CERTOS COMENTÁRIOS…

certos comentários

Viver é muito mais que uma simples aventura. Dialogar é mais que uma simples entrevista. Jogar conversa fora, papo furado, conversa fiada, conversar só para passar o tempo, grilo na cuca. Enfim tudo é válido se for para melhorar o nosso humor e se aproximar das pessoas. Mas eu percebo, que as vezes certos comentários são carregados nas doses e se firmam no preconceito diário ao referir-se ou relacionar-se com a etnia negra. São visíveis até numa fala que poderia parecer que causa justamente as diferenças se elas tivessem sido usadas de maneira correta, nada de “politicamente correto”, mas de um jeito simples que me pareceria mais natural e objetiva.

Um exemplo são certos comentários que encontrei no Facebook e que tentam justificar as teclas brancas e pretas do teclado do piano, de uma maneira que enaltece as brancas e deprecia as pretas, e não as igualam em empatia e sinceridade como fez Paul McCartney. O ex-beatle as enalteceu, dizendo que lado a lado no piano, vivem em perfeita harmonia. No comentário em questão o interlocutor garante que as teclas brancas representam “as alegrias”, enquanto que as pretas representam “as decepções”. Ao pé da letra, teria (a meu ver) e poderia ser as tristezas, que é o sentimento contrário a alegria, e sem causar desarmonia justificaria a frase, sem causar mal-estar, uma vez que decepções são coisas frustrantes. 

Aprendi que tanto Deus e o diabo, o certo e o errado, o bem e o mal, estão nos detalhes. E é aí que alguns se apegam e depois negam e dizem que não foi isso que quiseram dizer e vociferam: essas coisas não existem, bem/mal, certo/errado, Deus/diabo são invenções dos homens, para se justificarem diante de uma situação contraditória.

Estes certos comentários são obra de legitimação sem a ilegítima intimidação. A tímida ação fica envolvida e acerca-se de virtude e o caminho que surge é o que se tem que trilhar. É o mistério acima do ilusório (Guilherme Arantes). Nas regras de convivência é bom ser importante, para as pessoas, não mais importante que elas. 

Nas passagens afroatlânticas, a negritude africana se orgulha da herança ancestral que lhe dá consciência. A decisão vem antes da escolha, no dicionário, na situação, na vida em si. Não se precisa de motivos para se fazer a coisa certa. Olhar peculiar, não exótico. Olhar da irmandade que atravessou a calunga grande(o mar), e numa diáspora trouxe o Élan (elo entre irmãos) e o DNA já estava no Universo. Pontos diferentes da vida (bio/força). Gravar mentalmente, mas muito cuidado, porque nós estamos falando do sagrado.

O pilar é para desopilar o instinto, colocar sentimento na reza. Arando a terra, cultivamos gerânios, criando vida e aromas, espalhando beleza pelos campos e delicadezas diversas para colorirmos os sonhos dos humanos. Vamos brindar mais uma vez “antes de pagar a conta”. A peça que a vida nos prega, para enfrentarmos o futuro, com as armas que já tivemos adquirido desde agora. Não é a peça-chave, nem dá gorjeta, não aceita troca.

A memória lembra e o corpo registra – Odo – conhecimento pessoal de cada indivíduo. A memória pode e vai resgatar essa língua que é testemunha-cultura-patente. Faz parte da preservação do conhecimento, mesmo porque, na língua oficial do país, apagar a história do povo negro é o pilar dos historiadores portugueses. 

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Coruja não fala, mas presta muita atenção e investiga. Em boca fechada não entra mosquito. Pela harmonia universal, coruja não se corrige. 

O homem cresce com a grandeza da missão dele. Stevie Wonder, negro e cego, talvez nunca soubesse que as teclas do piano são brancas e pretas, se ninguém tivesse lhe contado. Mas, para ele pouco interessa. Ele quer e faz arte da melhor qualidade. O que torna aqueles certos comentários indigestos e totalmente desnecessários. 

– Não existem para-raios que impeçam Iansã de abrir caminhos… Eparrey Oyá!!!(Foto: Osmar Vasques/Pexels)

LUIZ ALBERTO CARLOS

Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.

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