O tempo da Quaresma, todos os anos, me salva da entrega ao ter, ao ser, ao poder. O ter ao colocar meus interesses como prioridade. O ser de acordo com minhas vantagens. O poder ao me considerar acima de tudo e de todos. E esse tempo é único, porque nele paira o Espírito Santo de Deus que é atual e me oferece conversão. Minhas nódoas se tornam mais visíveis. Necessito melhorar nisso ou naquilo. Em algumas coisas, com a graça de Deus, consegui me apurar um pouco, mas em outras… Não me concluo com frases como: sou assim, é a minha personalidade… No passado, justifiquei-me dessa forma. Para me burilar é preciso que me coloque, diante do Céu, desfeita de armaduras e razões e que permita, mesmo que sangre por dentro, que o Senhor aja. Dentre os meus anseios se encontra o de que Deus alargue de tal forma o meu coração, que os sentimentos ruins escorram e que eu carregue apenas os de luz, de misericórdia, de abraço, de aconchego, de perdão; sentimentos nobres em sua essência. Que meu coração se mova, nas horas diversas, ao encontro do próximo. Mas é tão difícil. Basta, às vezes, um grãozinho de areia, para que meu ego se agigante.
Recupero parte das reflexões, em homilias na Catedral NSD, que me marcaram. Logo no início do ano, na Festa da Epifania, o Padre José Brombal comentou que o Senhor continua a se manifestar, assim como aconteceu aos Reis Magos, basta querer ver, e citou, como exemplo, na visita a um doente. O rosto de Deus na face dos necessitados. Ainda em fevereiro, o Padre Leandro Megeto citava que Jesus saiu das letras da palavra escrita e entrou na vida. Conhecer a Palavra sim, mas negá-la, em atitudes, de nada adianta. E na Missa de Cinzas acrescentou sobre como desobstruir o coração e fazer tudo pelo Novo.
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No seu convite à Quaresma, o Padre Milton Rogério Vicente falou sobre Deus colocado “nas prateleiras” da sociedade contemporânea, que O busca, como mercadoria, nos apertos. E nos convidou a perceber os posicionamentos em que nos colocamos como Deus e tudo aquilo que está tirando o lugar de Deus em nossa vida.
Há, ainda, uma reflexão do Papa Francisco, em seu “Devocional”, que me impressiona: não dialogar com Satanás; não dar asas à minhas tentações.
Essa Quaresma me desafia com o propósito de permitir que Deus restaure, nem que seja uma partícula, de Sua imagem e semelhança em mim. (foto acima: www.jovenscatolicos.com.br)
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MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social.