Você está no conforto do seu carro, ouvindo uma musiquinha, esperando o semáforo abrir quando, de repente surgem duas figuras pitorescas – Deadpool e Capitão América – que deixam um saquinho de balas no retrovisor do carro. Lá tem uma mensagem diferenciada. Eles não repetem aquele discurso de que poderiam estar roubando ou furtado mas preferiram comercializar doces. Com as fantasias, os super-heróis das esquinas de Jundiaí ganham a atenção de quem está nos veículos. A mensagem no pacote de balas faz o resto do serviço. Ambos pedem ajuda para cumprirem uma meta. Com menos de 10 palavras, os dois sensibilizam o público e vão ganhando dinheiro para transformar os sonhos em realidade. Deadpool quer montar um estúdio fotográfico. Capitão América, pasme, quer casar.
Quem dá vida ao herói de fantasia vermelha é Cícero Rogério, de 39 anos, casado, pai de uma menina de 12 anos. Por mais de 10 anos foi inspetor de qualidade da Takata. Desde fevereiro está desempregado. Ele foi convencido pelo gaúcho Lucas Brandão, 26, casado, pai de um menino de três anos. A esposa dele está grávida de três meses. Lucas é eletricista automotivo, especialista em marketing digital e nos semáforos encarna um Capitão América magricelo.
Foi em Jaguarão, na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, que Lucas passou a imaginar uma forma de dar uma virada na vida. O relacionamento não ia bem, as vendas de baterias para carros também. Ele encasquetou que queria se mudar para o Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo começou a pesquisar na internet o que poderia fazer para ganhar dinheiro. Achou um vendedor de balas nos semáforos de Porto Alegre que dizia vender R$ 300 numa só manhã. “Caraca, vou trabalhar com isso também”, conta ele.
Há quatro meses, Lucas arrumou as malas e veio para Louveira. Falou de seus planos para um amigo que não se convenceu facilmente. Só quando viu o vídeo do vendedor de Porto Alegre, o colega decidiu largar o emprego e vir para Jundiaí vender balas com Lucas na região da Ponte Torta. “Conseguimos R$ 300 numa só manhã”, relembra o Capitão América.
Logo no início ele decidiu oferecer as balas de forma diferenciada, algo que ocorre até hoje. É aí que entram as metas. “Oferecemos de um jeito diferente. A gente mostra o nosso objetivo. As pessoas se identificam e ajudam”, explica. Lucas diz que ainda está longe de cumprir a própria meta. “Vim para São Paulo com uma mão na frente e outra atrás. Tenho os custos da casa, pago aluguel”, diz. É neste ponto que a história do gaúcho e de Cícero se cruzam. A casa onde Lucas mora é da mulher do Deadpool.
Há pouco mais de um mês, falando sobre a vida, Lucas convidou Cícero para “levantar uns trocos” para pagar as contas e montar o estúdio fotográfico. Como? Vendendo balas nos semáforos. No início, o futuro Deadpool não gostou muito da ideia. Tímido, não conseguia se imaginar correndo entre os carros. “Também tinha a vergonha de saber que uma amiguinha da minha filha poderia me ver. Mas eu conversei com ela. Minha menina disse que se era para pagar as contas, que se não houve problema nenhum, estava tudo bem e que ela até ajudaria a fazer as balas.
Cícero acompanhou Lucas e acabou tendo a ideia de ambos usarem fantasias. “No início, o Cícero pensou na Peppa Pig e outros personagens bem infantis”, lembra Lucas. O colega mirava nas crianças para conseguir os centavos dos pais. “Depois tivemos a ideia de comprar aqueles cosplay(fantasias bem detalhadas). Mas tinha a questão do dinheiro. Uma destas chega a custar R$ 2.500. Optamos por comprar o Deadpool e o Capitão América numa loja xing ling para testar. Além disto, existe o preconceito. Muita gente acha que vendedor de bala é vagabundo ou drogado. Achei que as fantasias poderiam quebrar este paradigma, explica Cícero.
Primeiro veio a fantasia de Deadpool, personagem que a maioria dos adultos gostam. E são os adultos que têm dinheiro para comprar balinhas. Com os reais pingando com mais frequência, o Capitão América chegou. As fantasias custaram R$ 280. Dia sim, dia não, eles gastam R$ 45 em balas. “O retorno é bom. Já chegamos a ganhar R$ 200 num dia”, revela Cícero. A jornada é das 7 às 19 horas, faça sol, faça frio. Não existem semáforos preferidos. Os super-heróis das balinhas vão onde os semáforos ficam fechados por mais de um minuto. Eles precisam ter tempo para serem vistos, deixarem as balas, terem as mensagens lidas e recolherem os pacotes e dinheiro.
Quase sempre a reação dos ocupantes dos carros e motos é simpática. “Hoje, com as fantasias, o máximo que acontece é a pessoa fechar o vidro. Mas antes chegaram a falar: um homem deste tamanho, forte, vendendo bala, só pode ser vagabundo. Se conhecessem minha história, duas décadas atuando como inspetor de qualidade, não falariam isto”, revela Cícero. Correndo cerca de 10 quilômetros por dia entre os carros, ele explica que está bem perto de juntar o dinheiro necessário para abrir o próprio estúdio fotográfico. “Acho que terei de vender balas mais uns dois meses ainda”.
Deadpool e Capitão América dos semáforos fazem a festa da criançada. Tiram fotos com os pequenos fãs. “Motoboys param e filmam a gente para mostrar para os filhos”, diz Cícero. Já Lucas, quando questionado sobre a magreza do Capitão América, já tem uma resposta na ponta da língua: É a crise! Eu sou um herói pós-Covid”. Em 30 dias de trabalho com fantasias já receberam convites para animar festas infantis. Quem estiver interessado em contratar a dupla de super-heróis(ou dar uma força nas carreiras oficiais deles), pode ligar para (11) 9 5318-1900. Quem vai atender é o Deadpool. Ou melhor, o Cícero. O Capitão América, no momento, não tem telefone.
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