Para quem não sabe, João Bafo de Onça é o maior inimigo do Mickey e, inicialmente representado por um urso, transformou-se em gato, após a invenção do camundongo por Walt Disney, mas sua aparência não mudou tanto quanto o nome: em inglês de Big Bad Pete para Black Pete e apenas Pete. No Brasil, não há registros (ao menos públicos) de quem foi o responsável pelo nome em português, mas, João Bafo de Onça veio logo após o “Pete Perna de Pau” e, desde então, vem se mantendo através dos tempos. A relação do personagem felino com o bafo, ou seja, o mau hálito, não faço a mínima ideia, restando a hipótese que, o dito popular relaciona-se com o animal selvagem mesmo.
Levante a mão quem acorda com hálito de flores do campo. Humm. Ninguém? Claro que não! Durante o período noturno ocorre uma diminuição na produção de saliva que, aliada ao jejum, acarreta o odor bucal desagradável, mas, tende a melhorar após a refeição matinal.
Diferentemente dessa situação específica, a halitose é o mau hálito a qualquer hora do dia e, o seu portador, acostuma-se com o forte odor, pois, as células receptoras do olfato, quando constantemente estimuladas, adaptam-se e deixam de processar os odores, sendo desagradáveis ou não.
Experimente entrar em uma churrascaria. Assim que entrar, o cheiro típico sensibilizará seu olfato e as glândulas salivares provocarão: (o famoso “encher a boca d’água”). Após algum tempo, essa sensação se dissipa e você só voltará a senti-la novamente, caso saia do estabelecimento, permanecendo alguns minutos distante para depois retornar.
Assim, também, funciona para a halitose (mau hálito). Só percebe quem se aproxima.
De acordo com a Associação Brasileira de Pesquisas dos Odores Bucais, quatro em cada 10 pessoas sofrem desse problema e, entre 90 a 95% dos casos, o transtorno vem da cavidade bucal, sem sombras de dúvidas.
Pois bem, apesar de alguns alimentos colaborarem para o mau hálito, há, aproximadamente, 40 causas que o justificam e todas elas são influenciadas pela saúde bucal.
Alimentos muito temperados ou de odor forte podem ser responsáveis, considerando o fato de sua fermentação produzir subprodutos, que resultam na liberação do gás sulfeto de hidrogênio (aquele presente em ovos podres) e que pode se agravar se ficar preso entre os dentes. As bactérias que ali se desenvolvem, produzem a saburra lingual (um muco esbranquiçado sobre a língua) e placa bacteriana, outros fatores que lideram os desajustes bucais agravantes da halitose.
Adicione-se à lista: boca seca, consumo de alguns medicamentos, dietas restritivas e o hábito de fumar, como propagadores de mau hálito. Algumas doenças como diabetes, problemas renais ou hepáticos e prisão de ventre colaboram com o desagradável odor.
A halitose, por si só, não acarreta prejuízos à saúde do indivíduo, o que ocorre, na maior parte dos casos, é uma desordem psicossocial. O portador que tem consciência de seu problema, evita conversar, se aproximar e até mesmo sorrir próximo a alguém. Isso o afasta da convivência social e acaba por gerar problemas nos âmbitos social, profissional e amoroso.
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O surgimento dessa desagradável ocorrência deve ser investigado, para excluir a possibilidade de causas fisiológicas do mau hálito, secundária a outras doenças ou problemas na cavidade oral como: má higienização, gengivites, periodontites, além de saburra lingual.
Considerando que o profissional com maior experiência nesses casos seja o dentista emediante exame detalhado das condições da cavidade bucal, se ele não encontrar motivos para o desarranjo, necessáriose faz o encaminhamento para análises mais aprofundadas e específicas das possíveis causas que provocam a halitose.
O Instituto do Hálito (www.institutodohalito.com) trata exatamente dessas questões. Na clínica, o paciente passa por uma anamnese completa, faz coleta de amostras de hálito, bactérias e saliva para análise.
Profissionais gabaritados explicam que o hálito humano pode conter mais de 3000 compostos diferentes, produzidos em distintas partes do organismo, tais como: boca, nariz, garganta, pulmões, fígado, rins, dentre outros. A análise do hálito (através da cromatografia gasosa) permite identificar os gases fétidos através do seu peso molecular (exemplo: o gás metilmercaptano indica a presença de periodontite).
Em algumas situações é necessário realizar dois exames adicionais: microbiologia e análise bioquímica da saliva. De posse dos resultados, define-se, facilmente, o rumo do tratamento. Segundo o Instituto, 97% dos casos de halitose alcançam a cura. Não se deixe engar: sempre (em qualquer situação, para qualquer que seja o problema) desconfie de tratamentos milagrosos ou rápidos para a cura de algum problema de saúde.
NÃO EXISTE MILAGRE NEM ATALHOS.
Remédios naturais e/ou caseiros produzem benefício momentâneo (se muito!) para a halitose. Recorrer a chás, cápsulas, alimentos com odor agradável, chiclete, balas, tem efeito paliativo que duram poucos minutos.Geralmente, funcionam através de dois mecanismos: um efeito antimicrobiano potencial se a causa é bucal (chá verde e o ginseng vermelho da Coreia) ou através da captura/neutralização de compostos de mau odor (polifenóis e enzimas como as polifenoloxidases e as peroxidases) existentes em alguns tipos de cogumelos, chá verde, frutas cruas (maçã, ameixa, kiwi), ervas (manjericão e salsa) e vegetais (beringela, yam).
As crianças podem apresentar halitose pelos mesmos motivos que agridem os adultos, embora, com maior frequência, a causa seja de origem otorrinolaringológica, a saber: hipertrofia das adenoides, amígdalas, fenômenos de obstrução nasal, dentre outras.
Prevenir é difícil, principalmente, se a origem da halitose for patológica, porém, se for fisiológica, aqui vão algumas dicas:
– comer a cada quatro horas;
– evitar comida condimentada;
– evitar o álcool e café;
– evitar o tabaco;
– evitar as dietas hiperproteicas, as hipocalóricas e os alimentos ricos em gordura;
– beber 1,5 litros de água ao dia e, ;
– realizar três procedimentos diários de higiene oral (fio/fita dental e limpeza da língua).
Se mesmo assim, em algum momento, for parado por uma blitz para o teste do bafômetro e acusar “peido” no aparelho, recorra a um especialista.
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.