BERLINALE 2025 reflete sucesso do cinema brasileiro

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Treze filmes brasileiros estão participando da 75ª Edição do Festival de Cinema de Berlim, também conhecido como Berlinale, que começou dia 13 e termina dia 23 deste mês. São oito longas, dois com participação especial como o clássico de 1975  “Iracema, uma transa amazônica”, de Jorge Bodanzky e “Muito Romântico”, de Melissa Dullius e Gustavo Jahn, filme já premiado há nove anos e será exibido em sessão especial na sexta-feira(21), no Forum Expanded que exibe normalmente filmes alternativos e está comemorando vinte anos.

O Brasil tem a chance do Urso de Ouro, o principal prêmio do Festival, já que está participando novamente da Competição oficial com o longa “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro. O filme tem Tereza como personagem principal Tereza, vivida pela atriz Denise Weinberg. Aos 77 anos ela é obrigada a se aposentar e será mandada para uma “colônia de idosos” pelo governo brasileiro.

Cheia de sonhos e curiosa pela vida, ela se recusa e foge, encontrando vários novos desafios inclusive um barqueiro que a leva pelas águas dos rios atrás do seus sonhos, o personagem de Rodrigo Santoro(foto principal). Ele também mostra à Tereza o curioso “caracol da baba azul”, um “bichinho” que permite ver o futuro quando tem sua baba “pingada” no olho. De forma divertida e com cenas lindas e diferenciadas da Floresta Amazônica, conta com diversos artistas amazonenses e tem sido muito aplaudido nas salas berlinenses, se tornando um dos favoritos para o prêmio da Berlinale.

Mas as chances de premiação estão também em outras sessões como na Panorama, na qual o público escolhe o melhor projeto. Lá, o Brasil marca presença com “Ato Noturno”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher(acima). Em 119 minutos conhecemos atores de teatro que sonham em fazer carreira. Um deles se envolve sem querer com um político que é candidato à prefeitura. Intriga, sexo, poder e cobiça são alguns elementos que os atores Gabriel Faryas, Cirillo Luna, Henrique Barreira, Ivo Müller e Kaya Rodrigues encenam na tela.

Nos Curtas (Shorts) também temos uma coprodução de Cuba, Brasil e Haiti. No time, a mistura das nacionalidades e crenças foi comentada também na apresentação ao público, quando explicaram que o nome “Anba Dlo” tem origem no voduísmo e significa a ligação da vida e morte com a água. A direção é de Luiza Calagina e Rosa Caldeira, a equipe toda se conheceu em Cuba durante um curso de cinema.

São Paulo é um dos focos do longa “A Melhor Mãe do Mundo”. De Anna Muylaert e na seção Berlinale Special, mostra uma mãe que carrega e vende lixo reciclável numa carreta pelas ruas da capital para conseguir alimentar seus filhos, Rihanna Barbosa e Benin Ayo. Para fugir da violência do atual parceiro (personagem de Seu Jorge), Gal, interpretada por Shirley Cruz, vive diversas aventuras e obstáculos como se fosse uma aventura para não assustar as crianças. Até Chico César aparece num momento no final do filme como “ponta”. “Ele é amigo da diretora e concordou em participar”, comentou a atriz. 

“Cartas do Absurdo” (em Tupi, 46 minutos, de Gabraz Sanna) e “Zizi (ou a oração de jaca fabulosa)” de Felipe Bragança, 29 minutos, são produções exibidas também no Forum Expanded, em muitos momentos quase monólogos e filosóficos, forçando o público a uma reflexão além das cenas para interpretar a intenção dos produtores.

Geração futura – O Brasil marcou presença na Berlinale principalmente na seção Generation, que visa crianças e adolescentes. Cinco obras estão sendo exibidas (e concorrendo a prêmios), quase todas para adolescentes (14+).  “De menor” é uma série que tematiza casos tratados na justiça pela Vara da Adolescência e Juventude como porte de drogas e outros delitos, falando também da corrupção policial e mostrando atores que mudam de papel de acordo com o caso e interagem com o público. De Caru Alves de Souza, dois capítulos somando quase setenta minutos foram mostrados nas telas berlinenses. “Para mostrar a série inteira não dá, fica muito longo”, contou a diretora na recepção da Embaixada Brasileira. Ou seja, é para dar um “gostinho de quero mais”. 

Já “Hora do Recreio” foi filmado no Rio de Janeiro com ajuda de alunos numa escola dentro de uma comunidade. Temas como racismo, violência e tráfico de drogas são colocados pelos jovens em diversos momentos do documentário. A diretora Lucia Murat retrata em 83 minutos parte da realidade da comunidade, professores e estudantes.

Nos Curtas do Generation também temos “Arame Farpado”, uma ficção gravada no interior de São Paulo sob direção de Gustavo de Carvalho. Em vinte e dois minutos o roteiro desenvolve a dinâmica de uma família que mora em um sítio e as consequências do ato de uma das adolescentes que, ao colocar arame farpado numa cerca para atingir o pneu do padrasto acaba causando o acidente da mulher do pastor local e a cega. A reação da família e da comunidade fazem parte do enredo. 

Já “Atardecer en América” é uma coprodução de 19 minutos entre Brasil, Chile e Colômbia, falado em espanhol e tematiza, em forma de documentário, famílias que tentam se refugiar em outros lugares por questões políticas, sociais e afins. O principal diretor é Matias Rojas Valencia.

Muito aplaudido e comentado está sendo o longa “A Natureza das Coisas Invisíveis”, o único que é voltado também para crianças abaixo de 14 anos e trata, em 90 minutos, principalmente do tema morte. “É um tabu em várias culturas, também no Brasil e é importante falar porque faz parte da vida. As crianças são mais sensíveis e inteligentes do que pensamos, não podemos subestimá-las”, disse uma das produtoras na abertura do filme. As atrizes mirins Laura Brandão e Serena(ao lado) fizeram sucesso na tela e fora dela, encantando o público com sua eloquência e desenvoltura. O filme também é uma coprodução Brasil e Chile, mas assinado principalmente por Rafaela Camelo.   

Neva sem parar – Desde o início do Festival, dia 13, Berlim está coberta de neve e variando a temperatura entre 0 e menos 10 graus. Para o encanto de muitos brasileiros. Por outro lado, muitos comentaram também não saberem se comportar direito com as roupas que devem vestir ou mesmo estarem caindo por não diferenciar quando o gelo vira “pista de patinação”. Para o fim de semana, no entanto, a previsão é de esquentar, nada ainda que prometa derreter o gelo acumulado.

Efeito “Oscar” – Ainda não sabemos como será a premiação desta Berlinale, mas o clima “já ganhou” é presente em quase todos os comentários. O fato de estarmos nomeados para o Oscar com “Ainda Estou Aqui” e com uma participação tão significativa neste Festival de Berlim evidencia os esforços dos últimos anos no cinema brasileiro e atrai novos investidores, quase que um efeito cascata. Com ou sem Urso de Ouro, o Brasil já é um dos grandes vencedores deste ano.

Veja a lista dos filmes brasileiros desta Berlinale e suas devidas seções (75ª Edição do Festival de Cinema de Berlim  de 13 a 23 de fevereiro) :

“O Último Azul” (Competição)

– “Ato Noturno” (Panorama)

– “Anba Dlo” (Berlinale Shorts II)

– “Muito Romântico” (Forum Expanded sessão única e especial de comemoração dos 20 anos)

– “Cartas do Absurdo” (Forum Expanded – Programa 7)

– “Zizi (ou a oração da jaca fabulosa)” (Forum Expanded – Programa 4)

-“Iracema” (Forum Special)

– “Arame Farpado” (Generation 14+)

– “Atardecer en America” (Generation 14+ coprodução)

– “De menor” (Generation 14+)

– “Hora do Recreio” (Generation 14+)

– “A natureza das coisas invisíveis” (Generation K Plus coprodução)

-“A melhor mãe do mundo “ – (Berlinale Special)

SANDRA MEZZALIRA GOMES

Jornalista jundiaiense em cobertura especial para o Jundiaí Agora. Mora na Alemanha há duas décadas

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