A primavera traz consigo cor, calor, exuberância, alegria e… espirros. Quando começamos a espirrar por alergia a partículas suspensas, parece que não vamos parar nunca e as pessoas ao nosso redor se desesperam. Tentamos acalmá-las avisando que vai passar logo. Logo após os 500 espirros seguidos. Então, não será surpresa se no momento em que estiver lendo este artigo, você espirar. E se o atchim vier, saúde para você!
Habitualmente, o que causa as alergias de primavera são os pólens. Já, alergênicos como os ácaros do pó, são responsáveis por alergias perenes, ou seja, as que ocorrem com mais frequência e durante o ano todo.
Os sintomas de alergia primaveril ocorrem na época de maior concentração dos polens, frequentemente em meados de setembro, sendo desencadeados, em especial, com tempo quente e seco, além da presença de ventos, alterando significativamente, a qualidade de vida dos doentes alérgicos.
A alergia se manifesta no aparelho respiratório (asma e rinite), nos olhos (conjuntivite) ou na pele (urticária e eczema).Os sintomas são: coriza e congestão nasal, espirros contínuos e frequentes, a falta de ar, além de irritação nos olhos podendo ser confundidos com resfriado, a diferença é que esse incômodo apresenta queda do estado geral e febre, sinalizando infecção. Nestes casos, a recomendação é procurar atendimento médico.
A rinite alérgica é a manifestação mais frequente,acomete em torno de 15% de crianças de até 14 anos e 35% de adultos (Consenso em Rinite de 2014 publicado no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology) no Brasil.
A reação alérgica ocorre porque cada organismo possui um “carimbo” exclusivo que marca as moléculas por eles produzidas, bem como suas células, que as tornam diferentes daquelas de outros organismos. Dessa forma, ganha uma identidade e consegue detectar moléculas estranhas pela ativação de seu sistema imunológico, que produzirá anticorpos para anulá-las.
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Os anticorpos trabalham como soldados e formam um grande exército de proteínas conhecidas como imunoglobulinas. São divididas de acordo com suas características físico-químicas em: IgG, IgA, IgM, IgF, IgD, e IgE. Nas alergias os anticorpos pertencem, principalmente, às classes: IgE, IgM e IgG.
Por algum motivo (sabe-se que há uma coordenação genética por trás disso) o sistema imunológico pode falhar e não cumprir com sua obrigação ou até voltar-se contra o indivíduo, nesse segundo caso, é conhecido como doença autoimune. Isto pode acontecer de duas maneiras: insuficiente (imunodeficiência) ou exagerada em relação a substâncias que, normalmente, são bem toleradas pela maioria das pessoas.
Resumindo, a alergia é uma reação antígeno-anticorpo, embora esta não seja a causa imediata das manifestações (elas são produzidas pela liberação ou ativação de substâncias biológicas) que vão produzir uma série de mudanças na musculatura lisa, nas paredes dos vasos, no sangue e em diversas glândulas que dão como resultado, a sintomatologia própria da reação alérgica.
As alergias são doenças geneticamente determinadas e, dependendo do tipo de exposição que o indivíduo tem no seu meio ambiente, poderá ou não desenvolver o quadro clínico alérgico.
Para prevenção das alergias, o médico alergista Dr. Clóvis Galvão, do Ambulatório da Alergia e Imunologia do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, recomenda limpar o ambiente, principalmente, os quartos, com pano úmido. A remoção da sujidade com vassoura faz com que ácaros, pólen e pelos de animal fiquem suspensos no ar, fatores desencadeantes das crises.
O local também deve ser bem arejado. Já, as roupas que ficaram guardadas por muito tempo no armário, devem ser lavadas ou expostas ao sol. Dos 204 milhões de habitantes no Brasil (IBGE, 2016), aproximadamente, 40 milhões apresentam algum tipo de alergia. E os números continuam crescendo.
É cediço que, desde os primórdios do mundo, muitas pessoas simplesmente não gostam de gatos, por exemplo, então os números podem ser distorcidos, mas mesmo assim, esses números representam uma grande quantidade de pessoas com sistemas hipersensíveis.
Ninguém sabe ao certo o motivo de novas alergias proliferarem. Alguns especialistas culpam os aditivos alimentares, outros apontam as toxinas no ar e, antibióticos bovinos estão em severa suspeição.
É tendência entre alguns pesquisadores, associar as alergias com a falta de imunidade naturalmente provocada por pais superprotetores que não hesitam em expor seus filhos a nada que não seja estéril. A última teoria é apoiada pelo fato de que crianças que crescem em áreas rurais com vários animais de estimação e brincam ao ar livre, geralmente, têm menos alergias aos pelos de animais e pólen. Então vale uma certa dose de vitamina S (sujeira) para que nossos pequenos cresçam saudáveis e com o sistema imunológico suficientemente desafiado.
Ao pesquisar sobre alergias, deparei-me com algumas especialmente interessantes. Quer conhecer algumas? Lá vai.Aparentemente, a britânica Rachel Warwick tem uma alergia pra lá de esquisita. Basta beber água para que, queimaduras, coceiras e vermelhidão lhe acometam. Até um banho pode causar grandes transtornos. Sinais típicos de alergia. Gostaria que houvesse uma explicação melhor, afinal a água faz parte do corpo e, teoricamente, não poderia ser considerada como um agente alergênico.
Alergia às roupas íntimas poderia resolver o problema de muita gente que as detesta. Um número significativo de pessoas é sensível à borracha e látex. Os produtos químicos usados para produzir tecidos com lycra e nylon, também podem representar incômodo. Desde que estes elementos variam muito de produto para produto, a solução mais fácil é buscar tecidos naturais puros em suas roupas íntimas.
Tomar sol é para muitos uma fonte de prazer, para outros apenas uma fonte incômoda de coceiras. Incluo-me no segundo grupo. Pessoas de pele clara, que já possuem algum tipo de alergia, ou está em tratamento de pele (para acne ou manchas) possuem uma intolerância que varia, enormemente, de grau à exposição solar. Especialmente, à ação dos raios UVA, capazes de atingir as camadas mais profundas da derme.
Penso ser desagradável ao extremo, suar e ficar fedendo gambá, agora, imagine ser alérgico ao seu suor. Além de permanecer fedido, ficará se coçando após a realização de exercícios. Aparentemente, o consumo de alimentos picantes pode aumentar o problema.
Agora pasme! Há mulheres que possuem alergia a sêmen. Relações desprotegidas podem causar um verdadeiro tormento em suas vidas. Tudo indica que a mucosa vaginal reage, negativamente, às proteínas presentes no sêmen provocando: coceira, inflamações, dor e outras coisinhas desagradáveis.
Já ouviu falar sobre alergia alimentar, certo? Mas e alergia a qualquer tipo de alimento? Pois é, aqui vai uma história triste: em 2009, os irmãos João Vithor e Nicole Lourenço, de Goiânia (GO), viraram notícia por portarem uma doença rara chamada “Alergia Alimentar Múltipla”. Eles só podiam ingerir carne de rã e um tipo especial de leite, cuja lata, à época, custava R$ 450,00. Devido a complicações em seu frágil sistema imunológico, o menino faleceu em 2013, aos 8 anos de idade.
Alergia a bijuterias é relativamente comum entre as mulheres, correto? Pois é, estas pessoas também correm risco maior de ter alergia ao níquel presente nas capas de celulares, então, caso comece a se coçar depois de fofocar por horas ao telefone móvel, não culpe as ondas de transmissão, provavelmente, você tem dermatite de contato. Isso ocorre, igualmente, ao manusear moedas, pois, todas possuem níquel em sua composição.
E quando você decide ser carpinteiro e logo após de abrir seu negócio começa a se coçar como um urso pardo? Foi o que aconteceu com o britânico Dan Hill. Após muita investigação, descobriu ser supersensível apenas a um tipo específico de madeira, o carvalho africano. Eliminada essa madeira, pôde continuar se dedicando a criar móveis. E assim pode ocorrer com outros tipos de madeiras.
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Essa é pra lá de esquisita: alergia à placenta. Conhecida como penfigoide gestacional, esse desconforto provoca erupções cutâneas, coceira e bolhas em mulheres grávidas ou que acabaram de dar à luz. Não é uma “alergia ao próprio filho”, como às vezes é classificada, considerando que a reação é disparada por uma proteína da placenta que chega ao corpo da mãe pelo cordão umbilical, eliminando a possibilidade do bebê ser o causador dessa anomalia.
Já ouviu falar em dermografismo? Apenas 4% da população possui esse tipo de alergia. Significa, literalmente, escrita da pele que, apesar de intrigante, não é agradável. Os acometidos conseguem escrever em suas peles com a unha e a escrita, rapidamente, irrompe em uma urticária irritadiça. As roupas que colam pelo corpo ou até um simples chuveiro quente pode desencadear a alergia.
Finalmente, uma razão médica para evitar a ginástica! Alergia ao exercício físico. Ela existe, pode acreditar! Os sintomas variam de urticária a anafilaxia, uma condição de risco onde a pressão arterial cai, repentinamente, e a respiração se torna difícil. Para estar seguro e saudável, apenas cancele a ginástica.
Após essa sequência de alergias estranhas, podemos concluir que, ao surgir qualquer sintoma esquisito, procure prestar atenção às respostas de seu corpo, pois, o profissional que o ajudará estará atento ao seu relato para encontrar uma forma de amenizar o problema, visto que, alergia não tem cura, mas é possível de ser controlada. Elimine, de uma vez, a filosofia: Trair – espirrar – e coçar é só começar. (Imagem acima: Lydia Bourouiba/The New England Journal of Medicine © 2016 – extraído de www.vix.com)
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora
