Entre o CRER e o viver…

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Entendo que existem muitas situações instigantes e efervescentes em nossas Vidas, mas percebo que entre o crer e o viver situa-se uma das maiores fontes de ebulição e inquietação dos tempos modernos. Hoje, o viver tem uma velocidade infinita e o crer assume um papel secundário na Vida de alguns, que modernamente se sentem ateus ou, na melhor das hipóteses, se afirmam descrentes das formalidades religiosas.

Por mais de uma vez, trouxe à discussão a diferença gigantesca entre fé e religiosidade, o que não farei desta vez, apesar de estar pisando neste território. Preocupo-me em perceber que sempre é difícil viver e crer ao mesmo tempo, como se as partes envolvidas fossem distantes uma da outra e não fossem composições de uma única essência. O homem não está dando conta de se desenvolver em seus quatro domínios (cognitivo, afetivo-social, psicomotor e religioso), favorecendo que surjam distorções em suas atitudes.

Em função disso, não sei o quanto vocês pensaram, mas a carência é muito perigosa por nos fazer permitir que violem nossos espaços íntimos, por temermos perder a parceria de uma pessoa que nos faça mal, mas que é nossa companheira (gostamos de alimentar nossos algozes!!!). E, muitas vezes deixamos o barco correr, ou por temer a solidão ou por um ato religioso qualquer, de acolhimento, que venha a nos doer ou prejudicar.

A Vida e os estudos nos fazem perceber que a inteligência emocional precisa estar sempre atenta para que apuremos melhor e mais rapidamente a percepção daquilo que nos serve e daquilo que não nos convém. O fato de temermos um momento a sós ou um período sem parcerias não pode soar como algo ruim ou uma perda, mas como um momento de crescimento e que sempre é bem-vindo por nos possibilitar o tão pretendido autoconhecimento.

Neste aspecto, contudo, é preocupante perceber que algumas pessoas nem mudam nem conseguem se afastar dos seus algozes que os matam por dentro, minando suas intenções e iniciativas, anulando-as e, um grande passo para a libertação destas situações é acreditar no poder de transformação interna e contar com uma boa rede de apoio que nos mobilize com eficácia e segurança. Sempre é tempo para reiniciar, em especial quando estamos munidos e seguros de nossas crenças. Sempre é possível se reinventar…porém, é preciso que se queira e tente, que se permita mudar.

Percebemos que algumas decisões são fruto de anseios antigos e outras são totalmente pontuais e recentes, fazendo com que fiquemos titubeando entre escolhas e incertezas, muitas vezes por medo de escolher e outras vezes pelo desconhecido que sempre aparece como um vilão. O novo sempre soará como algo a ser evitado. Em função disso, nossas decepções, vacilos e erros são avaliadas e ganham status de aprendizagem, enquanto se busca entender qual será a ordem da Vida, a partir delas.

Vale perceber que, temos a Vida que sempre nos pede paciência e respeito aos limites, visto que respeito a si é algo a ser promovido à lei pessoal e imperativa, ainda que só respeitemos aos outros. O desenvolvimento humano vai sugerir que deixemos a Vida correr, buscando compreensões e diálogos que sempre terminam em monólogos e queixumes, mas sem tirar os demais envolvidos de sua posição cômoda e insonsa, ou somos confrontados com nossas vitórias pontuais e percebemos que somos capazes, sim, de grandes conquistas.

Entretanto, analiso à distância (e internamente, também) o quanto se escolhe sofrer para não magoar o outro. Por que será que alguns de nós optam por ser o que carrega o piano, escreve a partitura, toca a música, lustra o móvel e ainda se sentem em débito com o outro. Por que insistimos numa situação sem futuro e sem consequências razoavelmente saudáveis para ambos? Por que nossas crenças são tão limitantes e tão impiedosas conosco? O que me fala alto, e fala internamente, é que a falta de crença/fé torna tudo mais difícil.

Vejo que, bem na contramão da história, o outro não gosta de piano, não curte a música, não se preocupa com a sujeira do móvel e não se preocupa com absolutamente nada, apesar de fazer de conta que se interessa pelo enredo existente apenas porque é conveniente a ele. Sobre quem tanto faz para manter a relação interpessoal em pé nada é proposto nem apoiado; por isso vemos tantas Vidas solo.

Daí, somos alertados para ver/saber que a melhor das miragens, sim, está dentro de nós mesmos. Nossas transformações somente serão efetivas se nos permitirmos aceita-las e, acima de tudo, concordarmos que muitos fantasmas precisam ser exorcizados. A fantasia só é benéfica, se houver crescimento e concretude nela, caso contrário, só será agradável para um dos lados da relação. Isto é crença/fé: em nós próprios, nos outros, nas experiências, em Deus. A dependência emocional apenas permitirá que alguém tenha pleno domínio sobre outro, com ou sem consentimento.

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Cada vez mais percebo que não existe motivos para se iludir: oportunistas também são conhecidos como amigos, irmãos, colegas, parceiros, familiares, alunos, vizinhos, patrões, chefes, coordenadores, filhos primos, pais, namorados, esposos, enfim…todos os que, de plantão, aguardam a oportunidade para vampirizar a Vida alheia, numa cena de total insanidade, consciente ou inconscientemente. Santa ingenuidade e santo medo de caminhar só. Santo desespero em se fazer acompanhado por pessoas que não merecem nossa confiança e companhia.

E, entre o viver e o crer eu opto por viver crendo, uma vez que me alegro e me fundamento em minha fé. Não sou dos maiores exaltadores da fé, mas creio e muito. Em relação à Vida, quero-a como a tenho e preocupo-me por estar vivendo dentro das perspectivas de um homem da minha faixa etária (sem mais nem menos), aprimorando-me cada vez mais e acreditando que meus médicos me reservam uma velhice suave e justa. Isso só consigo por crer em minhas escolhas e por crer em quem caminha comigo. Não… eu nunca estou só!(Foto: Keegan Houser/Pexels)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Leciona na Faculdade de Psicologia UNIANCHIETA. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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