BORBOLETAS E LÍRIOSNo final de uma viela do núcleo de submoradias do Parque Centenário, em Jundiaí, mora Silvana Barbosa Pereira e seu filho Brian Adrian, de 14 anos. O lugar tem um ar de abandono. A ligação de Silvana com o mundo é feita através das vizinhas. São elas que recebem notícias vindas de longe, pelo celular, e as repassam para a mulher que na década de 90 teve quatro filhas retiradas pela Justiça de Jundiaí. “Elas foram tiradas de dentro da minha casa”, relembra Silvana. As crianças foram adotadas por um casal de italianos. Há dois anos, duas das filhas voltaram ao Brasil e se encontraram com a mãe biológica. Foi quando perceberam que os laços de sangue provocam coincidências incríveis: após a adoção, Silvana tatuou quatro borboletas que representam cada uma das filhas. Já as jovens tatuaram dois lírios. Um para a mãe italiana e outro para a mãe brasileira.

A própria Silvana, assim como o lugar onde vive, aparenta um certo descuido. A amiga alerta que a dona da casa não deixaria a reportagem entrar. Ao ser chamada, levantou-se de supetão e apesar do frio, não se agasalha. Parece nem senti-lo. Vai para a rua contar a história que é a mesma de dezenas de outras mulheres. A diferença é que a vida deu um final feliz para a separação. Para Silvana iniciar a narrativa leva uns 10 minutos. Não parece estar ali. “É que eu tomei remédio para dormir”, justifica.

BORBOLETAS E LÍRIOS

O Circolo Italiano foi o local para o reencontro parcial (veja vídeo). O dia, 27 de fevereiro de 2015. Márcia e Amanda Angeli reviram a mãe e o passado veio à tona. A primeira tinha cinco anos quando foi levada para a Itália. A irmã, quatro. Suelen, que na época tinha três anos, e Franciele, 11 meses, não vieram para Jundiaí. E, ao que parece, não mantém nenhum contato com a mãe biológica, acusada pela Justiça de maus tratos. “Alegaram que eu não tinha condições financeiras para cuidar delas”, explica Silvana. Assim como a maioria das mães que tiveram os filhos retirados pela Justiça, Silvana juntou-se ao Movimento das Mães da Praça do Fórum. De nada adiantou. Enquanto isso, do outro lado do oceano Atlântico, As meninas recebiam o sobrenome Angeli, deixando para trás a herança da família, mais brasileira impossível: ‘Pereira da Silveira’.

Busca – Amanda namorava um especialista em computadores. Curiosos, passaram a procurar Silvana na internet. Ele começou a cruzar informações até que localizou Silvana, cadastrada num programa do Governo Federal, o Bolsa Família, e ainda morando em Jundiaí. A partir daí, as irmãs mais velhas planejaram a volta ao Brasil. E o primeiro contato foi feito também pela internet, com o Circolo Italiano. A busca por Silvana não levou muito tempo e o reencontro foi agendado.


LEIA A REPORTAGEM PUBLICADA NO SITE DO CIRCOLO ITALIANO DE JUNDIAÍ


No dia 27 de fevereiro de 2015, no Circolo, Silvana disse que sempre teve esperança de revê-las. “Depois que elas foram embora da minha vida, fiquei doente. Ia para a igreja, acendia velas, rezava e, às vezes, deixava de acreditar que poderíamos nos ver novamente.” Ela também contou que não tem condições de trabalhar e depende do Bolsa Família. “Os meus irmãos me ajudam, mas nossa situação é bem difícil”, disse ela na reportagem publicada no site do Circolo Italiano. Quanto à ajuda das filhas, Silvana explica que elas colaboram como podem. “Minhas meninas têm de cuidar das próprias famílias. Eu já tenho cinco netos”, afirma. Já as filhas de Silvana nem imaginavam que tinham um irmãozinho. Ao que tudo indica, um novo reencontro não está na agenda de Silvana nem das filhas. “Só o tempo dirá”, concluiu.

Na ItáliaO Jundiaí Agora – JA – tentou contato com uma das filhas através das redes sociais. Ela não deu retorno. Na publicação do Circolo Italiano, Márcia Angeli contou que sempre sentiu um “vazio” em sua vida, pois, por ser a mais velha das quatro irmãs, com seis anos,  já era capaz de entender o que a separação significava.

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“Nossos pais italianos sempre nos incentivaram a conhecer nossa origem”, lembra Márcia. “Minha mãe, Mariela, falava que nossa mãe brasileira tinha nos dado de presente para ela para que tivéssemos uma vida melhor, com mais oportunidades.” E assim aconteceu. Em 2015, Márcia era casada, e tinha apenas um filho. Trabalhava em um lar para idosos. Já Amanda era solteira e atuava como esteticista. A reportagem do Circolo não dá detalhes sobre a vida das outras irmãs. Como nenhuma delas deu retorno, não foi possível checar como estão hoje. O texto do Circolo Italiano prossegue: “Os pais italianos, da família Angeli, ajudaram as filhas a virem para o Brasil”. Em 2015, as irmãs planejavam levar Silvana e o irmão mais novo para a Itália. Isto ainda não aconteceu. (fotos: Circolo Italiano de Jundiaí/vídeo: TVE Jundiaí)


 

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