Não me ARREPENDO de nada

arrependo

A vida é uma tapeçaria tecida com fios de experiências, encontros e desencontros. Cada momento, cada ação, cada palavra proferida e cada silêncio guardado contribuem para a composição do ser que somos hoje. Viver é, em essência, uma jornada de aprendizado contínuo, onde o bem e o mal são faces de uma mesma moeda, ambas necessárias para nossa evolução. Pessoalmente eu não me arrependo de nada: vivi intensamente cada etapa.

Não, nada de nada

Não, eu não lamento nada

Nem o bem que me fizeram, nem o mal

Isso tudo me é igual…

Não me arrependo de nada, nem do bem que me fizeram, nem do mal. Este verso da música bem interpretada por Edith Piaf e, aqui no Brasil, por Maria Bethânia, encapsula uma aceitação profunda e serena do passado. Muitas vezes, somos tentados a olhar para trás com olhos críticos, a julgar nossas ações e as ações dos outros, a lamentar decisões e a desejar que certos eventos nunca tivessem acontecido. Mas o verdadeiro crescimento vem quando aprendemos a ver cada experiência como uma parte necessária do nosso caminho.

Tudo nos leva ao crescimento e, desta forma, lamentar sobre dores e desamores apenas trazem tormentas que não levam à solução ou satisfação: apenas pisam nas marcas que já trituraram nosso coração e nossa mente. Não lamente nada: agradeça o aprendizado e parta para a Vida, tal como ela se apresenta.

O bem que me fizeram, representado por momentos de alegria, apoio e carinho, são os alicerces que me dá força para seguir adiante. São as mãos amigas que ajudam a levantar quando caímos, os sorrisos que aquecem nossos corações nos dias frios e as palavras de encorajamento que nos impulsionam a superar desafios. Esses momentos são preciosos, e devemos guardá-los com gratidão, pois são eles que nos lembram do lado luminoso da vida.

Não, eu não lamento nada

Está pago, varrido, esquecido

Não me importa o passado

Com minhas lembranças

Acendi o fogo

Minhas mágoas, meus prazeres

Não preciso mais deles

Por outro lado, o mal que me fizeram é igualmente significativo. As dores, as decepções, as traições e os momentos de sofrimento são como tempestades que nos moldam e nos fortalecem. Cada adversidade enfrentada é uma oportunidade de crescimento, de aprendizado, de resiliência. Nestes momentos nossa resistência psicológica se aflora e se aperfeiçoa, transformando-nos em pessoas mais lúcidas e mais capacitadas.

São esses momentos que nos ensinam sobre a força interior que possuímos, sobre a importância do perdão, e sobre a capacidade de superação. Ao aceitar o mal que nos fizeram, deixamos de carregar o peso do rancor e da amargura, liberando espaço em nossos corações para a paz e a compaixão. Aprendemos a tirar forças de um lugar desconhecido, mas nós nos superamos e já nos percebemos com alguém dotado de uma força indescritível.

Varridos os meus amores

Com suas empolgações

Varridos para sempre

Recomeço do zero

Ao dizer: ”Tudo isso tanto faz” sugerimos uma indiferença aparente, mas, na verdade, reflete uma compreensão profunda da impermanência e da neutralidade da vida. O bem e o mal são interpretações subjetivas de eventos que, em última análise, são neutros. Cada experiência é uma oportunidade de aprendizado, uma lição a ser assimilada; quando compreendemos que tudo está em constante mudança e que nossa percepção dos eventos é o que determina seu impacto em nossas vidas, alcançamos um estado de equanimidade. Nem o bem nos enaltece, nem o mal nos destrói; ambos simplesmente são.

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E, por ambos serem, com ou sem nosso consentimento, aprendemos as dimensões da finitude e os desafios a que nos submetemos, por estarmos vivos e sermos seres sociais que desenvolvemos nossas dimensões afetivas e socioculturais sem medir esforços nem fazer reservas. Não economizamos nos sentimentos nem nas relações humanas, entregando-nos com vigor.

Está pago, varrido e esquecido. Aqui, encontramos uma resolução: reconhecer que tudo o que aconteceu em nossas vidas já foi vivido, pago com nossas emoções, lágrimas e risos, e que não precisamos carregar o peso do passado. Varrido e esquecido não significa negar ou reprimir, mas sim integrar e liberar, consistindo num convite a viver plenamente no presente, sem as amarras das memórias que nos prendem ao que já foi.

Não, não lamento nada

Pois minha vida

Pois minhas alegrias

Hoje, começam com você

Este poema nos lembra que o caminho para a liberdade emocional passa pela aceitação radical de tudo o que somos e do que vivemos. Cada experiência é uma pincelada na tela da nossa vida, cada pessoa que encontramos deixa sua marca, cada desafio enfrentado nos enriquece. Ao não nos arrependermos de nada, abraçamos a totalidade de nossa existência e nos permitimos seguir em frente com leveza e sabedoria.

É assim que assumimos nosso viver e nossa adequação à Vida, numa perspectiva de gratificante descoberta e de desafios inovadores e construtivos: é um aprendizado constante e edificador em que dores e prazeres se misturam, dando o sabor da Vida, sempre.(Foto: Cottonbro Studio/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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