ALEGORIAS ERUDITAS

alegorias

Todo mês de fevereiro(dependendo da data da quaresma) tem o Reinado de Momo. É a festa mais popular do país, na qual alegorias eruditas transformam coisas simples no maior espetáculo da Terra, transmitido para outros países em horário simultâneos. Em cada desfiles, as escolas de samba escrevem um capítulo único na história do Carnaval, apresentando-se para o público aficionado neste entretenimento. Multidões se agitam. 

Sambas-enredo são verdadeiros documentos históricos. Eles registram fatos que tentaram esconder ou desqualificar. Apesar de tantas alegorias, os sambas nunca faltam com a verdade. Do primeiro parágrafo ao epílogo, tudo num contexto conciso, música e letra conseguem expressar com clareza os conteúdos do desfiles. 

As histórias contadas tornam-se uma enciclopédia didática que será consultada posteriormente. São um grande arquivo para bibliotecas físicas ou virtuais. Algumas frases constituem filosofias e ditados populares de grande alcance e fácil entendimento. Por isso a empatia que cria até nos “gringos” que se aventuram a assistir aos desfiles.

Sem contar a poesia, que torna mais interessante e até mais leve. Enredos que falam de histórias cruéis de sobrevivência deste povo sofrido. Sagas de famílias destruídas. Heróis nem tanto. Lugares e locais de grande importância no desenvolvimento do país. Coisas de realeza. Coisas de pobreza e até do espaço sideral. Em resumo são saberes e formas de existir.

Aproveito para deixar aqui uma destas alegorias que continuam mexendo com a gente: Festa Profana, samba-enredo da União da Vila do Governador, de 1989:

O rei mandou cair dentro da folia
E lá vou eu (e lá vou eu)
O Sol que brilha nessa noite vem da Ilha
Lindo sonho que é só meu

(Vem amor)
Vem, vem amor!
Na poesia vem rimar sem dor
Na fantasia, vem colorir
Que a vida tem mais cor
Vem na magia
Me beija nesse mar de amor
Vem, me abraça mais
Que eu quero é mais
O teu coração

Eu vou tomar um porre de felicidade
Vou sacudir, eu vou zoar toda cidade

Êh! Boi Ápis
Lá no Egito, festa de Ísis
Êh! Deus Baco, bebe sem mágoa
Você pensa que esse vinho é água?
É primavera!
Na lei de Roma, a alegria é que impera
Oh! Que beleza!
Máscara negra lá no baile de Veneza

Oi joga água que é de cheiro
Confete e serpentina
Lança perfume no cangote da menina

LUIZ ALBERTO CARLOS

Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.

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