Nossas cidades no NOVO SÉCULO

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O título deste artigo até lembra um slogan político de algum tempo atrás. Mas não vou falar desta cidade ou daquela e sim das cidades no geral.  O efeito da globalização (quem quiser acrescentar também o tal “globalismo”, pode ter sim ingredientes dele, estejam à vontade) vem mudando o perfil e a imagem das cidades no mundo todo. E as pessoas estão se habituando. Sim, habituando, pois já perceberam que o processo veio para ficar. É um “admirável mundo novo”. Multicultural, cosmopolita, onde o feio e o bonito estão “juntos e misturados”.

Décadas atrás, conforme íamos nos afastando das áreas centrais, o cenário urbano se tornava mais feio. As periferias eram “a visão do inferno” no conceito conservador da época. Onde reinava a insegurança, a miséria, o choro e o ranger de dentes. Era o sistema “apartheid”, onde as classes sociais eram separadas a ferro e fogo. Os projetos habitacionais da época eram a expectativa de acabar com as favelas, deixando as periferias com um aspecto de organização e principalmente controle do estado, de governos, prefeituras. Não foi bem assim que ocorreu. A nova periferia foi pensada inicialmente como dormitórios, onde a população teria que se deslocar de ônibus para toda e qualquer necessidade. Os serviços públicos ficavam distantes. Começaram a ser levados para as periferias muito tempo depois, quando uma “nova cultura” já havia nascido nelas. Os movimentos chamados de cultura alternativa englobaram os tradicionais desenhos, a música e a dança, criando estilos que misturam as raízes interioranas, sertanejas com o meio urbano. Como as periferias deixaram de ser aqueles guetos com marcas de apartheid e foram integradas totalmente às cidades, com serviços públicos e determinada qualidade de vida, as culturas se fundiram. E ao mesmo tempo em que a beleza das regiões centrais foram aplicadas às periferias, o lado grotesco das periferias se espalharam pelas demais regiões, inclusive nas próprias regiões centrais. As pichações, por exemplo, foram assimiladas por tribos de todas as camadas sociais. Temos hoje a pichação presente em todos os lugares de nossas cidades, principalmente nos centros. Em Jundiaí, quem desembarca no Terminal Central, se depara com pichações em todas as direções que direcione o olhar. Inclusive em prédios que outrora eram de famílias tradicionais, imóveis antigos. Assim é nas regiões centrais de muitas cidades. As marcas de uma presença humana outrora segregada cada qual em seu nicho, agora convivendo nos mesmos espaços. Inclusive nos shoppings e igrejas! Qual era o público predominante que frequentava os primeiros shoppings da capital nos anos 80? Que frequentava a Catedral da Sé? E qual era o público que frequentava as igrejas não católicas 40 anos atrás?

Se por um lado este fim dos muros do apartheid proporcionou uma integração humanitária positiva nas relações de trabalho, cidadania, construção social e valores culturais, por outro gerou novos conflitos, já que o principal, que é a evolução espiritual do ser humano, não está sendo levado como bandeira prioritária do novo século. E são justamente estes conflitos que notamos se nos atentarmos aos detalhes de nossas cidades nestes últimos vinte anos. As marcas estão nas paredes dos imóveis, no vaivém de pessoas concentrado nos espaços fechados comerciais… sim, porque os espaços de convívio social como clubes estão acabando. E os espaços naturais, como praças e parques, só são frequentados por uma parcela menor da população. A busca de todos é pelos espaços com apelo ao consumismo. Não importa o poder que tem no bolso, todos querem consumir… não como consumidores e sim consumistas. Porque o consumismo também traz holofote. É um mecanismo de ostentação. E a ostentação fala mais alto que as dívidas, o nome sujo. Isto se esconde; ou, pelo menos se tenta esconder o tempo todo.

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Nestas nossas cidades tão mistas o desafio aos gestores é conseguir captar somente aquilo que lhes interessa para o marketing diário. As equipes de marketing deles, que trabalham freneticamente em busca dos pontos positivos dentro deste mosaico cultural, onde alguns grupos de poder financeiro diferente se entendem muito bem e outros se mantêm em guerra.

Não teremos de volta o cenário das velhas cidades, de décadas, séculos atrás. Mesmo aquelas pequenas, que parecem paradas no tempo, convivem com uma nova geração, cosmopolita. Se as mudanças ainda não chegaram fisicamente em suas isoladas e pequenas cidades, chegaram pelos canais virtuais. E as mudanças no cenário são apenas questão de tempo. O belo, o feio, o bizarro, o subliminar, tudo junto e misturado, das áreas centrais para as bordas.

GEORGE ANDRÉ SAVY

Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.

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