Desanimado com a política brasileira, a cada novo escândalo ficando com aquela sensação de “deja vu”, prefiro hoje falar do lugar em que estou, pescando (meu hobby) e passeando: Cananéia, última cidade paulista no litoral sul, pois em seguida já vem Paranaguá, no Paraná.

Embora a história registre São Vicente como primeira povoação do país, a verdade dos fatos aponta para Cananéia, onde em 1530 os portugueses fundaram na Ilha do Cardoso – existe um marco, perto da praia do Pereirinha – e foram negociar com um dos mais enigmáticos personagens da história do Brasil, o Bacharel de Cananéia, possivelmente degradado de Portugal e que vivia em meio aos índios Guarani, tendo sido peça chave para as primeiras expedições costeiras no sudeste e sul do país.


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São Vicente ficou com a fama porque os portugueses não se fixaram lá, justamente porque o “dono” da região era o nosso citado Bacharel. Seguiram para o norte e, em São Vicente, construíram um forte, o que era essencial para caracterizar uma povoação ou cidade.

Além do pioneirismo , na década de 60 e 70 Cananéia era lugar de hippies, que viam nela um dos lugares de maior energia do planeta, centro da Era de Aquário etc etc (como sabemos, a tal Era não vingou). Fui juiz em Cananéia em 83 e ainda havia uns remanescentes de antigos hippies, com o cérebro derretido de drogas variadas, tocando flauta boliviana e vendendo artesanato barato.


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Mas o que é até hoje diferenciado é a conservação ambiental, que faz com que passear de barco em seus canais (que vão até Paranaguá) seja um prazer raro e que não se encontra em nenhum outro ponto do litoral brasileiro. Cachoeiras, trilhas, mata nativa totalmente preservada, praias desertas ou quase desertas, que só se alcançam por lanchas ou barcos, tudo faz de Cananéia um lugar único, que me faz esquecer por alguns dias que vivo em um país que não respeita seu meio ambiente nem faz o menor esforço de preservação de suas matas nativas e de suas praias.

Mas fique claro: falo de Cananéia, não de Ilha Comprida. Esta é o Brasil normal, com praias barulhentas e a sujeira habitual de um povo sem a menor preocupação com seu passado, presente ou futuro. Aquele país dos escândalos tão comuns que nem nos indignamos mais. (foto principal: Prefeitura de Cananéia)

 

CANANEIACLÁUDIO ANTONIO SOARES LEVADA
Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Mestre/USP e Doutor/PUCSP em Direito Civil. Professor e Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Unianchieta. Professor da Pós-Graduação da PUCSP em Direito Civil. Diretor Jurídico da Associação Paulista dos Magistrados.