As DINÂMICAS da vida

dinâmicas

Interessante perceber que as dinâmicas da vida, tarefas domésticas ou cuidados com os filhos, atividades escolares são motivos para que as pessoas se desentendam pela falta de empatia, sem que um saiba o que mais incomoda ou sobrecarrega o outro. Todos falamos da empatia, todos nos sentimos empáticos, porém, temos dificuldades em perceber que o nosso parceiro ou parceira está sobrecarregado com questões pessoais ou tentando manter uma casa funcional ou uma escolaridade ativa ou, ainda, uma vida social dentro de um nível de atividades adequadas para si.

Em uma relação interpessoal estamos em uma linha de igualdade, sem hierarquia. É necessário organizar a dinâmica da vida, levando em consideração as dinâmicas de cada um dos pares, vendo o que é viável e adequado para cada um, sem que estejamos sobrecarregando o outro ou sem desprezar o peso que ele já carrega, pelas suas atribuições.

A chave da relação adequada é quando existe o questionamento sobre como cada um mantém sua individualidade, de modo que entendamos que estar em um relacionamento não significa fundir-se em um único ser. Esta proposta seria tóxica e abafaria a vida do outro. É sempre adequado que cada um tenha sua vida de forma a respeitar a vida do outro. Respeito. O bom e velho respeito.

É adequado que se respeite sempre os grupos sociais dos parceiros, as famílias, os amigos, as equipes. E que se tenha o devido respeito às suas coisas íntimas, é claro. Percebamos que o respeito é sinal da existência do amor e da empatia. Nestas dinâmicas não há espaço para punições nem desconfianças, se ambos agirem com seriedade e franqueza. Difícil acreditar numa relação tão serena, como é previsto pela teoria, mas é viável que tentemos a serenidade.

Todos temos nosso círculo de amigos íntimos, que possibilitam respeitar os amigos e momentos de nossos pares com seus grupos e sem você. Esta cumplicidade favorece ao amadurecimento interpessoal, com entendimento e construção de uma história de vida que se inicia numa relação a dois e se estende a um grupo ou a uma comunidade, de maneira forte e bem alicerçada. Avança para além do esperado e sempre traz algo novo na construção interior.

Alinhar objetivos de vida e de relacionamento e traçar objetivos comuns é uma das formas de manutenção de uma relação. Essa ação fortalece o vínculo, aumenta a cumplicidade e parceria e favorece ao autoconhecimento e ao conhecimento do outro. Dividir tarefas, elaborar projetos juntos, conversar sobre o que gostariam de fazer juntos e sobre como seria possível tirar isso do papel é uma grande oportunidade para se vivenciar a Vida em grupo.

Não resta dúvidas que para tal empreitada é preciso uma dose de respeito e de parceria, senão a proposta é um sonho sonhado a um!!! Não haverá proposta de pares nem de parceiros. Talvez seja este o motivo para que os relacionamentos atuais sejam tão fugazes e tão superficiais: as pessoas perderam o hábito de serem responsáveis e confidentes; hoje vive-se da aparência e da superficialidade: todos estão muito bem, todos estão bem demais e todos são amigos de todos. Só que não.

Neste imenso universo de pessoas que estão bem, temos os que se matam de ansiedade com medos, fragilidades, mas mantêm a aparência do ideal, do bem estar e da respeitabilidade. Porém, estão respeitando apenas os próprios direitos e objetivos, ignorando qualquer pedido ou desejo alheio. Talvez possamos chamar de “dialética da ingratidão”, ainda que se digam fiéis e não ingratos.

Nestas dinâmicas da vida, combinar, dividir, partilhar algo pode ser desde uma grande proposta até um simples desejo de tomar um sorvete. Não requer muitos malabarismos nem muitas artimanhas. Ainda que seja um objetivo pessoal, como trocar de emprego, divida isso com quem você ama, com quem o respeita e quer seu bem. Também é saber o que você espera de si mesmo em uma relação e, então, avalie sua disponibilidade para se adaptar a situações diferentes do que espera. Nunca deixemos de lembrar que mesmo os maiores objetivos podem mudar ao longo do tempo e que os amigos devem sempre contar com essa possibilidade.

A estratégia é ser flexível consigo e com os outros para evitar frustrações e desentendimentos, sem correr o risco de ser desrespeitado ou desrespeitar alguém por mudar de caminho. Escolhas amadurecidas são sempre possíveis de serem alteradas, à medida que avançamos nossa estrada e aprendemos novas lições. A Vida é mestra em mostrar-nos novos rumos, mesmo diante da obviedade.

Eis que, então, surge a Psicologia. Procurar ajuda profissional quando entendemos que perdemos a gosto pela situação ou que estamos numa encruzilhada onde não enxergamos com nitidez e segurança aquilo que está em nossa frente: a dificuldade de iniciar ou de manter uma conversa é um sinal de que uma terapia pode ajudar a diminuir a pressão e esclarecer nossas escolhas.

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Acontece de nos cansarmos e nos desgastarmos em nossas tarefas diárias, deixando de conversar ou, pior, entrando em velhas discussões, sobrando-nos a sensação de que nada vai mudar: isto sugere que devamos apresentar quem somos de verdade (para nós e para os outros, sem sonhos e sem romancismo). Os detalhes do passado são importantes, mas tenhamos em mente que somos mais do que a soma das nossas experiências nas dinâmicas da vida…

Conversar sem amarras e sem preconceitos, tirar o véu da afetuosidade barata e ouvir o outro é o grande início. Apoiar, além de indicar ajuda profissional, caso seja necessário, é um passo a ser seguido, sempre que estivermos numa demanda exaustiva e profunda, em que nossos sentimentos estão aflorados e capengas. Mas repito: terapia é para corajosos; é uma possibilidade de viver sem as máscaras a que poucos estão sujeitos, enfim.(Foto: Freepik)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.

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