Vivemos uma era marcada pela crescente degradação ambiental e pela intensificação das mudanças climáticas. No entanto, paradoxalmente, muitos indivíduos e sociedades parecem estar cegos para a urgência das mudanças necessárias, evidenciando uma condição que pode ser chamada de cegueira ambiental.
Esse termo descreve a incapacidade ou a falta de vontade em perceber a gravidade da crise ambiental que estamos enfrentando. A cegueira ambiental é, na maior parte das vezes, alimentada por uma série de fatores, entre os quais se destacam os interesses econômicos imediatos, a falta de conscientização ampla e a dificuldade de encarar as consequências de nossos atos no longo prazo. Ao invés de adotar uma postura proativa diante das evidências científicas sobre a crise climática, muitos indivíduos e governos preferem ceder à tentação de decisões de curto prazo que, no fundo, ignoram a necessidade de transformação estrutural nas nossas formas de viver e consumir.
A cegueira ambiental está frequentemente associada a um conflito entre a busca por desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente. No entanto, a concepção de que é preciso escolher entre um e outro está ultrapassada. O desafio, agora, é entender que a saúde econômica de qualquer sociedade está diretamente ligada à saúde do planeta. A crise climática não é apenas um problema ambiental, mas também econômico e social. Contudo, a resistência à mudança se dá, em grande parte, pela dependência de modelos econômicos baseados na exploração exacerbada de recursos naturais.
Grandes setores da economia mundial têm interesses diretamente contrários a políticas ambientais mais rigorosas. Por exemplo, a extração desenfreada de recursos naturais, a poluição atmosférica e o desmatamento são práticas que geram lucros imediatos, mas têm efeitos devastadores no longo prazo. Contudo, ao invés de investir em alternativas mais sustentáveis, muitos governos e corporações acabam cedendo às pressões do mercado, preferindo soluções temporárias que acentuam o problema da crise climática.
Além disso, muitas vezes, as populações mais vulneráveis são as que mais sofrem as consequências desse modelo econômico predatório. Por exemplo, regiões dependentes da agricultura intensiva e do extrativismo mineral se tornam mais suscetíveis a desastres naturais como secas prolongadas, inundações e perda de biodiversidade.
Nesse contexto, a cegueira ambiental também se manifesta pela falta de uma visão mais ampla de longo prazo, que leve em consideração não apenas os benefícios financeiros imediatos, mas o bem-estar das gerações futuras.
Embora o conhecimento sobre as questões ambientais tenha aumentado significativamente nas últimas décadas, muitas pessoas ainda não conseguem fazer a conexão entre suas ações cotidianas e os impactos ambientais. Isso ocorre por uma combinação de fatores, incluindo a desinformação, a complexidade dos problemas climáticos e, muitas vezes, a sensação de que as mudanças necessárias estão além do alcance individual. Há também a ideia de que as mudanças climáticas são problemas distantes, que afetarão “outras pessoas” no futuro, mas não os próprios indivíduos no presente.
A falta de conscientização também está relacionada ao papel que a mídia e as empresas desempenham em minimizar a gravidade da crise. Muitas vezes, essas instituições promovem uma narrativa que dilui a urgência das mudanças ou que apresenta a crise ambiental como um problema que pode ser resolvido com soluções tecnológicas isoladas, sem a necessidade de uma transformação cultural e comportamental profunda.
A educação ambiental desempenha um papel crucial nesse processo, mas é necessário que ela vá além das abordagens superficiais e pontuais, incluindo um esforço maior para sensibilizar as pessoas sobre como suas escolhas de consumo afetam o planeta. Isso inclui a redução de resíduos, o consumo consciente de recursos naturais, o apoio a políticas públicas sustentáveis e, acima de tudo, a adoção de um novo modo de vida que entenda a interdependência entre os seres humanos e o meio ambiente.
Outro aspecto importante da cegueira ambiental é a forma como as pessoas tendem a dar mais peso às suas necessidades de sobrevivência imediatas do que aos desafios ambientais de longo prazo. A luta por emprego, segurança econômica e estabilidade social muitas vezes coloca em segundo plano questões como as mudanças climáticas e a degradação ambiental. Isso é particularmente visível em comunidades onde o desemprego é alto ou onde as necessidades básicas de alimentação e saúde ainda não estão plenamente atendidas.
Em muitos contextos, a ideia de que o meio ambiente é um luxo, algo a ser tratado somente quando os problemas econômicos imediatos estiverem resolvidos, ainda prevalece. O medo de perder o emprego, a moradia ou o sustento leva muitos a apoiar políticas de crescimento econômico que ignoram o impacto ambiental. Em países em desenvolvimento, por exemplo, a priorização da industrialização e do crescimento urbano muitas vezes se dá à custa de grandes áreas de vegetação nativa e recursos naturais essenciais.
No entanto, essa visão de curto prazo ignora o fato de que as mudanças climáticas e a degradação ambiental têm o potencial de piorar ainda mais as condições de vida dessas populações. O aumento de eventos climáticos extremos, como secas, furacões e inundações, pode afetar drasticamente a segurança alimentar, aumentar as tensões sociais e tornar ainda mais difícil a busca por uma melhoria nas condições de vida.
A cegueira ambiental, portanto, é um fenômeno multifacetado que envolve não apenas questões econômicas e políticas, mas também culturais e educacionais. A transição para uma sociedade mais sustentável não será fácil, pois exige que todos os setores da sociedade — governos, empresas e cidadãos — alterem suas prioridades e comportamentos. Para isso, é fundamental que a sociedade enfrente o desafio da mudança comportamental, compreendendo que a proteção do meio ambiente não é uma questão de escolha, mas de sobrevivência.
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As gerações atuais têm uma responsabilidade histórica de agir para mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger os ecossistemas que sustentam a vida no planeta. Para isso, é essencial cultivar uma nova forma de enxergar o mundo, na qual o bem-estar humano e a saúde ambiental não sejam vistos como objetivos opostos, mas como componentes de uma mesma realidade interdependente. Só assim poderemos romper com a cegueira ambiental e avançar para um futuro mais equilibrado e justo para todos. (Texto produzido com auxílio do “Chatgpt”/Foto: Eugene Golovesov-Pexels).
CLAUDEMIR BATTAGLINI
Claudemir Battaglini. Promotor de Justiça (inativo), Especialista em Direito Ambiental, Professor Universitário, Consultor Ambiental e Advogado. Vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB Subseção Jundiaí e Vice-presidente do COMDEMA Jundiaí 2023/2025. E-mail: battaglini.c7@gmail.com
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