Nós, população LGBTQIAPN+, encerramos 2023 com a brutal realidade que nos persegue, o assassinato de nossos corpos, historicamente vulneráveis, descartáveis. Por que temos medo de ser quem somos? Não podemos ignorar o lesbocídio de Ana Caroline Sousa Câmpelo, no último dia 10, em Maranhãonzinho(MA). Para você que está lendo esse texto, aproveitando o clima das festas, das ceias, das celebrações e dos presentes, quero que responda para si mesmo: Os LGBTQIAPN+ estão participando das comemorações da sua família?
Me pego pensando, quando que esquecemos (ou não aprendemos) o que o brilhante ator José Celso Martinez Correa dizia: “O amor é grande demais para ser julgado por nós seres humanos”. Mas já respondo. É o modelo de país neoliberal e patriarcal que se aproveita de todas as crises para atacar nossos corpos e invisibilizar nossas conquistas. Estamos sendo nacionalmente perseguidas, perseguides neste ano sobre nosso direito humano e histórico ao casamento.
Em Jundiaí, a Câmara Municipal marcada pela ignorância, o retrocesso e intolerâncias, aprovou o Dia da Família, projeto inconstitucional que foi derrubado. Aproveito para saudar todas, todos e todes que bravamente subiram a tribuna livre para defender e dar voz a nossa comunidade. E em 2024 comunico que teremos Educatrans, um cursinho popular voltado para a população travesti, transgênero e transsexual com nível médio e para acesso ao vestibular. Pessoas organizadas nos movimentos sociais lutam para que a cidade seja digna para todo mundo que aqui mora. E uma dessas pessoas que nos representa, é o engenheiro Renato Nastaro, que efetivamente trabalha para diminuir a fome de comida, fome de diploma e fome oportunidades de emprego dessa cidade tão desigual.
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É claro que também considero importante a autorização do Papa Francisco para que outros padres abençoem casais e pessoas da nossa população. Nossa comunidade só quer ter o direito de existir e não de sobreviver na marginalidade. Nós não atacamos nenhuma família e nenhum direito. O que ataca as famílias é o alimento caro e cheio de agrotóxico, a crise hídrica e falta de saneamento básico. É a falta de vaga na creche, é a demora para consulta na UBS, é a falta de educadoras para crianças atípicas, é o ônibus caro e lotado, a violência doméstica ataca a família profundamente. Neste ano, quase que não passamos três horas sem uma notícia de violência contra a mulher em Jundiaí.
Finalizo dizendo que o amor entre mulheres incomoda porque a sociedade odeia as mulheres. E nós, em 2024, seguiremos em marcha e ocupando todos os espaços para que o pôr do sol de Jundiaí seja de todas, todas e todes.
Em tempos de Natal é a oportunidade de acolher seu filho, neto e sobrinho LGBTQIAPN+. Luana Barbosa, presente! Ana Caroline de Sousa Câmpelo, presente! (In Memorian de todas as mulheres vítimas da brutal realidade, da violência e feminicídio em 2023). Foto: Anna Shvets/Pexels

PALOMA SOARES
É servidora pública, P.L.P., ativista LGBT e Somos Todas Professoras
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