefeitura de Jundiaí. Escritor independente, é autor da série Mistério & Sombra, disponível na Amazon.com.br, entre outros livros.