Não tenho dúvidas de que a Vida é uma escola e de que estamos de passagem para aprender (resgatar) propostas melhores e mais adequadas ao contexto onde nos desenvolvemos e que nos possibilita relacionamentos e escolhas. Entretanto o que me deixa intrigado é se cada cabeça significa uma sentença ou cada escolha perfoma uma sentença. Sim, porque temos as cabeças ocas, não pensantes ou desmioladas que não se atinam por nada, nem ninguém. Cumprem o ritual: acorda, levanta, faz a rotina, dorme e torna a acordar, sem reflexão sobre seus atos nem sobre suas escolhas, tão pouco sobre aquilo que as atingem: apenas cumprem o tempo de vida na terra.
Para estes, nada faz sentido nem nada importa. Vivem num mundo a parte, desconectado do real social e seus problemas são sérios enquanto os problemas da humanidade são ou desconhecidos ou desnecessários. Orbitam numa rota estranha e a parte do Mundo: empatia é algo desconhecido, no verdadeiro sentido da palavra. Ou empatia só vale para eles.
O outro grupo é composto pelos catastróficos: tudo tem valor superlativo; sendo assim, qualquer situação é um tsunami e a solução ou o controle de pressão é algo inexistente em seu esquema de vida. Passam o dia a sofrer por algo que nem sempre existe, mas a ameaça é real, em suas cabeças. Sofrem pelo que está acontecendo e sofrem, também, pelo que pensam que irá acontecer. Antecipam o amanhã e não conseguem, viver bem o hoje.
Claro é que temos os moderados, que trabalham bem com as propostas mais suaves e buscam alternativas para as propostas inadequadas. Não são tipos raros, apesar de ser menos visível e menos expressivo. Buscam viver suas vidas nos seus ritmos e suas indagações. Não são entendidos como normais, visto o fato de que a normalidade não se aplica na análise, mas representam aquilo que temos de mais estável, do ponto de vista de fluxo emocional.
Entretanto, ainda persiste a questão: num mundo de cabeças ocas, o que se transforma em sentença? E esta sentença será sempre pesada, difícil, amedrontadora? Porque se a sentença for apenas uma proposta de ação bem fundamentada e estruturada, que promova mudanças saudáveis e adequadas, não há porque se perturbar: são questões das consequências de nossos atos. O que vemos são medos desproporcionais de escolhas infundadas, que se misturam entre o querer e o não-querer, de maneira indiscriminada.
Assusta-me perceber que as pessoas se inibem para falar de si: muitos não comentam em qual grupo se alojam ou preferem dizer que são mais descolados do que realmente o são. Mesmo que os lapsos aconteçam descaradamente e de forma a serem percebidos até por uma criança, mas o orgulho é tamanho que não se deixam perceber frágeis e acabam por ter comportamentos dúbios, mentirosos e titubeantes. São as nossas pobres crianças grandes. Cabeças ocas..
Os comedidos vão vivendo, trombam com uns, afagam outros, esquivam-se de alguns e enfrentam os mais impertinentes; sofrem, também,por suas posições e suas ousadias. Avançam sinais de maneira ordenada, não sem se cuidar em demasia; a prudência os ensinou a ter cautela. Tem suas vidas pautadas por acordos tácitos que se reorganizam a cada tempo e se espelham na teoria do caos, onde a ordem sempre anuncia o novo caos: são astutos e buscam ser felizes.
Por não se aventurar em demasia, tão pouco seesquivar das situações mais traiçoeiras, vivem seus alertas com fugacidade e entusiasmo, não permitindo que as oportunidades se desviem ou se desfaçam sem que tenham aproveitado a chance de virar um jogo. Mesmo que isso tome horas de seus sonos, as estratégias estão montadas e sempre prontas para serem adotadas. Poucas vezes será na impulsividade. Isso possibilita que escolham as sentenças a serem aplicadas em si.
Escrevem suas histórias, escolhem suas companhias, assumem seus papéis e confirmam seus desejos: não temem pelo que são, mas se entristecem por aquilo que deixaram de ser. Conseguem ser Terra, Ar, Água e Fogo num mesmo circuito, como se as naturezas não fossem complementares e, sim, iguais. A estas diferenças, os comedidos respondem com simplicidade e acolhimento tornando leve sua relação com seus parceiros de jornada. Mas, quando se deparam com teimosia, mentira e traição, desfiguram-se e assumem os piores papéis da face da Terra. Perdem a sintonia e transfiguram-se numa figura intratável e grosseira, mas cercado de toda franqueza e sinceridade.
Ai reside a diferença deles, os comedidos, para os demais: perdem a linha mas não perde a sequencia de pensamento nem a certeza daquilo que acredita. Dificilmente serão enganados e muito raramente serão injustos; mesmo em situações pouco favoráveis eles serão objetivos e sensatos: o destempero emocional não os transformam nem alienados nem em fanáticos por uma ideia. Agem, pensam e sentem com naturalidade.
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E os demais? Os demais continuam a insistir nas suas verdades insustentáveis de cabeças ocas. Sonham sonhos impossíveis. São acusadores, como método de autodefesa, e manipuladores das propostas, de modo a garantir as redes do controle e, nesta alucinação, não percebem o quanto são tóxicos e perigosos para si próprios. Fogem das conversas sérias e não aceitam novos formatos de reformulações de vida: são perfeitos e aplaudidos pelos que pensam com menos alcance. Mas estragam as suas vidas e as dos que os cercam.
É possível se encantar por estes descompensados? Sim, eles são encantadores pois usam da sedução para envolver suas presas, sejam elas os parentes, os amigos, os parceiros. Lábias fáceis e comportamentos frágeis. Na literatura são chamados de “ossos vazios”, mas são, sim, encantadores. O que fazer se não querem se enxergar e rever seus comportamentos? Rezar….rezar para que não terminem sozinhos, pois um dia a casa cai. Triste a realidade.(Ilustração: russiahousenews.info)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO
É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.
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