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O viciante uso do CELULAR

Atualmente é raro encontrar alguém sem um celular a tiracolo. Funcionando como um dos mais versáteis membros do corpo humano, o celular ocupa lugar de um apêndice que, multifuncionalmente, sempre atende a alguma necessidade de seu proprietário, das mais simples e rotineiras até as mais complexas e necessárias.

Seu uso já não se prende apenas ao uso do sistema de telefonia: usamos o celular, também, para telefonar, mas seu uso é tão multifacetado que ele será nosso “scanner”, nossa máquina fotográfica, nosso joguinho, nosso grupo de amigos ou de serviço ou.., nosso arquivo de documentos pessoais, nosso espaço de músicas e filmes, nosso tudo. E como lidamos com isso?

Percebemos que a sociedade atual é influenciada pela tecnologia, o celular e a internet apenas representam as ferramentas de uso diário e mais frequentes, possibilitando um número enorme de combinações que farão com que se forme uma base de equilíbrio formada pela sujeito + celular + internet de tal modo que está ficando difícil identificar onde termina um destes e inicia o outro. Triste realidade.

É sensato analisar que o mundo da internet não termina com as grandes amizades, visto que elas serão potencializadas pelas curtidas, troca de emojis, troca de mensagens, permitindo maior acesso e mais tempo juntos, ainda que no universo virtual. Vale pensar na duração destes contatos, na sua frequência e na importância que é dada a eles. Mas, e no mundo real?

O que temos, neste novo tempo, é uma tremenda diversificação de valores sociais junto a um bombardeio de estímulos sócio culturais que, de certa forma, tornam voláteis as relações interpessoais e as escolhas; os motivos de se agregar a alguém ficam diluídos e inconsistentes. A necessidade de se sentir famoso e influente (influencer) ganha notoriedade e a riqueza se transforma na busca da geração mais nova e “antenada”. Novamente, triste realidade.

Todos estes detalhes atendem às necessidades do momento e, desta maneira, respondem aos objetivos do contexto, mas não podemos desprezar tudo ou colocar tudo num mesmo nível: temos propostas interessantes que merecem destaque. A própria possibilidade de reencontrar pessoas distantes, por meio da internet, já é um fator positivo e de alto poder conciliador, que merece destaque.

Na mesma linha podemos citar os documentos que escaneamos e armazenamos nas “nuvens”, para uso em momentos específicos. Ou ainda, aquela coleção de fotos ou músicas que selecionamos como um acervo particular que nos remeta à lembranças e recordações afetivamente promissoras.

Já mencionei, em crônicas anteriores, das consultas on-line e das teleconferências, que são valiosas e produtivas, cobrindo qualquer espaço do Mundo. Além das possibilidades de uso pela justiça nacional, em audiências, julgamentos, processos e demais desdobramentos legais. Tudo isto e mais algumas outras situações encontram-se no grupo de argumentos favoráveis; entretanto, é preciso olhar para o todo e não apenas para aquilo que vai bem.

E os joguinhos eletrônicos? Viciante, pegajoso e nocivo, quando não usado com cautela. E, percebam: ninguém se reconhece viciado neles. Aparentam total grau de inocência. Todo jogador contaminado diz que só joga nos momentos livres  e que para quando quiser; entretanto jogam o dia inteiro e não conseguem parar uma atividade sem acionar o jogo (o que caracteriza o vício, o total descontrole).

Para se ter noção do perigo, inicia-se nos joguinhos para conter a ansiedade e torna-se ansioso se não estiver jogando, em pouco tempo. O caráter de imersão é tão pegajoso e nocivo que em breve, para ultrapassar de fase, perde-se manhãs inteiras. Posterga-se tardes ou horas de sono. Mas não se admite o vício. A adrenalina e a dopamina tomam conta de nossos espaços sensoriais e afetivos e, em pouquíssimo tempo, estaremos de olhares fixos na telinha, com os dedos saltitando e marcando seus escores, totalmente imersos num jogo fantasioso e inócuo.

Ai está um detalhe que merece muita reflexão. E uma reflexão profunda: é inócuo? É fantasioso? Ou é pernicioso e muito contagioso? O grau de periculosidade começa a se espalhar quando vemos que uma pessoa está nos joguinhos ou simuladores de notícias ou “reels” 70 % do tempo que passa acordado. A situação está fora de controle e não é encarada como comprometedora para este jogador que se diz capacitado para se afastar do celular, quando quiser (o grande sinal do vício).

O grande problema está nessa sinalização que não é aceita nem respeitada pelos adultos viciados e que acabam por contaminar seus filhos e amigos, de modo a termos toda uma comunidade envolvida em atividades midiáticas sem valor social e cultural. Uma parcela da sociedade obtusa e ignorante, sem vida própria e que não se considera nem alienada nem viciada, vive naquela bolha em que entende ser recreação, mas se configura com um vício deformante, uma vez que diminui o contato social real e não acrescenta nada de útil a Vida cotidiana.

As crianças, sem a devida proteção, excedem de suas horas possíveis diante do mundo virtual; se indagados, os pais mais atentos dirão que ela chora ou ela gosta de estar no joguinho ou no filminho. Mas e as demais tarefas infantis? São igualmente trabalhadas ou o celular é a “mentira de boa” usada para que os adultos tenham folga e possam, também, se esbanjar na sua virtualidade?

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Perceberam que não trouxe para discussão os jogos pagos, as traições, as salas pornôs, os submundos, as compras criminosas, nem tracei reflexões sobre a vida desorganizada e descabida daqueles que não vivem sem olhar suas telas a cada 20 ou 30 segundos. Tracei apenas o óbvio e o perceptível numa sociedade de consumo, que está se consumindo e se perdendo diante de uma tecnologia que atende a todos os deuses.

Na verdade, não é a tecnologia que é perversa, mas o tratamento que dou a mim que se torna perverso. Não é o celular que é viciante, mas a falta de alguma coisa íntima e verdadeira que me faz viciar num conteúdo fácil, raso e não-construtivo. Sim, eu busco o mais fácil e cada dia buscarei mais, porque não quero mudar meu comportamento. O vício me satisfaz. Triste realidade.

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do Lepespe, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da Unesp. Mestre e Doutor pela Unicamp, livre docente em Psicologia do Esporte, pela Unesp, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Diretor técnico da Clínica de Psicologia da Faculdade de Psicologia Anhanguera, onde leciona na graduação.

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