O menino chegou à escola desordenado. Depois da última discussão com a mãe, apesar de apenas 10 anos, pensava que deveria tomar uma atitude. Ao entrar na sala de aula, implicou com a menina que conversava na porta com uma amiga. Percebia-se que a maré não estava para peixe, como se diz. Ou aquilo que dizia um funcionário da casa de nossa avó paterna ao perceber que ela se encontrava brava: “Cuidado que a tremosfera (sic) está carregada”.
Em casa falou que não iria para a aula. Usou vários argumentos: dor de barriga, de cabeça, enjoo… Não adiantou. Na escola a professora daria exercícios e como poderia ele ficar pensando em sua decisão.
Não se recordava do pai. Parece-me que se viram nos primeiros meses dele. Depois o indivíduo se distanciou para continuar na “liberdade’ que apregoava, sem admitir as amarras do álcool e das drogas ilícitas e, também, as maneiras menos corretas para conseguir adquiri-las.
Fazendo um parêntese, um dia desses, uma pessoa da noite falou que a “pinga do capeta” substitui qualquer droga. Segundo ela: etanol puro, uma forma de perder a consciência com investimento menor. Meu Deus do Céu!
Voltando ao menino: a professora chamou a atenção dele várias vezes. Não percebera que estava com uma pendência e precisava refletir do jeito dele. A mãe, quando ele fazia alguma peraltice – eram constantes -, gritava que iria entregá-lo ao pai, Ao perguntar sobre ele em certas ocasiões, comentava-se na casa que era um perdido, sem responsabilidade alguma, desinteressado no filho, chegando a roubar os próprios pais, que chamavam a polícia para ele. Diversas vezes, no entanto, a mãe falava que o amava, que não viveria sem ele, que fora a melhor acontecimento de sua vida. Ficava com a cabeça quente. Se estava no coração dela e o pai era tudo isso, porque berrava que iria se desfazer dele.
A avó materna lhe contara que pai morava continuamente na rua, pois ninguém o queria.
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A contradição, naquele dia, foi crescendo dentro do menino, mais do que em outros. Tinha curiosidade sobre o pais, mas não queria morar com ele em um canto qualquer.
A professora o advertiu por estar distraído. Ficou nervoso e jogou o estojo no chão. A professora fez pegar e, em seguida, passou-lhe uma tarefa em um papel à parte. Fez o que era preciso contudo, no lugar da identificação, fez um rabisco em protesto ao seu nome e sobrenome. Identidade ferida. Que triste!(Foto: Monstera Production/Pexels)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
É professora e cronista
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