Tive a oportunidade de ver e ouvir, durante toda minha vida, muitas coisas. Algumas, já me acostumei. Porém, depois de tanto tempo, o que mais me intriga é a história do primeiro negro a conseguir algo. Sempre que um negro consegue algo ou se destaca, as manchetes, em qualquer situação ou fato, é sempre a mesma. Primeiro negro a tal coisa. Primeiro negro que fez isto, primeiro negro com aquilo. Como se as oportunidades sempre só fossem as primeiras, as únicas e nenhuma mais além dela. Nos Estados Unidos após 140 anos, primeira ópera de um compositor negro estreará oficialmente em Washington DC, Maryland e Nova York. A ópera é a ‘Morgiane’, de Edmond Dédé, um talentoso músico nascido em Nova Orleans, em 1827. Ele também era abolicionista e enfrentou inúmeras barreiras devido a cor da pele.
A realidade é que nos Estados Unidos – na pessoa de Dédé – os negros (já) estavam participando da música clássica. A partitura da ópera foi considerada “perdida” por muitos anos, até ser “misteriosamente” descoberta nos arquivos da Universidade de Harvard. “Há uma história que contamos de que pessoas negras estão apenas agora se tornando parte da linha do tempo da música clássica” disse Patrick Dupre Quégley, maestro da ópera.
“Morgiare” conta a história de uma jovem sequestrada e forçada a um noivado com um sultão, enquanto sua mãe desesperadamente tenta resgatá-la. Dédé era tão detalhista, que deixou sua ópera exatamente como deveria ser dirigida. O manuscrito abrange dois volumes com mais de 500 páginas de notações para cada instrumento da Orquestra.
O maestro de Patrick Dupre Quigley descreveu a obra de Dédé como a “ópera mais importante nunca ouvida”. Será apresentada ao público proporcionando uma oportunidade única de celebrar o legado de Dédé e adicionar o nome dele ao cânone dos compositores americanos.
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E já não é sem tempo porque, acredito, assim como essa ópera devem existir outras obras escondidas ou desprezadas por terem também sido criadas por negros. Teremos de esperar a boa vontade dos brancos para torná-las públicas. E assim vai ser, porque assim é, assim o sistema está estruturado. Mas, o Afrofuturismo corrigirá as falhas, verificará as fontes e construirá o futuro com mais veracidade.
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LUIZ ALBERTO CARLOS
Natural de Jundiaí, é poeta e escritor. Contribui literariamente aos jornais e revistas locais. Possui livros publicados e é participante habitual das antologias poéticas da cidade.
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