Foi o educador Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, quem me alertou para um problema que tem sido negligenciado no Brasil: o excessivo peso que nossas crianças carregam em suas mochilas. A substituição das antigas pastas de couro por mochila pareceu um progresso, pois liberou os braços do aluno. Mas logo começaram a acolher uma série de objetos e não se questionou a potencialidade de danos daí decorrente. Hoje é comum que as crianças reclamem de dor nas costas. O jornal científico American Journal of Neuroradiology constatou que metade das crianças terá dor nas costas até os 15 anos. Carregar excesso de peso na mochila é uma das causas mais comuns para esse desconforto. Elas se tornaram verdadeiras cargas pesadas.
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Todavia, não é apenas desconforto o que preocupa. O peso afeta os músculos, as articulações, cansa os ombros e o pescoço. Não está excluída, ao contrário, é bem provável que o futuro adulto apresente um quadro de escoliose, inclinação excessiva da coluna para um dos lados, hiperlordose, aumento da curvatura da coluna cervical e ou lombar ou hipercifose, nome científico daquilo que nós chamamos vulgarmente de “corcunda”. Aumento patológico da curvatura da coluna torácica.
É urgente se alivie a carga da mochila. O máximo de peso que o aluno pode carregar não deve exceder a 10% de sua própria massa corporal. Quem é que tem se preocupado com isso? Se a criança pesa 35 quilos, o peso de sua mochila não pode ultrapassar 3,5 kg. A partir daí, evidente o perigo. É até uma questão de saúde pública. Estaremos a preparar uma geração de indivíduos incapazes para o trabalho, diante do comprometimento na primeira infância, derivado de uma negligência nossa?
Pensando nisso é que se deve investir na oferta de material escolar digital. A circuitaria neuronal da criança das novas gerações é totalmente virtual. Não há infante que não tenha desenvoltura com as bugigangas eletrônicas. Inúmeras as vantagens da adoção de um conteúdo pedagógico prioritariamente digital. Atratividade natural: o material produzido pela eletrônica é muito mais sedutor. A criança aprende com prazer, o que hoje é raro na educação convencional. Possibilidade de atualização contínua. Desnecessidade de substituição física do acervo didático. Proteção do ambiente. Quantas árvores são necessárias para produzir aquilo que é utilizado num ano e descartado em seguida?
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A natureza agradeceria preocupação maior com essa questão. Assim como o sistema público de saúde, sob ameaça de colapso, se não houver reversão do quadro atual. Com a palavra a lucidez pátria. (foto acima: acasadopedrinho.com)
JOSÉ RENATO NALINI
É secretário estadual de Educação e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo.