Sempre gostei de aprender. A curiosidade é natural em mim desde a infância. O que não aprendi ouvindo ou tocando, aprendi pelas descrições das pessoas. Aulas de desenho! Ah, a arte! Impressionismo, Expressionismo, Barroco. Aprendia os conceitos, mas era um conhecimento vazio. Conhecia sem conhecer!
Uma vez, a Pinacoteca de São Paulo divulgou: “Teremos um projeto no qual os deficientes visuais poderão tocar em algumas obras”. Eu e Claudia pulamos juntos das cadeiras onde estávamos. “Vamos!”, dissemos um ao outro. O toque das mãos pode danificar as obras de arte, portanto apenas os deficientes visuais poderiam fazer isso. Claudia observava à distância.
Recebi um aparelho com fone que me contava a história da escultura que eu estava tocando. O metal na ponta de meus dedos. Entre uma peça e outra falava com Claudia:
-Clau, a obra se chama ‘O Homem que Caminha’ e o nome é perfeito! Ele causa toda a impressão de estar caminhando. Não é apenas uma estátua de metal! Como pode? Como pode um artista imitar a vida no ferro duro? Retratou músculos, veias, quase uma alma…
Então veio Moema… Meu ouvido e minha memória me informam ao mesmo tempo:
-Índia apaixonada por navegador português. Atirou-se ao mar para tentar seguir seu navio quando ele voltou para Portugal deixando-a. Eu a vi!!!
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Era como se o mar estivesse trazendo seu corpo de volta e o escultor a estivesse vendo da praia. Suas nádegas se destacavam. Ela boiava de costas para mim. Havia morrido há tão pouco tempo que o artista pudera retratar seu frescor.
A alma índia dela muito mais próxima do puro sentir do que da lógica. Livre, livre para amar. O que você sentiu Moema? Sentiu que poderia alcançar o navio, atravessar o mar? Que teria seu amor ou morreria tentando? Talvez tenha achado que poderia atravessar o oceano. Um artista deu vida ao metal. E eu pude ver os sentimentos com as mãos.(Foto: Cottonbro Studio/Pexels)
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JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA
Formado em Psicologia na Universidade São Francisco (USF) e Psicanálise pelo IPCAMP(Instituto de Psicanálise de Campinas). Atua no AMI (Ambulatório de Moléstias Infecciosas da Prefeitura de Jundiaí) e em consultório particular. É deficiente visual. WhattsApp: (11) 982190402.
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