Delphis, o homem das paródias, foi a voz de DJALMA JORGE

DJALMA JORGE

Na segunda parte da entrevista ao Jundiaí Agora, Delphis Fonseca – que nos anos 80, quando era locutor da Transamérica FM e Jovem Pan adotava o nome ‘Delphis com PH’ – conta sobre as paródias que fazia e cantava e que faziam tanto sucesso quanto as músicas nacionais e estrangeiras. Ele também revela: por vários meses foi a voz de Djalma Jorge, o emblemático locutor de programa humorístico que ironizava o próprio rádio. A entrevista(na foto, Delphis na mesa de som, Milton Nascimento e Lélio Teixeira): 

Quais foram os três artistas mais importantes dos anos 80 para você?

Que sacanagem! Tinha muita gente boa. No exterior, não dá para não citar o Michael Jackson e a Madonna. Eles são a cara daquela década. Eles revolucionaram tudo. Por aqui teve o Lulu Santos que fazia um sucesso atrás do outro. O Fábio Júnior, o Roberto Carlos, que está acima de tudo. Tinha também o Cazuza, Lionel Richie, Cindy Louper. E as bandas? Police, Dire Straits, Blitz, Legião Urbana, Titãs…

E as músicas mais importantes?

Isto é duro demais. Difícil escolher. Mas vou seguir a linha da resposta anterior. Thriller, do Michael Jackson; Material Girl, da Madona. Foram músicas que tiveram clipes importantes, que mudaram e influenciaram. We are the World, do USA For África também. No Brasil, Será, do Legião Urbana, Você Não Soube me Amar, da Blitz, foram importantíssimas.

Quais as três paródias de sua autoria que você mais gosta?

É preciso explicar que as paródias que eu fazia eram críticas sociais. Seu Ferraro e o Polvo era paródia da música Eduardo e Mônica, do Legião Urbano. Falava do Sarney; do então ministro da Economia, o Funaro; do congelamento de preços. Era uma paródia datada, temporal. Mas foi muito divertida. O detalhe é que conversamos como Renato Russo antes da música ir ao ar. Ele era quietão, desconfiado. Ficou meio assim. Foi explicado que se tratava de uma brincadeira e ele acabou entendendo. O Renato sempre ficava desconfiado que estavam tirando sarro dele. Teve também a Ferrados(veja vídeo abaixo), paródia de Pelados, do Ultraje a Rigor. O Roger, líder da banda, e mãe dele acharam um barato. Cheguei a cantar com ele e Serginho Leite no palco durante um show. Brega era uma brincadeira com Bad, do Michael. Nada a ver com ele que não tinha nada de brega. O Michael era top. O termo brega tava na moda. Fizemos um apanhado de coisas que eram bregas.

Você deu voz ao Djalma Jorge?

Sim, foi no último ano do programa, de 1988 para 1989. O Tutinha, dono da Jovem Pan e que fazia a voz do personagem, estava cansado e tinha que fazer um tratamento de saúde nos Estados Unidos. Como eu estava na Pan e ele sabia que eu imitava o Djalma(áudio abaixo), fez o convite para eu apresentar o programa. Ele foi pra Los Angeles na época. Seriam 15 dias. Aceitei. O tratamento durou seis meses. E eu fiquei no ar. Era um barato. O Tutinha falava o que queria quando fazia o Djalma. Ele era o dono da rádio. Eu, quando assumi o personagem, também tinha direito a falar o que quisesse!!! Então, soltava muitas doideiras. O programa continuou sendo um sucesso. Quando o Tutinha voltou soube e pediu para continuar. Depois foi para a Cidade FM. O programa do Djalma Jorge acabou. Foi uma honra ter feito este personagem. Eram muito divertido, gostoso. E era algo que eu ouvia há muito tempo. Fazíamos tudo sem produção. Era improviso puro. Combinávamos o que ia ser falado e improvisávamos. Era a cara do rádio. Por falar em rádio Cidade, lembrei de um episódio engraçado. O Evandro Mesquita tinha uma entrevista agendada e atrasou. O apresentador me chamou e pediu para eu imitá-lo no ar. Pouco tempo depois, a Blitz chegou. O Evandro falou que estava no elevador e se ouvindo. Na verdade, era eu! Disse que tinha ficado com uma sensação estranha.

Os anos 80 produziram um grande número de cantores e bandas, tanto no Brasil como no restante do mundo. E a grande maioria produzindo música de qualidade. Como explicar tantos talentos num tão curto espaço de tempo?

Seria a resposta de 1 bilhão de dólares. Se soubesse o motivo da explosão criativa e talentosa repetiria aquela fórmula. Não dá para explicar. Foi um movimento em que as pessoas valorizavam a música pelo amor à ela. Assim como jogadores dos anos 60, 70. Por que não sem tem mais aquela garra, emoção em campo e até na torcida? Nem a Copa do Mundo tem mais o brilho de antes. Por que foi tudo ficando muito comercial. É preciso gerar gerar receita, mas quando a ganância ultrapassa o motivo, a raiz que é entreter, divertir, a alegria fica soterrada. Ai surgem fórmulas musicais, só com refrão. Hoje tem muita gente ganhando dinheiro pra caramba. Existe uma máquina gigantesca atrás de ídolos momentâneos. Mas não há registros de grandes obras como ocorria nos anos 80. O que existe agora são mais obras comerciais. A mente não está voltada para qualidade e sim para aquilo que vai dar dinheiro. Antes faziam porque tinha tesão. Tinha roqueiro de verdade. O romântico fazia aquilo que vinha do coração dele. Assim como os radialistas também. Havia muito amor, paixão. O ato de ganhar dinheiro não estava estava acima do desejo da arte, de revolucionar, de divertir. Atualmente há muitos ídolos criados em alguns posts e eles mesmos não sabem muito bem o que está ocorrendo. São pessoas sem talento fingindo que tem. Surgiram tantas coisas imediatas muito mais do que as coisas profundas. As coisas boas estão por aí. Mas é preciso buscá-las.

Como explicar que nas rádios não-segmentadas, de cada 5 músicas tocadas, três são dos anos 80?

Na programação, se não beber desta água fica complicado. Foi como músicas 50, 60, que a geração dos 80 curtia ouvir também. São músicas que marcaram demais. Era algo como querer resgatar um pouco da musicalidade que os pais curtiram. Havia magia dos anos dourados. Isto também ocorreu nos anos 80. Tá na memória afetiva de quem viveu. Marcou os filhos desta geração. ouvindo desde a barriga da mãe. Música boa não tem prazo de validade. O Evandro Mesquita disse isto num show. Emoção não tem data.

Como é saber que fez parte de uma das épocas mais importantes da música?

Foi maravilhoso. Não tenho do que reclamar. Aprendi muito. Conheci muita gente legal. Fiz grandes amigos, inclusive ouvintes. Recebia carta. Tenho muita coisa guardada. Era muito carinho. Deixavam bolo, torta, presente personalizado. Época deliciosa, de contato com as pessoas nos pedágios para distribuir adesivos. Agradeço a Deus por ter vivido este momento, trabalhar nas rádios e pessoas com quem trabalhei. Conheci muitos artistas, inclusive internacionais. O Ney Matogrosso! Transmitimos um show dele pela Transamérica. Um artista impecável no palco…

Poderia ter feito algo diferente naquela época? Arrepende-se de algo?

Não. Poderia ter feito melhor. Gravava as paródias, virava noite produzindo. No ar achava que tava legal mas sempre tinha algum outro detalhe para melhorar. Sou perfeccionista. É uma tortura. Fiz o o melhor naquele momento. Só posso agradecer tudo o que ocorreu. Obrigado senhor mil vezes!!!

Qual a sua percepção em relação ao tempo? Passou rápido demais?

Parece que passou rápido pra caramba. Parece que tenho a mesma idade. Me sinto com 18, 20 anos. Continuo ativo. Canto pra mim, canto em eventos. Gravo vídeo. Vou ao karaokê. Acho que canto melhor hoje do que na juventude. Outro dia encontrei colegas de rádio. Fizemos as contas. Já está indo para 40 anos que tudo aconteceu. Caramba, já? Mas, na verdade, passou como tinha que passar. O tempo é rei. Não lamento. Não tem cabimento ficar preso no passado. Falar “no meu tempo, na minha época” não é meu estilo. É gostoso lembrar. Mas vamos embora. Estamos em 2019. Dá para usar o ontem como aprendizado e fazer melhor hoje…

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Como avalia as FMs e a música da atualidade?

Hoje está muito segmentado, como a televisão. Mudou muito. Tem TV pra cachorro, receita, peixe. Quando alguém imaginaria isto nos anos 80? Naquela época, a 97 foi a primeira rádio rock. Depois veio a Kiss e a Pool. Hoje, a rádio está extremamente segmentada. É respeitoso ao ouvinte que quer determinado segmento musical. Há 40 anos havia medo de abrir mão de um monte de ouvinte. Descobriu-se que há público pra todo mundo. Lamento que a figura do comunicador praticamente sumiu. As rádios mais populares ainda têm apresentador. Nos anos 80 cada um tinha seu estilo. Hoje, o locutor só dá a hora certa. Não anuncia nem desanuncia a música. Antes, a gente tinha de saber o nome da gravadora, dos autores da música…

O que faz atualmente?

Tenho produtora desde 1987, onde faço locuções, narrações, de vídeo de áudio. Faço narrações e dublagens para Discovery que tem 13 canais. Faço locução publicitária, eventos e vídeos corporativos. Também me dedico à música, com estudos particulares e apresentações com orquestras. A música sempre esteve na minha carreira. É uma das minhas paixões.(Entrevista originalmente publicada em agosto de 2019)

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