CÂNCER DE PELE

“Mãe, eu posso ter câncer de pele?”. A pergunta foi feita pelo meu filho Daniel, no dia 30 de setembro, após nossa exposição ao sol no Parque Vila Lobos, em São Paulo, onde fomos assistir ao irmão dele, Vinícius, jogar basquete no festival Decathlon.

Prontamente, respondi que, sob o sol causticante, todos nós corremos o risco iminente, pois, parte da probabilidade reside em nosso histórico genético e tipo de pele, associados ao nosso comportamento frente a hábitos e exposição a agentes agressivos e, no caso do câncer de pele, aos raios “ultravioleta” A e B.

A preocupação dele é totalmente compreensível, considerando o fato de que temos um primo que luta bravamente, há anos, com um câncer que se espalhou por vários órgãos e tecidos, devido a diagnóstico equivocado e que retardou o início do tratamento adequado.

O que precisamos entender são as causas e como nos proteger. A dúvida de meu filho recaiu sobre o fato de termos ficado com a pele avermelhada, pois, o dia estava nublado e, de repente, abriu um sol de derreter mamona, próximo à hora do almoço.

A queimadura solar com ocorrências repetidas torna-sea maior causadora de câncer de pele. O problema se acentua com maior frequência na infância e adolescência, quando esses pequenos pirralhos fogem dos adultos que os procuram com o frasco de protetor solar nas mãos. Mas, quando digo queimadura, me refiro àquelas que se apresentam com as características abaixo relacionadas (extraído de https://www.ufrgs.br/telessauders/noticias/queimaduras-solares/):

  • Pele avermelhada e dolorosa (eritema);
  • Pele quente e sensível ao toque e às vezes com prurido (coceira);
  • Pequenas bolhas com líquido dentro, que podem romper;
  • Dor de cabeça, febre, calafrios e fadiga, se a queimadura for severa;
  • Descamação da pele (geralmente, 4 a 7 dias depois da exposição solar).

Nada parecido com a situação que vivenciamos, porém, preocupou demais o meu já preocupado filho.

O histórico composto de mais de cinco episódios de queimaduras solares, dobra a possibilidade de uma pessoa apresentar câncer de pele ao longo da vida.

Os grupos de maior risco são os do fototipo I e II, ou seja: pessoas de pele clara, com sardas, cabelos claros ou ruivos e olhos claros. Além destes, os que possuem antecedentes familiares com histórico de câncer de pele, queimaduras solares, incapacidade para se bronzear e, excesso demasiado de pintas também devem ter atenção e cuidados redobrados.

Para entender como os raios solares podem provocar tamanho estrago é necessário, antes, saber qual a composição dos mesmos e como afetam a nossa pele.

A figura acima demonstra como os raios, componentes da luz solar, penetram diferentemente na nossa pele.

A radiação UVA tem extensão de onda mais longa e sua intensidade pouco varia no decorrer do dia. Ela irradia profundamente a pele, e é a principal responsável pelo fotoenvelhecimento e pelo câncer daquele tecido. Já, a radiação UVB tem comprimento de onda mais curto, tornando-se mais intensa entre as 10 e as 16 horas, sendo a principal responsável pelas queimaduras solares e pela vermelhidão na pele.

O câncer consiste num conjunto de mais de 100 doenças, que têm em comum, o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.As possibilidades de se adquirir câncer podem ser encontradas na natureza ou podem surgir por herança, porém, a maioria (80%) está relacionada ao meio ambiente, no qual encontramos um grande número de fatores de risco.

Entende-se por ambiente os fatores: água, terra e ar; o ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins); o ambiente de consumo (alimentos, medicamentos); o ambiente social e cultural (estilo e hábitos de vida). Portanto, grande parte depende de nossos hábitos, ou seja, perfeitamente evitável.

Não se desesperem se, vez por outra, viraram“tomates” na praia, mas evitem, corram do sol como o vampiro corre da cruz. Moramos em um país que favorece danos à pele, tanto pelo calor, quanto pela proximidade à linha do Equador que possui grande incidência de raios ultravioleta.

Então, como nos proteger? Aqui serve a máxima da gravidez: para evitá-la 100%, somente a abstinência de sexo. Evitar totalmente o sol não é possível, mesmo porque, precisamos dele para sintetizar a vitamina D, mas não precisa ficar tostado para isso. Doses homeopáticas do nosso Astro Rei, em horários adequados, são suficientes.

Enquanto morarmos por aqui, (na Terra, porque em qualquer lugar do planeta estaremos expostos mais ou menos à radiação solar) 100% de proteção não será possível, mas o uso de protetor solar, físico e químico, tem grande efeito.

Como protetores físicos, use e abuse de chapéus (estão na moda!), bonés, roupas compridas, óculos de sol, guarda chuva, dentre outros. Já, os protetores químicos, aqueles que nos lambuzamos, especialmente na praia, é importante o uso diário, principalmente, nas áreas expostas demasiadamente ao sol. Não se esqueça de que neve e areia refletem o sol, valendo dizer que, mesmo embaixo de uma barraca/tenda/guarda sol: REPASSE O FILTRO SOLAR.

O fator de proteção é menos relevante do que pensamos, o importante é repassar ao longo dia/horas de exposição.

E como escolher o protetor solar?

Hoje, é voz corrente que só o FPS (fator de proteção solar contra raios UVB), aquele que está em destaque no rótulo do produto, não é tão importante quanto a relação dele com o PPD, o fator de proteção contra os raios UVA. Procure produtos que tragam a informação de ambos.

Ao contrário do que se imagina, não há uma relação direta entre a proteção e o valor do FPS: um filtro com FPS 4 filtra 75% dos raios UVB, um filtro FPS 15 filtra 93% da radiação UVB, o FPS 30 filtra 97% e o FPS 50 filtra 98%.

Nessa linha de raciocínio, um filtro FPS 30, por exemplo, protege apenas cerca de 4% a mais que um filtro 15, e não o dobro como se é de deduzir, mas, lembre-se que maior FPS, significa maior PPD.

Fato: leve em conta seu tipo de pele também, pois, quanto maior o FPS, mais oleosa é a fórmula, considerando que o ativo do FPS é lipossolúvel, portanto necessita de uma carga maior de diluente para que o ativo se dissolva e resulte em um produto de qualidade homogênea.

O mais importante é REPASSAR! Independente do FPS que escolher.

E não seja muquirana! Passe uma quantidade razoável de produto para que se espalhe uniformemente na pele. Lembre-se que neste caso: economia é a base da porcaria.

E, nunca; jamais; de jeito algum; de qualquer maneira use câmaras de bronzeamento artificial, pois elas trazem riscos comprovados à saúde.

OUTROS ARTIGOS DE ELAINE FRANCESCONI

QUEIMANDO POR DENTRO

SOCORRO, MEU OLHO ESTÁ POSSUÍDO!

NÃO DÁ PARA SER FORTE O TEMPO TODO

AOS MEUS PEQUENOS COM AMOR

FAKE NEWS

DOCILIDADE

MENINO TRAVESSO

Em 2009 foram reclassificadas como agentes cancerígenos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no mesmo patamar do cigarro e do sol. A prática de bronzeamento artificial antes dos 35 anos aumenta em 75% o risco de câncer de pele, além de acelerar o envelhecimento precoce e provocar outras dermatoses. Por isso é proibida para fins estéticos, no Brasil.

Não precisa viver nas trevas, mas, evitar é a palavra chave neste assunto. A regra é simples: não pode se queimar, é proibido ficar ardendo. (Foto principal: www.infoescola.com)


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.