ALICE não teve o direito de envelhecer

alice

Alice Martins Alves(foto), mulher trans de 33 anos, foi brutalmente espancada na região da Savassi, em Belo Horizonte, no dia 23 do mês passado. Ela sobreviveu à agressão, mas morreu dias depois. Seu caso escancara uma falha que vai além de um único hospital, mostra o quanto os sistemas de saúde ainda não estão preparados para acolher pessoas trans com a sensibilidade e a urgência que merecem. Mesmo após relatar fortes dores, Alice não passou por exames básicos, como um raio-X, um sintoma do despreparo estrutural que muitas vezes ultrapassa o cuidado individual do profissional. Alice não morreu apenas pelas pancadas, mas também pela indiferença, pelo descaso.

A história de Alice é parecida com outras que encontramos nos jornais diariamente. Ela não teve tempo para envelhecer. Sua vida foi interrompida pela violência e pela negligência, duas faces da mesma transfobia que o Brasil insiste em normalizar. Enquanto o país debate o envelhecimento da população no Enem, muitas pessoas trans sequer têm a chance de chegar nessa idade. E isso diz mais sobre o país do que qualquer redação de vestibular.

A transfobia no Brasil é tão estrutural que se estende em diversas áreas e profissões, e não tem como fingir normalidade quando neste caso, ela vestiu jaleco. Profissionais despreparados tratam corpos trans com estranhamento, com descuido. O nome social é ignorado, a dor é subestimada, o cuidado é negado. O hospital, que deveria ser um espaço de cura, se transforma em mais um lugar de exclusão. Alice foi revitimizada onde deveria ter sido acolhida.

LEIA OUTROS ARTIGOS DE THAÍS MANFROTE

Quando o Enem fala sobre o envelhecimento no Brasil em seu tema de redação, é impossível não lembrar que esse não é um privilégio para todos. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a expectativa de vida de pessoas trans no país mal alcança os 35 anos. Isso é reflexo da transfobia estrutural que ainda é tão presente na sociedade brasileira, fazendo com que milhares de pessoas trans tenham sua vida ceifada por um sistema que ao invés de ser inclusivo, faz questão de excluir existências, mostrando um Brasil que envelhece em números, mas que ainda é muito carente de humanidade.

São pessoas. São vidas. Alice não envelheceu, mas sua memória precisa fazer o país amadurecer. Que cada corpo trans seja visto com dignidade, que o cuidado deixe de ser exceção e que envelhecimento não seja privilégio e sim direito de todos como cidadãos. Resistir não pode ser a única forma de viver no Brasil.(Foto: redes sociais)

THAÍS MANFROTE

Jornalista e copywriter formada pela Universidade Anhembi Morumbi, apaixonada por escrita criativa e literatura brasileira , com experiência em redação, mídias sociais e comunicação política. Atualmente fazendo parte da diretoria e sendo responsável pela comunicação e audiovisual do Movimento Social Aliados.

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES