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A coisa pública para um CIDADÃO DOS ANOS 1960

Nasci literalmente no interior da Prefeitura Municipal de Jundiaí, mais precisamente no depósito municipal que funcionou durante décadas na avenida Dr. Amadeu Ribeiro no Anhangabaú, entre o “Bolão” e o “Parque da Uva”. Meu avô e meu pai eram funcionários públicos nessa época e moravam nas casas da Prefeitura. Nasci numa delas e vim ao mundo pelas mãos de uma parteira muito conhecida em Jundiaí e região, a Dona Rita. As mulheres tinham tanta confiança nela que preferiam o risco de fazer o parto em suas casas a ir ao hospital.

Tive uma infância livre e feliz, pois o “meu” quintal era o Ginásio de Esportes Dr. Nicolino de Luca e o Parque Comendador Antônio Carbonari. O primeiro, uma homenagem ao grande médico de nossa cidade e o outro, um bravo imigrante italiano que introduziu o cultivo de uva em nossa terra e a tornou a “Terra da Uva”.

Meu avô Zeca, o “seo” Zé Ferreira, Zé do Oito (número do caminhão que dirigia) um homem com pouco estudo, pois naquele tempo as famílias precisavam do trabalho das crianças para poder subsistir. Quando os pequenos aprendiam ler e escrever, eram tirados da escola para trabalhar. Meu avô trabalhou muito tempo no campo, ingressou na Prefeitura e foi trabalhar como motorista. Passou a ser administrador do Depósito Municipal e se aposentou como escriturário. Autodidata, seu português se tornou impecável.

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Durante o longo período, o Zé Ferreira foi administrador desse depósito que era o local onde abasteciam os veículos da Prefeitura, guardavam ferramentas, lâmpadas, material de apreensão do comércio e também os cavalos. Até o final dos anos 1960 alguns serviços públicos ainda eram feitos com tração animal e foi nesse tempo que eu, com apenas seis anos, fui testemunha de um ato de um homem com espírito público e com respeito pelas coisas do povo.

Numa noite qualquer, uma das lâmpadas de sua casa havia “queimado” e minha avó que também era pessoa reta sugeriu que retirasse uma lâmpada do estoque da Prefeitura e que logo pela manhã ele fosse até a vendinha do seu Tomé e comprasse uma lâmpada e recolocasse no depósito. Minha avó sugeriu pois era uma mulher prática. Mas o velho Zé Ferreira respondeu : “a honestidade não pode esperar até amanhã, as lâmpadas não são minhas e nem são do Prefeito Omair (Dr. Omair Zomignani). São da população de nossa cidade”.

Anos 40: família Ferreira reunida; exemplo de honestidade de Zé Ferreira é lembrado pelos descendentes

O que é afinal ser honesto? Seria só não desviar verbas públicas como vemos enojados todos os dias em qualquer mídia jornalística e vemos acontecer em todas as esferas de governo? Seria não mentir? Não dissimular? Ou simplesmente repudiar qualquer tipo de malandragem da “Lei de Gerson”? É muito mais do que isso. A honestidade nos dá alegria, paz, cabeça erguida, no caso de quem ocupa um cargo público. Também nos dá uma vida mais digna, mais educação, mais saúde, segurança.

Queremos muito, mas muito mesmo, que todos políticos de nosso País tenham essa alegria e essa paz que nós temos e que se espelhem não só no Zé Ferreira mas em todos os nossos ascendentes que foram pessoas de bem, retas e honestas, trabalhadores que com suor e sangue construíram e fizeram jus à frase que aparece no pé do escudo de Jundiaí, escrita em latim “Etiam per me Brasilia Magna”. Ou seja: “também graças a mim o Brasil tornou-se grande”. Ambas fotos tiradas na Fazenda Ermida nos anos 1940.

O relato acima é do professor Maurício Ferreira, uma das pessoas que mais conhece a história da cidade e teve o privilégio de ter um avô que antes de tudo era um verdadeiro cidadão…

 

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