A difícil TAREFA de se encontrar

TAREFA

Então, a questão é acolher. Acolher sempre, acolher de boa, acolher… Mas o que seria acolher? Basta ter um sorriso na cara e já é acolher? Basta ser participante do Facebook com mais de 1000 faceamigos que já acolheu? Será que basta dar esmola nos semáforos (em Jundiaí quem o fizer ficará em estado de extrema pobreza, porque só tem pessoas em todos os semáforos vendendo pente, escova de dentes, jujuba, maria-mole, faca, pé de moleque, saco de lixo…ou fazendo malabares, dancinhas, tocando violão)? O ato de acolher faz parte da difícil tarefa de se encontrar.

Pois é, a coisa é bem mais complexa. Demanda muito mais que um simples sorriso e um simples olhar. Acolher nos coloca movimento interno em dois planos: o plano físico (com nossa linguagem corporal) e o plano cognitivo-emocional ( com nossos afetos, emoções e sentimentos). Isso é uma tarefa para poucos, apesar de muitos acharem que a fazem e fazem bem.

Acolher não é ser caridoso, se bem que alguns caridosos são acolhedores; acolher não é se entregar, apesar de que alguns que se entregam são acolhedores; acolher não é ouvir, apenas. É um misto disto tudo, manifestado em “nosso corpo que consente em querer acolher e querer ser acolhido”. Manifestado em nosso corpo, acho que fui claro, não?

Porque é em nosso corpo que todas as nossas emoções, sentimentos e afetos se apresentam, para que todos (e nós próprios) possam perceber e retribuir ou refutar. Esquecemos disso. Esquecemos que falamos com nosso corpo e ele tem diálogos muito bem estruturados e fundamentados, justificando suas manifestações e nossos estados de humor. O corpo é tão ou mais inteligente que tudo aquilo que produzimos intelectualmente, por segregar e liberar a mescla equilibrada de sentimentos e gestos, ordenadamente.

Então, e o acolher?

O acolher é bem assim: ouvir e ver; analisar; falar e abraçar.  Sempre nesta ordem, pois implica num jogo de mãos duplas, em que não somente se acolhe, mas recebe-se o acolhimento instantaneamente. É um dar-receber em múltiplas feições e intensidades, de maneira nem sempre ordenada, nem sempre direta, porque ele (o acolhimento) é o próprio sistema dinâmico da vida: origem e fim do caos.

Por que do caos? Porque cria uma instabilidade no ato de acolher: será que serei compreendido? Será que devo falar? Será que devo agir será que devo procurar? Será que devo abraçar? E, no outro lado: será que devo me entregar? Será que posso confiar? Será que serei bem entendido? Será que não é besteira? Será que não é frescura minha? Será que digo que só quero um abraço? Que só quero ser ouvido? Que só quero ser notado? Que só quero ser valorizado?

Conheço espaços profissionais onde pessoas entram equilibradas e depois de poucos meses de trabalho ficam desajustadas, sem estruturas. Pior: sem ter em quem confiar e percebendo que são apenas massa de manobras; manobras de todas as naturezas, sejam lá quais forem. E, transforma-se em dependentes, por necessitar do emprego.

Vamos pensar: se existe a manobra, existe quem seja manobrado e quem exerça esta função de manobrar, correto? Podemos quebrar este ciclo? Sim, podemos e devemos. Mas é preciso que os envolvidos percebam e analisem seus gestos, suas ações e seus sentimentos em cada um de seus atos, senão haverá uma pseudomudança e tudo permanecerá como sempre esteja: um pensa que acolhe e outro pensa que é acolhido.

No estado de humor, espaço intimo e personal, somente eu posso falar de mim. Ou somente você sabe o que se passa. Mas viver com o sorriso facebookiano não é a solução nem evita maiores problemas; muito ao contrário, porque parecemos a sublimar espaços, situações e companhias que gostaríamos de ter por perto, mas nada flui para isso.

A frequência obstinada no mundo virtual, que hoje já abre até canais de espiritualidade, nada mais faz do que sugerir um acolhimento, junto aos milhares de amigos, que não se concretiza e amplia nossa gama de desejos e de obstinações: nunca vimos tanta frustração e desesperança do que a presente na juventude facebookiana, dizem as sérias pesquisas do ciberespaço.

OUTROS ARTIGOS DE AFONSO MACHADO

FRÁGIL HUMANIDADE

LIBERDADE, ABRE ASAS SOBRE NÓS!!!

A VIDA É UM ENORME DESAFIO. QUEM VAI ENCARÁ-LA?

UM BRINDE AO NONSENSE

EU QUERO ESTAR BEM NO MEIO DO CICLONE

O que fazer? Como sanar a questão do acolhimento? Como ser acolhido? Como acolher?  Talvez a primeira ideia seja: permitir-se ser acolhido e permitir-se acolher. Sim, permitir-se, porque vivemos fechados dentro de nós próprios, não nos dando espaços para ir de encontro aos nossos sentimentos e às nossas vontades. Nossas ações ficam amarradas e norteadas para algo instantâneo e fugaz, dando-nos mostra da velocidade da vida e cobrando-nos cada vez mais envolvimento com causas outras que não as nossas próprias. E acabamos por nos perder dentro de nós mesmo.

Daí que ouvimos: relaxa, permita-se, conheça-se. E, com isso, iniciamos um caminho para o autoconhecimento e a confiança em nossas próprias possibilidades. Não é um exercício fácil, não é indolor, mas é gratificante. A autodescoberta é rejuvenescedora porque me apresenta a mim mesmo. Mostra-me o eu que sempre esteve dentro de mim, de maneira bruta e pouco trabalhada, fazendo-me crescer na tarefa de burilar esta pessoa amável e adorada, que pouco foi valorizada.

Acolher o outro implica em se acolher. Vamos tentar?(ilustração: nalub7.wordpress.com)


Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.


VEJA TAMBÉM

ESTOU NA MENOPAUSA E SEMPRE ‘P. DA VIDA’. POR QUE, GINECOLOGISTA LUCIANE WOOD?

ALUNOS DA ESCOLA PROFESSOR LUIZ ROSA PARTICIPAM DO PROGRAMA ‘ALTAS HORAS’

QUER MORAR NUM CONDOMÍNIO TOP? CHAME O CORRETOR CAMPOS SALLES

PRECISANDO DE BOLSA DE ESTUDOS? O JUNDIAÍ AGORA VAI AJUDAR VOCÊ. É SÓ CLICAR AQUI

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES