A Pastoral da Mulher de Jundiaí completou 35 anos de atividades no dia 12 de outubro último. Já a Associação Maria de Magdala, que assiste mulheres prostituídas, fará 22 anos no próximo dia 22. A comemoração dos dois aniversários será no dia 8, no Carmelo São José. Ano após ano, uma pessoa foi se tornando a cara e a voz das duas instituições, a professora e colaboradora do Jundiaí Agora, Maria Cristina Castilho de Andrade. As experiências terríveis que viu e vê, Cristina consegue transformar em textos formidáveis, intocáveis, feitos para reflexão. O Jundiaí Agora entrevistou Maria Cristina sobre os aniversários da Pastoral e da Associação Maria de Magdala.

Para o internauta entender, o que é a Pastoral da Mulher?

A Pastoral da Mulher – Santa Maria Madalena – é um trabalho da Igreja, com a proposta de anunciar às mulheres em situação de vulnerabilidade social a misericórdia de Deus. A muitas delas foi apresentado um Deus de dedo em riste, pronto a julgá-las e a condená-las e isso aumenta as dores que já carregam. São mulheres pobres e inúmeras delas foram abusadas sexualmente na infância e na adolescência. Apresentamos o Deus da Revelação que, através de Seu Filho Jesus Cristo não exclui ninguém, mas ama, constrói e reconstrói.

CARA E VOZ

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E o que é Casa Maria de Magdala?

A Pastoral teve início em 1982. Após uma caminhada de 13 anos, sentimos a necessidade de um trabalho de empoderamento social, que ajudasse a reinserção social. Com isso nasceu, em 1995, a Associação Maria de Magdala. (Fotos acima: passeata de pastorais, no início do movimento; reunião de professores em 1996; Cristina com o segundo bispo de Jundiaí, Dom Roberto Pinarello).

Qual a ligação das duas?

A Pastoral se propõe a evangelizar e a Casa Maria de Magdala a oferecer suporte para o fortalecimento da mulher. A Casa Maria de Magdala é um braço da Pastoral.

Quem decidiu pela criação da Pastoral? Por quê?

Quem decidiu pela implantação dessa Pastoral na Diocese foi nosso segundo bispo ciocesano, Dom Roberto Pinarello de Almeida. Ele, que era muito meu amigo, sabia que a situação de miséria das mulheres que ficavam pelo centro da cidade me comovia. Estávamos conversando, quando passaram quatro mulheres assim, agredidas com saquinhos de urina. Ele se sensibilizou e me pediu que iniciasse o trabalho.


COMEMORAÇÃO

A Pastoral da Mulher Santa Maria Madalena realizará Missa em Ação de Graças pelos 35 anos de atuação na Diocese de Jundiaí, no dia 8 de novembro, às 17h, no Carmelo São José, na avenida Dom Pedro I, 531, vila Loyola. A celebração será presidida pelo assessor espiritual da Pastoral, Padre José Brombal.

A missa comemora também os 22 anos da Associação Maria de Magdala, fundada a partir da Pastoral da Mulher, que desenvolve diversas ações que promovem o resgate da dignidade e a compreensão das potencialidades e direitos das mulheres, dando caminhos para que possam exercê-los. A Associação oferece cursos de alfabetização, noções de matemática e aulas de culinária que, atualmente, são frequentados por 30 mulheres.

A Pastoral da Mulher conta com a atuação de 15 agentes que vão ao encontro das mulheres marginalizadas, vítimas de abuso e violência e que se encontram em situação de risco. No primeiro momento é feito o anúncio da Boa Nova do Evangelho e depois é dada a assistência necessária. A Pastoral está presente na Catedral Nossa Senhora do Desterro, no Centro de Jundiaí e atende 130 mulheres. Quem desejar outras informações pode entrar em contato com a secretaria paroquial através do telefone 4586-0248. 


Como era até então?
Diríamos que a situação de preconceito e de exclusão era muito maior. Por isso também enfrentamos muitos preconceitos, pois não admitiam que estávamos trazendo mulheres consideradas da sarjeta para cima da calçada.

Houve avanços nestes nestes 22 anos?

Em relação à prostituição, houve muitas mudanças. Com a liberação sexual, a procura diminuiu. Hoje, creio que haja um número maior de prostituídas que trocam o corpo pela droga, do que para se sustentar. Importante destacar que falo sobre as mulheres prostituídas em situação de pobreza. A realidade das que pertencem às boates de luxo desconheço.

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O que você presenciou e que nunca mais saiu da sua cabeça em todos estes anos?

A história de uma das quatro primeiras, que morreu aos 21 anos e me pediu para ser enterrada de sapatos brancos. Segundo ela, de seu corpo o que mais prestava eram os pés que a levaram para as reuniões da Pastoral e lhe ofereceram a pureza que perdera, aos sete anos, ao ser abusada sexualmente por meses.

Você trabalha com histórias terríveis. Até onde isto a afeta? Já teve problemas a ponto de precisar pedir ajuda?

As histórias são terríveis mesmo! Ajudam-me os momentos de reflexão e de oração assim que o dia amanhece, por pelo menos 40 minutas. Escrever também me ajuda, embora não as identifique, pois partilho com quem lê essas dores tantas. Como disse Clarice Lispector, “escrever salva”.

Você virou a cara tanto da Pastoral como da Casa Maria de Magdala. Faz parte do bom trabalho feito. Como vê esta ligação entre você e as duas entidades aos olhos da população, imprensa,etc?

A imprensa sempre nos deu apoio. Quanto à população, com raríssimas exceções, ao ouvir as histórias e observar o trabalho, se tornou nossa parceira.

Qual o seu cargo hoje na Pastoral?

Na Pastoral sou agente apenas. A Coordenadora Diocesana é a Rosemary Aparecida Gentil Ormenesi. Da Magdala sou presidente.

CRISTINA CASTILHO E SUAS VIVÊNCIAS

VIVÊNCIAS E CONVIVÊNCIAS COM ABUSADOS

VIVÊNCIAS COM GENTE MIÚDA

VIVÊNCIAS COM NOSSA SENHORA

VIVÊNCIAS AINDA DO SAGRADO

VIVÊNCIAS DO SAGRADO

VIVÊNCIAS QUE QUESTIONO 

VIVÊNCIAS DE DESCONSTRUÇÃO 

VIVÊNCIAS EM COMUNHÃO

VIVÊNCIAS DE USUÁRIOS DE CRACK

VIVÊNCIAS DE DENÚNCIA E PERDÃO

VIVÊNCIAS MATERNAS FELINAS 

VIVÊNCIAS DA SIMPLICIDADE

VIVÊNCIAS DA DERROTA

VIVÊNCIAS DE CRIANÇAS

VIVÊNCIAS DE OLHAR ESTREITO

VIVÊNCIAS DE ALINHAVO E AFETO

VIVÊNCIAS DAS MARGENS

Pensa em se aposentar? Quem assumirá o seu trabalho? Está preparando alguém?

Sou e sempre fui voluntária no trabalho. Os cargos são passageiros, mas o trabalho pela causa não. Pretendo, portanto, prosseguir até quando for possível, porque sinto que foi e é um chamado de Deus para me fazer melhor. Temos na Magdala uma diretoria completa. E somando Pastoral e Magdala somos em 15 pessoas. Qualquer uma delas tem condições de me substituir.

Quais as lições que teve nestas três décadas?

Dentre as grandes lições que aprendi na minha caminhada com elas, foi o que escreveu no livro “Enigma da Esfinge” o Frei Antônio Moser, falecido no ano passado: “Só se liberta dos preconceitos quem restitui a voz ao silenciado”. Aprendi com elas a ouvir e quem ouve se liberta de suas conclusões mesquinhas. Quem ouve, aprende a não julgar.