Famílias negras do Anhangabaú tinham representatividade

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Se você quer prever o futuro, estude o passado, disse Confúcio. Baseado nisto e no que minha vivência guarda, descobri que temas relevantes criam ideias novas e falar sobre motivação étnica e racial me faz reviver algumas situações vividas nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado, quando os núcleos familiares das pessoas negras se conheciam, se agrupavam, trocavam experiências e frequentavam as casas uns dos outros no elegante bairro do Anhangabaú. Elas tinham muita representatividade na participação ativa na vida do bairro, esportiva, religiosa e socialmente. 

Viveram muitas histórias interessantes e os tempos atuais não poderão de forma nenhuma negar esses acontecimentos, que não deverão se perder e ficar esquecidos e descartados como papel de folhinha com data vencida. Naquelas épocas o bairro era menos populoso e mais unido, todos se cumprimentavam nas ruas e perguntavam pelas famílias, sistema da boa convivência e respeito pela humanidade. Ocorriam periódicas visitas, longos papos, cordialidade e generosa empatia.

Algumas famílias moravam na rua Barão de Teffé, rua do Retiro, avenida Sebastião Mendes Silva, avenida Dr. Carlos Salles Bloch, avenida Francisco Pereira da Silva, rua Rodrigo Soares de Oliveira, rua Dr. Pedro Soares de Camargo e quando iam ao centro, diziam “vou até a cidade e já volto”, tendo como cumprimento o característico o ‘ó’ sem h mesmo porque a admiração era recíproca e dispensava o uso da exclamação. 

Outras famílias moravam na região da Rua Vital Brasil, rua Pedro Alexandrino, avenida Abílio Figueiredo,  rua Raquel Carderelli, rua Bonifácio José da Rocha, Córrego do Mato, hoje avenida Nove de Julho. Também tinham os mesmos costumes e maneiras de tratamento que era o coloquial e evidentemente a marca registrada naqueles tempos.

Um pouco mais distante, algumas famílias habitavam perto do Cruzeiro das Almas, onde hoje fica a Cúria Diocesana, perto das Carmelitas, da caixa d’água, atrás do Bolão e na região do Jardim Paulista. Mais distantes ainda no bairro do Moisés, perto da igreja Nossa Senhora Auxiliadora, continuidade da Barão de Teffé, que atingia onde hoje é a marginal direita da Anhanguera, sentido Carrefour.

Essas pessoas conviviam e circulavam pelo bairro e utilizavam os dois hospitais da época,  a delegacia de Polícia, os filhos estudavam no Senai, no Instituto de Educação, no Marcos Gasparian, no Sesi. Eram famílias numerosas e frequentavam também o Bolão e a Festa da Uva. Trabalhavam na Cia Paulista de Estradas de Ferro, Vigorelli,  Sacaria Paulista e Fábrica São Jorge.

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As famílias negras sempre se desenvolveram bem, criaram seus filhos, deram estudos e para diversão criaram também a Escola de Samba do Anhangabaú, campeã de vários Carnavais. Afinal com tanta diversidade era impossível não mexer o esqueleto, dessa gente cheia de jogo de cintura e samba no pé, que afinal ninguém é de ferro.

Não quero competir nem desafiar a internet, porque o que comento aqui, eu vi, vivi e participei. O Google nem existia, então ele não poderá duvidar. Tenho um bairro todo de testemunhas, descendentes que me avaliarão. Poderão até dizer que exagerei. Mas que menti, jamais…(Foto: acervo professor Maurício Ferreira)

LUIZ ALBERTO CARLOS

Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.

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