Após idas e vindas, no dia de ontem, o PSDB decidiu fechar questão e ficar no governo de Michel Temer. Em Jundiaí, assistimos há anos o discurso público e ferrenho de figuras do PSDB contra os atos de corrupção praticados pelo PT. Durante as manifestações que culminaram com o impedimento de Dilma, os tucanos Luiz Fernando Machado e Miguel Haddad foram figuras centrais no enfrentamento do então governo petista. Diziam ser contra a corrupção. Acusavam os desmandos do PT em alto e bom som. De fato, o PT merece todas as críticas recebidas e mais um pouco. Um partido político que entrou no poder e rapidamente começou a se beneficiar e aprofundar esquemas que realizam tenebrosas transações. O PT foi uma grande decepção para o Brasil, assim como foi o governo de Pedro Bigardi. Um governo que prometeu o novo e entregou o velho e que neste sentido aparelhou a Prefeitura de Jundiaí com seus apadrinhados políticos.
O tempo passou e as artimanhas de Aécio Neves vieram a público. Pior, gravações e indícios fortíssimos de que o então candidato a presidente do PSDB, que dizia que iria salvar o Brasil da corrupção, mostrou-se ser exatamente aquilo que criticava. Temer, por sua vez, foi flagrado em conversas nada republicanas, literalmente em um porão, com o suspeito dono da JBS. Seu assessor direto foi filmado recebendo uma mala de dinheiro. Isso sem falar nos outros ministros e assessores contra quem pesam inúmeras dúvidas a respeito de suas condutas. O que fez o PSDB e os tucanos de alta plumagem jundiaienses: calaram-se quanto a Temer, aceitaram o ditame de seu partido de ficar no governo e também nada disseram de substancial para condenar Aécio Neves. João Dória, nova estrela do ninho tucano, defendeu publicamente o apoio ao governo Temer dizendo que “nosso inimigo é o PT”.
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O que estamos assistindo é que Machado, Haddad, Dória e tantos outros que falavam grosso contra as tramoias do PT, mas falam fino ou se calam diante dos desmandos de seus companheiros de partido e aliados. Ao fazer isso, mostram que o discurso pela ética na política contra o PT era mera bravata eleitoreira para enganar os crédulos cidadãos que estão cansados de tantos absurdos de nossos políticos. Ao fim e ao cabo, PT e PSDB são faces da mesma moeda de um jeito antiquado e patrimonialista de fazer política. Como mostra o caso dos tucanos de Jundiaí, eles não estão preocupados com questões substantivas por um melhor país. Quando a situação envolve o próprio PSDB e aliados, os tucanos de Jundiaí tem as mesmas atitudes que os petistas tinham. Enquanto isso, a sociedade assiste atônita a completa falta de coerência dos tucanos e dos petistas. Precisamos, urgentemente, de novos nomes na política, que defendam outras práticas de verdade, não apenas como bravata. Mais importante do que tudo: é urgente cobrar de nossos políticos coerência no discurso e na prática. Não podemos aceitar que políticos tenham corruptos favoritos. (ilustração acima: www.minutodesilencio.com)
RAFAEL ALCADIPANI
Professor universitário e jundiaiense. E-mail: Alcadipani@gmail.com