DENISE, a dona da alegria e do improviso

denise

“Entre vivenciar a ‘Panorama’ de perto, ser imobilizada com garfinho e arrancar gargalhadas no meio da pauta, ela provou que notícia boa também dá espetáculo”. Pauta monótona? Isso nunca existe quando a jornalista Denise Pinto de Oliveira está presente. Ela é daquela categoria de amiga que entra na cena e muda o roteiro. Conheci a Denise quando eu era repórter do Jornal de Jundiaí e ela, assessora de imprensa nos anos 1990, na gestão do saudoso prefeito Walmor Barbosa Martins, lotada na Coordenadoria Municipal de Cultura e Turismo de Jundiaí.

Nos cruzávamos em algumas pautas, principalmente nos carnavais em terras de Petronilha. Em uma dessas coberturas, quase virei manchete por acidente: um presidente de escola de samba, indignado, lançou um troféu em móvel, em que eu conversava com o coordenador de Cultura Sérgio Dias. Só não fui atingido porque Dias me empurrou para trás, o troféu passou entre nós. Saí ileso. Já o troféu… bom, digamos que antes ele do que eu.

Meses depois — e muitas pautas culturais depois também — recebo uma ligação da Denise:

“Oi, Édi, tudo bem? É o seguinte: o Celso de Paula (jornalista que na época também era assessor na Cultura) vai sair de licença para se candidatar a vereador nas eleições de 1992. Falei com o Sérgio e sugeri que contratasse alguém para este período. Indiquei o seu nome. O trabalho é no horário em que você não está no jornal, e as demandas, além do dia-a-dia, são a Festa do Morango e o 1º Salão de Artes de Jundiaí”.

Claro que aceitei. Primeira experiência em assessoria de imprensa, nos meus 20 anos, ainda mais ao lado da Denise, que já vinha das redações e rádios locais. Nessa empreitada, ela levou também o fotógrafo Nilson Cologni, que trabalhava comigo no JJ e viramos um trio inseparável na sala mais agitada da Coordenadoria. Às vezes, ouvíamos o Sérgio, sempre gentleman, chamando nossa atenção com voz suave:

“Dona Denise, seu Édi”.

Mas as pautas eram cumpridas religiosamente — e com muita alegria.

No início do contrato, fomos mover uma mesa para caber nós três na mesma sala. Eu e Nilson não vimos que havia um dedo entre a parede e a quina. Empurramos a mesa e… o dedo era da Denise! Tenho quase certeza de que, se não tivessem demolido o antigo prédio da rua Marechal, a digital do dedão dela ainda estaria marcada na parede.

O grito e a cara de dor deixaram claro que precisávamos imobilizar o dedo. Mas com o quê? No porta-canetas dela havia um presente do filho Gabriel, feito no jardim de infância: um garfinho de madeira de bolo de aniversário com um bonequinho na ponta. Não pensamos duas vezes. Quebramos o garfinho para tirar a parte que espeta, improvisamos com fita crepe da Fabiane Ibañez, do administrativo da Coordenadoria, e desenvolvemos, ali mesmo, uma técnica pioneira de mumificação ortopédica do século XX. Depois, no pronto-socorro, confirmaram que não tinha fratura. Ainda bem, porque senão poderíamos responder por exercício ilegal de técnicos em imobilização ortopédica.

A Festa do Morango nos rendeu muitas situações de riso incontrolável, daqueles que bastava olhar para o outro que a gargalhada vinha automática. O Sérgio transformou a escolha da Corte da Uva em um baile de gala. Quem deu o toque final? A bailarina e coreógrafa Eliana Brega, inovando como sempre. Criou uma passarela em formato de X, ensaiou exaustivamente com as candidatas e botou disciplina na Terra da Uva.

Na consagração da rainha e princesas, Eliana combinou com o pessoal da Secretaria de Serviços Públicos e liberaram a pista. Dançamos como se não houvesse amanhã, com coreografias improvisadas. Eliana fingiu que não viu. Fechamos o saudoso salão do Grêmio CP Clube com chave de ouro.

Chegou a Festa do Morango, em agosto, que se intercalava com a da Uva. Fizemos de tudo: revista com a história da festa, releases, corte do Morango, programas de TV… Vimos a Hebe Camargo de perto (uma gracinha!), o Gugu, e visitamos redações de São Paulo, Campinas e região. A divulgação era intensa, e naquela época não existia Red Bull para nos dar asas. Sobrevivemos à base de sanduíche de muçarela com apresuntado e guaraná.

Na estratégia que a Denise montou com Sérgio, tinha corpo a corpo com o público. O cantor Lobão era uma das atrações, e fomos ao show dele no Vale do Anhangabaú com as “moranguinhas” — lideradas pela Sibele Juvella — para distribuir folders da programação.

LEIA OUTRAS CRÔNICAS DE ÉDI GOMES

RENATA, ACHO QUE TE CONHEÇO DE OUTRAS ENCARNAÇÕES

RG DO LATORRACA?

NO FUSCA DA IMPRENSA SEMPRE CABE MAIS ‘UNS’

Fomos de Kombi, conduzida pelo seu Campos, motorista tão quieto que, quando ria, era sinal de que a piada tinha qualidade. Denise já desceu organizando tudo:

“Todos em dupla, cuidado, sorriam, entreguem os folders e não atrapalhem o show”.

Tudo bem, mas depois de entregar, veio a necessidade coletiva de ir ao toalete. Ali havia a Lanchonete Panorama, que cobrava um valor simbólico para usar o banheiro. Denise entrou acompanhada da Aline, carinhosamente apelidada de Maria Branca. Quando saíram, Denise disparou:

“Descobrimos o porquê do nome Panorama. Tem um buraco no banheiro, e quando olhamos, tinha uma cabeça de alguém querendo ver o panorama. Mas não viu!”. Até hoje quando ela conta a história é gargalhada geral. Quanto à foto que ilustra este artigo, ela é prova de que na pauta tem que ter alegria: eu e Denise Oliveira, com peruca e óculos para fantasia, na assessoria de imprensa da Prefeitura de Jundiaí, numa sexta-feira de Carnaval._ 

Com Denise, não faltam histórias. Ela já barrou secretária municipal em camarim, rodou cachecol em show de famoso, ficou com a língua roxa em degustação de vinho e foi flagrada comprando na banquinha de camelô. Mas essas ficam para a próxima crônica.

MIGUEL ÉDI GOMES

É jundiaiense, tem 53 anos. É formado em jornalismo pela UniFaccamp e atualmente faz parte da equipe da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES