Os holofotes que iluminaram o Dia Internacional da Mulher foram direcionados só para enaltecer algumas. Considerando que essa lei foi promulgada para homenagear as 129 bravas mulheres que, no ano 1857, em Nova Iorque, morreram em incêndio criminoso ao reivindicarem a diminuição da carga horária de trabalho, de 16 horas diárias para 12, penso que o objetivo primordial ficou perdido no tempo. Mas, como tudo vai se transformando, precisamos nos adaptar aos novos conceitos. Dois dias depois do Dia Internacional da Mulher, ouso escrever sobre uma mulher irreverente que sofreu críticas amargas, tanto das outras, como dos homens de sua época: a inesquecível Chiquinha Gonzaga, a primeira brasileira a reger uma orquestra!
Mesmo que sua história seja conhecida, valerá a pena lembrar um pouco de sua atribulada vida:
Era filha de um marechal do Exército Imperial e de uma escrava alforriada. Por imposição do pai, casou-se aos 16 anos com um homem mais velho e rico, que não gostava de música. Ela, para desespero dele, vivia para a música, passava os dias ao piano, enquanto outras de sua época bordavam, faziam tricô ou crochê. Fugia às habilidades femininas daquele tempo. Ele, como marido, exigiu que parasse de tocar piano. Ela se rebelou e pediu a separação, um escândalo na época!
Por vingança, o ex-marido conseguiu tirar-lhe dois filhos, só o mais velho ficou em sua companhia. Foi execrada pela sociedade, amaldiçoada pela família e expulsa de casa. Para sobreviver, tocava piano em casas comerciais que vendiam instrumentos musicais e onde mais lhe solicitassem.
Talvez por ser afrodescendente, gostava de frequentar rodas de lundu, batuque, umbigada e outros ritmos africanos. Conheceu um engenheiro que disse estar apaixonado por ela, foram morar juntos. Engravidou e ficou feliz, mas as traições dele eram frequentes e ela pediu a separação.
Esse também conseguiu tirar-lhe a criança que nasceu dessa união, provando que ela não tinha como mantê-la; novamente, ficou só.
Sua catarse era a música, entregava-se, de corpo e alma, a tocar e a compor. Sua estreia como compositora foi com a polca “Atraente” que muito agradou e fez sucesso. No entanto, pelas mentes retrógradas da época, uma mulher não poderia compor essa música indecorosa que falava de voluptuosidade, sendo mais um fardo para sua reputação. A polca, hoje ingênua, tinha esta letra:
Rebola bola e atraente vai
Esmigalhando corações com o pé
E no seu passo apressadinho, miudinho
Vai sujando o meu caminho…
A mando das autoridades da época, em nome da moral e dos bons princípios, muitas de suas composições foram queimadas. As canções que falavam de amor eram consideradas imorais!
Mas Chiquinha era combativa e continuava. A pedido dos organizadores do bloco carnavalesco “Rosas de Ouro” – que havia no bairro Andaraí, no Rio de Janeiro -, compôs o samba “Ô Abre Alas”, consagrando-se entre os sambistas, que tinham mais liberdade e abertura de pensamento. Até hoje,esse samba é cantado nos carnavais, animou muitos blocos neste ano:
Ô abre alas que eu quero passar
Ô abre alas que eu quero passar
Eu sou da lira, não posso negar…
Rosa de Ouro é que vai ganhar!
Ô abre alas que eu quero passar
Ô abre alas que eu quero passar
Eu sou da lira, não posso negar!
Autora de quase 40 músicas. Uma das suas mais célebres canções “Lua Branca” foi interpretada por cantores renomados como Francisco Petrônio, Dilermando Reis, Maria Betânia, Cristina Motta e outros. Inúmeros corais espalhados pelo Brasil o interpretam. É uma música linda! Veja o vídeo, com Maria Bethania interpretando a obra de Chiquinha Gonzaga:
Muito bonita, casou-se, novamente, aos 52 anos com um rapaz mais novo que gostava de música e viveu com ele até os 88 anos!
Já na companhia dele, aos 64 anos, compôs a opereta “Forrobodó” que teve 1.500 apresentações seguidas; grande sucesso de bilheteria na época!
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Mulher ousada, à frente do seu tempo! Inteligente e combativa! Minha consideração e respeito vão para ela, nesse dia e sempre! Salve Chiquinha Gonzaga!
JÚLIA FERNANDES HEIMANN
É escritora e poetisa. Tem 10 livros publicados. Pertence á Academia Jundiaiense de Letras, á Academia Feminina de Letras e Artes, ao Grêmio Cultural Prof Pedro Fávaro e á Academia Louveirense de Letras. Professora de Literatura no CRIJU.
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