Conhecer para PRESERVAR. O que vem a ser isto?

Essa é uma frase conhecida nos meios ambientalistas, cunhada para ser curta, ritmada e significativa. Conhecer para preservar!!! Tem que dizer a que veio de forma simples e objetiva. Ou seja, se você toma contato com a coisa, conhece, toca, experimenta, vivencia algo dela fica em você, ampliando seus sentimentos em relação a essa coisa. Sentimentos de empatia, de rejeição, de afinidade. A partir disso, abre-se um mundo diferente na forma de se ver essa coisa e…na vida!

Não pense que é só conversa, não. Pesquisas sólidas já comprovaram que de fato há uma série de reações químicas “disparadas” no cérebro quando nossos sentidos se deparam com o “novo”, ativando, desativando e criando memórias. Há muito ainda a descobrir devido à complexidade do assunto, que abrange diversas áreas do conhecimento, para que possamos cada vez mais compreender não só a ciência envolvida, mas a nós mesmos.

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Voltando à área ambiental, essa frase tem uma particularidade interessante: devidos aos preceitos firmados na Lei nº 9.985 de 18/07/2018, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, preservar é diferente de conservar. Como? Preservar supõe-se proteção a longo prazo de espécies, habitats e ecossistemas (art. 2º, V), restringindo-se o seu uso pelo ser humano, ou, em termos práticos, afastando destes o contato de humanos para a preservação do ciclo e do ritmo destas espécies, que necessitam desse afastamento para sua sobrevivência plena.

E conservar? Aí o conceito é mais amplo (art. 2º, II), prevendo o manejo humano da natureza. Inclui a preservação, conceito acima, recuperação e restauração do ambiente natural, utilização sustentável pelas comunidades (…), portanto se entende um “compartilhamento” do espaço físico entre seres humanos e meio natural, águas, seres vivos, solo.

No entanto a frase “conhecer para preservar” pode muito mais. A sabedoria popular traz exemplos do que isso quer dizer: “Coisa nova abre a cabeça da gente”; “ver além de nosso próprio umbigo” ou “viajar para lugares diferentes renova as baterias”, entre outros. Pois tudo o que é novo pode causar um certo susto, ou temor, de início. Sequelas lá de nosso passado longínquo de homem das cavernas (não é que nossa memória ainda guarda?), quando se tinha que ter medo mesmo, sejam de animais ferozes, sejam de raios e relâmpagos.

Ultrapassado esse momento, ou vivido a experiência do enfrentamento de nossos medos, a etapa da resistência é vencida. E nos damos o presente de ampliar um pouquinho mais o que já conhecíamos: “Ah! Não sabia que isso também servia para aquilo”; “Bom, há também esse ponto de vista”; “Legal saber que essa tradição vem devido a um fato histórico”, etc, etc.

No meio acadêmico ouvi uma frase, em aula, passando a carregá-la para a vida: todo esse universo que nos faz observar ao redor, pessoas, saberes, mecanismos, sem que haja limites de cidade, país, Terra, Cosmos, é a “aventura do conhecimento”. Cheio de dúvidas, de percalços; mas de encantamento constante.

Finalizo com um pequenino excerto, do livro “Viagem a Ixtlán”, Carlos Castaneda, Ed. Nova Era/Record. Conta a história, mesclada com ficção, no qual o autor, estudante de antropologia, faz viagens para o México e conhece um velho índio, Don Juan, dele recebendo ensinamentos para suas pesquisas e para sua vida:

 

“Para mim o mundo é fantástico porque é estupendo, assombroso, misterioso, insondável; meu interesse tem sido convencê-lo de que você deve assumir a responsabilidade de estar aqui, nesse mundo maravilhoso, nesse deserto maravilhoso, nessa época maravilhosa. Queria convencê-lo de que deve fazer todos os seus atos contarem, já que só vai ficar aqui pouco tempo; na verdade, tempo de menos para presenciar todas as suas maravilhas.” (Don Juan) 

 


 

 

ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS

Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.

 

 

 

CRÉDITOS/FOTOS

Foto principal(onça): http://bit.ly/2IwORSN

Estrelas no céu – http://bit.ly/2DBbKAH

Imagem final (nascer do sol) – http://bit.ly/2IxA9uS