Neste ano de 2021, completa 20 anos que a tradicional Viação Cometa foi vendida ao grupo JCA, do Rio de Janeiro. Para a galerinha nova, que nasceu nestas últimas duas décadas, que importância isto tem ou que diferença faz? Afinal, para boa parte desta nova geração, “ônibus é tudo igual”. Mas não. Há muita diferença de um para outro no mercado de carrocerias. E a tradicional Viação Cometa, que por décadas levou jundiaienses e paulistanos de uma cidade a outra, foi marcante no quesito diferencial.
Vamos relembrar…
A história da Cometa teve início lá no final da década de 30, no serviço urbano de São Paulo. Mas a empresa como a conhecemos foi fundada em maio de 1948 pelo italiano Tito Mascioli, o Comendador Tito. Já na década de 50 suas linhas se espalharam pelo interior paulista e romperam as divisas, chegando a Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, limitando, porém, à distância máxima de 600 quilômetros. Dentre suas linhas mais curtas, estava São Paulo a Jundiaí, numa época em que outras empresas também operavam a mesma rota, diferente da monopolização das linhas estaduais hoje, decorrente do sistema de concessão adotado pelo governo, que não dá opção de escolha aos usuários.
Tito Mascioli importou ônibus dos Estados Unidos na época, veículos que foram marcantes nas rodovias paulistas. O comendador pesquisava a fundo os produtos. Teve em sua frota carrocerias e chassis diversos até optar pela marca Scania, que padronizou sua frota na década de 70. Para a linha de Jundiaí, passaram tanto os GM norte-americanos (inclusive reencarroçado, o último com essa motorização que operou na linha de Jundiaí até meados de 1973, os “Jumbo G”) como os monoblocos Mercedes chamados “Senemby”. Vieram então os “Turbo Jumbo” e, finalmente, aqueles que ficaram bem registrados na memória dos jundiaienses, os “Dinossauros”.
O modelo Dinossauro foi lançado em 1972 pela encarroçadora Ciferal, do Rio de Janeiro. O Dinossauro estreou na linha de Jundiaí em 1977. Com motor Scania 116, era conhecido pelo forte ruído do motor e o desempenho e estabilidade do veículo na Rodovia Anhanguera, onde os ônibus, dirigidos pelos experientes e muito bem preparados motoristas, venciam as curvas e aclives na velocidade limite, fazendo o trajeto em uma hora exata.
A Viação Cometa do Tito Mascioli era sinônimo de segurança, pontualidade, organização, disciplina. A empresa construiu garagens em cada uma das cidades atendidas com ponto final de linha partindo da capital. Em Jundiaí o local escolhido foi estratégico para a época, próximo a estação ferroviária. A garagem foi feita na medida para os 32 veículos que atendiam a frota destacada para a linha, número que não é muito diferente de hoje. A Cometa foi uma das pioneiras no uso de computadores em sua matriz na Vila Maria. Acompanhou os avanços tecnológicos, por outro lado, chamou atenção por preservar determinados estilos, padrões que remetiam ao período que a empresa padronizou seus veículos. O principal, sem dúvida, foi manter as linhas do Dinossauro por muito tempo. Com a paralisação da produção da Ciferal, que entrou em concordata em 1982, a Cometa adquiriu o projeto da encarroçadora e passou a produzir seu próprio ônibus a partir do ano seguinte, o Flecha Azul, com o mesmo design do Dinossauro. A CMA (Companhia Manufatureira Auxiliar) era a fábrica de ônibus da Cometa, onde os ônibus foram passando por pequenas reestilizações até o ano 2000, quando culminou com o rompimento do padrão Dinossauro e foram introduzidos na frota seus primeiros ônibus de três eixos, que ficaram conhecidos como “estrelão”.
Nessas três décadas a população paulista conviveu com a imagem dos “Dinossauros da Cometa”, os ônibus diferentes dos demais. Aquele estilo que lembra os velhos ônibus norte-americanos. As rodas raiadas dos ônibus, que a Scania parou de produzir mas continuou fornecendo exclusivamente para a Cometa em sua constante renovação, até a metade da década de 90. As poltronas em couro legítimo, vermelhas, também exclusividade da Cometa. Por mais que a produção de Flecha Azul, que teve oito sequências, trouxesse sempre uma pequena novidade, algumas vezes imperceptíveis para os passageiros, foi o nome Dinossauro que marcou a empresa. “Vou para São Paulo com o Dinossauro da Cometa”, assim muitos jundiaienses falavam. E se alguém falasse somente Cometa, a imagem que vinha à mente era a do Dinossauro. Quem optava pelo trem, que havia vários serviços na época, falava “vou pegar o trem para São Paulo”. Raramente se falava “vou pegar o subúrbio para São Paulo, ou o litorina, ou o húngaro… falava-se apenas trem. Mas ônibus… era Cometa! Vou pegar o Cometa para São Paulo!
E essa empresa que marcou época continua entre nós. Mas sem o glamour de outrora. Não quero dizer que a empresa decaiu depois que foi vendida, que os serviços sejam ruins se comparados ao passado. Digo em questão de imagem, da impressão que transmite ao público. E a resposta está no conceito emitido pela nova geração. Ela é apenas mais uma dentre todas as demais. Com os mesmos modelos de ônibus. Padrão de serviço similar ao das outras. E nisto há quem diga que melhorou. Sim, os velhos Dinossauros não tinham ar-condicionado nem vidros colados. A refrigeração era o vento entrando pelas janelas abertas pelos passageiros, que bagunçava cabelos e cortinas. Não havia sistema de som e TV, que já existia nos ônibus desde os anos 80. Os ônibus da Cometa traziam o básico e necessário apenas. Mas tinham aquele “algo mais”, que só entende quem foi passageiro por anos.
OUTRO ARTIGO DE GEORGE ANDRÉ SAVY
Hoje a Viação Cometa, do grupo 1001, tem visual arrojado. Ônibus de dois pisos. Wi-fi. Não fica para trás na concorrência. Há exatos 21 anos ocorreu esta mudança, que começou com o “batismo” dos novos ônibus com os nomes de dois famosos cometas; o Halley e o Hale Bopp. Nomes que não caíram na simpatia e memorização do povo como Dinossauro e nem mesmo como o Flecha Azul. Sinal dos tempos? Mesmo com toda a evolução do marketing digital? São fatos que ficamos analisando. E de Jundiaí para São Paulo não sabemos até quando sobreviverá a imagem cada vez mais distante de “dinossauros…” e mesmo Cometa. Não estranhem se daqui em diante ouvirmos, cada vez mais, continuamente, apenas “vou de ônibus para São Paulo”.(Vídeo: Acervo 80hj/Wagner Martins – Fotos: George André Savy)
GEORGE ANDRÉ SAVY
Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.
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