Diversidade, Equidade e Inclusão: Empresas como FAMÍLIA

diversidade

As empresas mais arrojadas fomentam a diversidade, equidade e inclusão. E sabem que isso não é um capricho, um luxo, muito menos ideologia ou militância. Trata-se uma demanda, um imperativo da própria competitividade. Muitas dessas empresas realizam, junto às equipes, bate-papos, palestras e rodas de conversa sobre diversidade sexual e de gênero. Representando a “Associação Mães pela Diversidade”, eu costumo ser convidado para participar desses encontros, sempre muito afetivos e sensíveis, contando um pouco da minha própria história. E neste texto, eu convido você leitor, a refletir sobre o papel da empresa como uma família.

Recentemente, realizei duas palestras assim, que chegaram para cerca de 400 pessoas ao vivo, e tantas outras ainda as verão, pois as empresas gravam e disponibilizam posteriormente para as equipes. Contar histórias reais produz efeitos nos sentimentos das pessoas, despertando empatia e compaixão. Sabemos que apenas informações qualificadas não são suficientes para fazer a maioria das pessoas mudarem de atitude. Entretanto, combinar informações de qualidade com afetos, com vínculos, tem o poder de fazer alguém refletir e abandonar comportamentos homofóbicos ou transfóbicos. Escutar o exemplo do “outro” nos aproxima, nos humaniza.

Nas palestras em ambientes corporativos, eu costumo contar como foi receber a revelação de um filho com variabilidade de gênero, os principais desdobramentos, algumas passagens mais desafiadoras, outras felizes e inspiradoras. Fico muito satisfeito em relembrar como eu e minha esposa nos esforçamos para acolher as demandas do nosso filho, desde muito novinho, na afirmação e aceitação da sua identidade de gênero.

Ainda assim, é muito importante destacar que a dinâmica de nossa família não representa o que acontece na maioria dos casos. O mais comum, ainda hoje, é observar pessoas LGBTQIAPN+ sendo rejeitadas pelos pais, até mesmo expulsas de casa, ainda na adolescência. O padrão hetero-cis-normativo, moldado pela forja ocidental judaico-cristã, faz com que a família não aceite a orientação sexual ou identidade de gênero diversa da filha, filho ou filhe.

Com a rejeição dos pais, a saúde mental fica comprometida. Estudos realizados com adolescentes e jovens adultos LGBTQIAPN+ apontam que a rejeição dos pais é responsável pelo aumento das taxas de ideação e tentativas de suicídio, transtornos depressivos, abuso de substâncias e comportamentos sexuais de risco.

Em muitos casos, a trajetória de sofrimento não para por aí. Se a família é o espaço de socialização primária, a escola inaugura a socialização secundária. Sabemos que crianças e adolescentes LGBTQIAPN+ sofrem preconceito no ambiente escolar e são vitimizadas pelas práticas de bullying, muitas vezes com conivência de “educadores”. A falta de pertencimento produz angústia e sofrimento. A pessoa pensa: não pertenço à minha família e não pertenço à escola.

O mundo corporativo é a ampliação dessa socialização secundária. Neste ponto, eu provoco as pessoas a pensarem o ambiente corporativo como uma família. Chamo a atenção para o potencial que uma cultura organizacional diversa e inclusiva tem, em termos de reparação de tantos sofrimentos que um homem gay, uma mulher lésbica, uma pessoa bissexual ou transsexual possam ter enfrentado na vida.

Em 2016, o dicionário Houaiss reescreveu o verbete família: “Núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si uma relação solidária”. Pois bem, uma empresa ética, com uma cultura organizacional acolhedora, não é exatamente isso?

LEIA OUTROS ARTIGOS DE MARCELO LIMÃO CLICANDO AQUI

De alguma forma, a empresa que acolhe a diversidade sexual e de gênero, incluindo essa comunidade, acaba por oferecer uma possibilidade poderosa e efetiva de ressignificação das experiências traumáticas vividas, ao proporcionar a segurança psicológica necessária para que a pessoa LGBTQIAPN+ se sinta pertencente ao grupo, à equipe, assim como ocorre no conceito de família do Houaiss. Essa solidariedade, como disse, tem enorme potencial reparador. É possível que, nesse tipo de empresa, a pessoa possa se sentir pertencente a uma família, pela primeira vez na vida. E uma experiência assim, com um desfecho reparador, produz saúde!(Foto: Gemini)

MARCELO LIMÃO

Sociólogo, psicólogo clínico, especialista em “Adolescência” (Unifesp) e “Saúde mental no trabalho” (IPq-USP). Colaborador no “Espaço Transcender – Programa de Atenção à Infância, Adolescência e Diversidade de Gênero”, da Faculdade de Medicina da USP.  Instagram: @marcelo.limao/Whatsapp: (11) 99996-7042

VEJA TAMBÉM

PUBLICIDADE LEGAL É NO JUNDIAÍ AGORA

ACESSE O FACEBOOK DO JUNDIAÍ AGORA: NOTÍCIAS, DIVERSÃO E PROMOÇÕES