Você já percebeu quantos barulhos estranhos nossos corpos produzem? Sabe aquele ruído similar à uma comunidade inteira de ETs que parecem morar em sua barriga e que, quando se juntam, são capazes de acordar até mesmo os mortos?
Ou aquele barulho de sinal de ocupado de telefone que seu ouvido insiste em fazer na descida da serra?
Pois bem, são esses. Alguns desses barulhos estranhos são inofensivos, mas outros são sinais importantes, que merecem um pouco mais de atenção, principalmente quando frequentes e/ou associados a algum desconforto.
O nosso corpo, assim como uma orquestra, age e reage de acordo com sinais advindo de fora (alimentação, exercícios, clima, experiências…) e de dentro (hormônios, neurotransmissores…) do próprio organismo. E assim como um instrumento fora de compasso ou desafinado, atrai atenção pela dissonância do conjunto.
Já que o primeiro exemplo foram as trovoadas na barriga, começarei por elas. São mais frequentes durante um tempo de jejum, pois o peristaltismo (movimento involuntário do intestino que empurra o alimento na direção boca-ânus) continua mesmo sem nos alimentarmos. Com a luz intestinal repleta de bolhas de ar e líquidos, esse movimento provoca um barulho, por vezes assustador, pela falta de alimentos para abafar o eco. Ponto para nós gordinhos: mais comuns em pessoas magras pela falta de isolamento acústico da gordura.
Nada a temer, assim como a flatulência (eliminação de gases, mais conhecida como “pum”). Ambas podem ser mais ou menos audíveis de acordo com a alimentação, mas se sua causa for um incômodo chamado Doença Inflamatória Intestinal, deverá ser investigada melhor, pois causará imenso desconforto abdominal.
Outro parente desses dois barulhos estranhos é a eructação. Nome bonito para o conhecido “arroto”. Primo da flatulência é o gás expelido no sentido contrário àquele: pela boca. Proveniente do ar ingerido junto com a alimentação pode ser confundido com o pseudoarroto: liberação de gases do estômago, que pode ou não estar acompanhado de um pouco de comida. Nesse caso, um alerta de refluxo, gastrite ou outro problema.
Já a tosse, é um movimento importante de defesa do nosso sistema respiratório. Tudo o que entrar pelas narinas e for estranho ao organismo, terá como reação a tosse. Mais importante que o fato de ser seca ou produtiva, merecerá investigação se a frequência for alta.
Odeio soluço. Ele é um incômodo detestável. Tente terminar uma frase com soluço. Impossível! Minha avó dizia que toda que vez que comia um alimento muito seco, provocava soluço nela. Eu ria e explicava: “Vovó querida, o soluço é uma contração involuntária do músculo diafragma que controla a respiração”. Ela me olhava com olhar assassino, mas deixava o assunto morrer soluçando.
Hoje eu como farofa e tenho soluço. E um soluço definitivamente é um dos barulhos estranhos que o corpo faz…
As justificativas para esse incômodo são tantas quanto para câimbras, mas uma situação rara pode tornar o soluço muito perigoso, o estímulo exagerado dos neurônios que controlam as atividades do diafragma, o tornam crônico, necessitando de intervenção medicamentosa, ou instalação de um marca passo local, para alívio do soluçante.
Um barulho que NUNCA deve ser ignorado é o chiado no peito. Crianças ou adultos chiadores são assustadores. Não por causa do barulho, mas pela falta de ar que eles têm. Parece contagiante. Fique próximo a alguém com falta de ar e também terá.
O sibilo pulmonar, provocado por contrações arrítmicas dos brônquios pulmonares, indica respiração difícil. Essa situação deve ser avaliada rapidamente por um médico, pois algo (infecções, medicamentos, poluição, pó, entre outros) está restringindo a circulação de ar nos pulmões.
“Não estou velha, estou crocante” li no Facebook há alguns anos. Não precisa estar velha para estalar, mas com a idade estalamos mais, isso é verdade! O estalido característico das articulações é o reflexo do deslizamento dos tendões sobre uma protuberância óssea. Quando em baixa frequência, aqui ou ali, está tudo certo, mas frequentemente numa mesma articulação, indica atrito entre cartilagem e osso, provocado por irregularidades nesses tecidos, aí ganha o nome de crepitação e deve ser analisado para evitar futura artrose, que dificultará a movimentação do indivíduo.
O que só você ouve?
Uma voz do além?
Não! Um zumbido irritante, que não dá para ser ignorado e não tem cura! Parece que uma cigarra mudou-se para dentro da sua cabeça.
Zumbidos temporários têm mais de 200 causas, mas algumas delas são preocupantes e podem torna-los definitivos, como o diabetes, hipertensão e distúrbios da tireoide. NUNCA ignore um zumbido.
Alguém já ouviu um ranger de dentes? Isso sim parece assombração! É um barulho que mistura arrastar de pedaços de madeira com bater de fechadura e estilhaçar de vidros, que não por acaso, recebe o nome de “bruxismo”. Não está completamente esclarecido o porquê de apertarmos (ou esfregarmos) o maxilar a ponto de fazer tanto barulho. Sabe-se que pode ser esporádico (dias agitados), durante o dia (crianças e adultos o fazem involuntariamente) ou crônico (quase todas as noites/dias).
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Esse distúrbio deve ser tratado, pois além de afetar a saúde dos dentes também afeta a qualidade do sono. O fato é: tem tratamento e pessoas ansiosas são mais afetadas.
Ser ansioso é muito ruim. Todos esses distúrbios citados acima são mais frequentes em pessoas ansiosas, então podemos concluir que pessoas ansiosas são barulhentas.
William Cowper disse: “Um homem barulhento sempre tem razão”. Estendendo ao corpo humano, eu diria que esta afirmação está correta. Precisamos controlar a ansiedade e parar para prestar atenção aos sons do nosso corpo. Eles dizem muito a nosso respeito.(Ilustração: biosom.com.br)
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.