BAÚ DE SURPRESAS

baú

A amiga da moça, do baú de surpresas, aguardava com ansiedade a chegada da bebê da amiga. Resolveu montar um baú com presentinhos para a pequena, de chocalho a boneca. As bonecas eram uma série. Comprou todas. Havia brinquedos que até não eram para bebê, como jogos de raciocínio. Aproveitaria mais tarde.

Os bichinhos de pelúcia eram um mais bonito que o outro. Uma coleção de zoológico. Isso sem dizer dos enfeites para cabelo.

Maiorzinha, a menina se encantava com seu baú colorido, onde os anos foram acrescentando brinquedos outros. Havia massinha, aquarela, fantoche, peteca, pulseiras coloridas, giz de cera, livrinhos para pintar…

Criança ainda, o meio lhe impôs o celular. Tornou-se ele o seu baú de surpresas.

A mãe agarrava-se com ele no anoitecer. Conversava com gente diferente. Dizia de suas vantagens. A menina observava tudo.

Imaginou que o celular da mãe era o baú dela de surpresas. Aproveitou um dia em que a mãe não estava por perto para olhar. Estranhou o que viu, mas se estava no aparelho da mãe, deveria ser normal para gente adulta. Em lugar de chocar-se, aguçou a sua curiosidade. Ela, vendo essas coisas, se tornaria adulta em pouco tempo, concluiu. Antes de chegar aos 10 anos, deixou de acessar o baú de sua infância e passou também a acessar conteúdos pornográficos. Celulares, tablets, computadores… Páginas na internet, redes sociais e plataformas de streaming… Tudo à disposição para que ela montasse sua caixa de novidades para brincar.

Buscou crianças de sua idade para mostrar o que via através dos meios digitais e, também, reproduzir com um ou outro. Perigo à vista.

Diversos estudos já comprovaram os danos que a exposição à pornografia pode provocar ao cérebro humano quando adulto, imagine no cérebro infantil. Os efeitos da pornografia no cérebro acontecem da mesma maneira que os efeitos das drogas: provocam vício, dependência e necessidade de experimentar sensações cada vez mais fortes, uma vez que o cérebro se acostuma a um determinado tipo de estímulo.

Segundo a Unicef, “a exposição de crianças e jovens, cuja identidade está em desenvolvimento, à pornografia pode levar a problemas de saúde mental, sexismo e objetificação, violência sexual e outros resultados negativos”.

No dia em que o baú de sua infância estava na calçada para o cata treco, a menina chegou em casa assustada às 23hs.(Artigo originalmente publicado em 6/9/23 – Foto: Submarino)

MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

É professora e cronista

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES