Em Jundiaí, o mês de agosto foi todo dedicado ao patrimônio histórico-cultural da cidade. Uma infinidade de atividades que visavam falar sobre nossa história, nossas heranças e sobre o futuro de nosso espólio coletivo foram ofertadas, como, por exemplo, passeio ciclístico fazendo a rota turística dos monumentos da cidade, eventos no Parque da Cidade e no Parque da Uva, debates sobre políticas públicas, entre outros. Durante o dia 24 desse mês, aconteceu, também, o 6º Simpósio de Patrimônio Material e Imaterial.
A iniciativa de incentivar a população a conhecer os patrimônios de Jundiaí e louvável, mas está longe de ser perfeita. Primeiramente, muitas das atividades foram oferecidas somente durante a semana, como o 6º Simpósio,que ocorreu em uma sexta-feira. É importante lembrar que a maior parte da população trabalha no horário em que as palestras e debates foram feitos, de modo que os períodos escolhidos excluem quem deveria ter a oportunidade de participar de tais ações.
Além disso, o que foi divulgado de maneira intensiva foi a programação já fechada. Qual foi o período de inscrição para os pesquisadores que tem interesse em se apresentar? Só para citar dois exemplos, a mestranda da Universidade de São Paulo, Narayan Porto, que estuda alguns processos de feitiçaria do século XVIII que envolvem cidades do interior, como Jundiaí, não pode passar as informações para a população sobre seus achados, pela falta de divulgação de informações para as inscrições.
Outro exemplo é o de uma professora da USP que foi convidada para palestrar sobre a importância do patrimônio, mas eu, que estudo pela mesma universidade os manuscritos mais antigos salvaguardados em Jundiaí, as Cartas de Datas de 1657 e as Atas da Câmara de 1666, não tive a oportunidade de mostrar os documentos e suas transcrições para a população. Isso se deve não somente por não ter sido convidada, mas principalmente por nem ter ficado sabendo de possíveis chamadas para as apresentações. É importante ressaltar que as pesquisas como as que desenvolvo são financiadas pela população, uma vez que o projeto está vinculado à uma universidade pública, de modo que o interesse é sempre fazer com que os cidadãos fiquem sabendo dos resultados obtidos e de dados que possam ser interessantes.
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Assim, uso esse espaço para questionar fortemente quem realmente foi o público-alvo do Mês do Patrimônio Histórico e Cultural de Jundiaí, pois o papel da ação desenvolvida pela prefeitura e órgãos responsáveis deveria ser o de priorizar a população que não pode ter acesso sempre à cultura e pode não conhecer a quantidade magnifica de história que temos para contar por meio de nosso patrimônio. Além disso, de que maneira foi feita a seleção dos palestrantes para todos os eventos, já que o mais lógico seria dar espaço para a apresentação de dados de pesquisas que tem como foco Jundiaí, para que os jundiaienses saibam cada vez mais das riquezas patrimoniais que guardamos?
Jundiaiense, mestra em Filologia e Língua Portuguesa pela USP, técnica em conservação e restauro de documentos em papel pelo SENAI e professora de Francês e Inglês na Quero Entender – Aulas Particulares.
A resposta da Prefeitura:
A Unidade de Gestão de Cultura (UGC) informa que a iniciativa inédita e pioneira da criação de uma programação para o Mês do Patrimônio Histórico e Cultural surgiu da demanda pela popularização do assunto, com foco não apenas às discussões acadêmicas, até então único objeto de atenção de eventos anteriores. Para o evento, foi criado hotsite (https://cultura.jundiai.sp.
Mais especificamente para o 6º Simpósio, a divulgação contou com o apoio da Fatec e da Unip, parceiras da organização. Com programação absolutamente gratuita e em diversos locais e horários, inclusive aos finais de semana e no período noturno, o Mês do Patrimônio não fez convite direto a palestrantes, que demonstraram interesse após divulgação vis site oficial. De todos os eventos, o único restrito à participação foi a Câmara Técnica do dia 14/08, por se tratar de uma discussão direcionada aos membros do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac). A UGC reitera que, apesar de estar em sua primeira edição, o Mês do Patrimônio já demonstra resultados, inclusive com a apreciação do público, mas que sugestões como esta serão tomadas em consideração, a fim de aprimorá-lo ainda mais.