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É DOPPING, sim!!!

DOPPING

Diante de tamanho consumismo, frente a uma vida tão veloz e cheia de sobressaltos, perdemos noção de coisas básicas e reais para nos apegarmos a outras de importância relativa e, talvez, fugazes. Nossa perspectiva de consumo e de viver intensamente não nos garante lucidez em todos os momentos e, por meio de ciladas armadas por nós mesmos, caímos em propostas estranhas, talvez duvidosas, diante daquilo que é dopping, sim.

Não falo em dopagem por meio de drogas pesadas (inclusive socialmente consumidas), mas em atos, em modismos que vão nos anestesiando e nos envolvendo, fazendo com que não consigamos mais ver prazer nas coisas se não consumirmos tal ou qual artigo ou maneirismo a que  nos apegamos, pela repetição.

Notícias ruins são viciantes. Tenho conhecidos que se deliciam ouvindo os “suspeitos relatórios suspeitos” sobre a Covid-19. E escrevem contando, argumentando, debatendo como se fossem experientes infectologistas, sem conseguir se desgrudar dos jornais, zapeando de canal em canal, atrás dos números de mortos e internados graves. Este comportamento é vicioso e entra numa ascendente, diante de desgraças e tristezas noticiadas, com estrondo.

Na mesma linha seguem os viciados nas notícias infundadas dos dois grupos políticos opositores: uns torcendo pela morte de um líder e outros torcendo pelo desencarne do outro, sempre com propriedade em suas argumentações, apontando desgastes e desfalques, mas nada fazendo para ajudar o país a decolar. Triste dopping, este, da política inflamada e desnecessária. Política inocente e maldosa que torce pelo insucesso de outros sem torcer pelo sucesso do próprio país. Muito comum.

Vale apontar aquele desejo incontido de bater sapato no shopping e comprar. Comprar o quê? Qualquer coisa! Ouve-se: quero é sair e comprar como antigamente. É só isso. Nada especial. Novamente estamos na cilada armada pelo nosso próprio cérebro, viciado em consumismo. São comportamentos desadaptativos que se renovam, em ciclos cada vez mais constantes e mais incontroláveis e, quando é possível, lá estamos nós estacionando no shopping e comprando o desnecessário, mas satisfazendo a vontade incontrolável e incontida. Em breve retornaremos para repetir o ritual da compra inútil.

A gula entra nesta dopagem? E a bebida? E a fofoca? Sim, entram, sim. O cérebro se sente saciado da mesma maneira e na mesma intensidade com que nos empanturramos de comida, devorando somente a geladeira toda e o armário todo. Ah, comprei chocolate para comer um pedacinho após as refeições mas estou com vontade de comer um pedacinho. E depois outro pedacinho. E mais outro. Outro ainda. E acabou o tablete todo. E o segundo. E o outro ainda. A sensação de saciedade se faz com o término de nosso estoque de chocolate, de doces, de bolachas e torradas e pipocas e bolos.

Sim, sim…vale para os aperitivos, os copinhos virados, os drinques à Vida. E a fofoca ilustra a doce intenção do saber do outro. E como se sabe. Sabe-se mais do outro do que de si próprio, e este saber precisa ser divulgado para muito e com velocidade. Existem estudos clássicos da Psicologia, sobre a fofoca; concluíram que o prazer sentido por fofocar é superior ao prazer da comida ou da bebida, inclusive se incluir periculosidade ou dano moral.

Tais estudos apontam que fofocar e instalar a dúvida ou desabono sobre outro é algo que fascina o autor da maldade e isso é excitante. Seria o viver em risco, por vulnerabilizar alguém, diminuindo seu valor ou desvelando suas verdades. Enfim, desestabilizando a vida do outro: isto é um vício, um dopping; e estudos indicam que homens são tanto ou mais fofoqueiros que mulheres, desfazer o engano de que mulheres falam demais. Pois é.

Mas, e as tais atividades físicas? Eu não consigo ficar um dia sem correr 10 quilômetros. Eu não estou aguentando viver sem academia e malhar. Eu vou comprar aparelhos para me exercitar em casa. Então, existe a questão da vigorexia que é uma distorção sobre o tamanho corporal (situação em que o paciente se sente sempre muito aquém daquilo em que está, do ponto de vista corporal, ou seja, está imenso e sente-se pequeno).

O outro tipo de dopping, relacionado à atividade física, é aquele em que a pessoa faz, faz, faz, corre, corre, corre, malha, malha, malha, nada, nada, nada, pedala, pedala, pedala e ainda quer um pouco mais, batendo seus próprios recordes, empurrando seus limites sempre para frente. Por que este comportamento é considerado dopping? Porque o organismo se satisfaz com a adrenalina lançada na corrente sanguínea, quando da atividade física e, com o passar do tempo, nestes eventos repetidos, o organismo pede mais, e mais e mais ainda, caracterizando uma autodopagem.

Talvez paire a questão: mas estes dopping têm consequências? Estes exemplos acima citados podem trazer alguma complicação para a pessoa? Vejamos: alguns deles são relativos à efeitos morais. Qual juízo você faz quando se vê diante ao rompimento dos limites de seus valores morais? É saudável ou é danoso?

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E aqueles exemplos que atingem os domínios fisiológicos? Estes atuam sobrecarregando estes domínios, envenenando lenta e gradualmente o organismo e, em eventos repetitivos sobrecarregam as grandes glândulas, promovendo uma sobrecarga em suas funções, já equacionadas e equilibradas, atingindo a sobrecarga, que não é a melhor proposta de tratamento ao tão equilibrado corpo humano.

Mas é preciso desenvolver outro olhar: o olhar psicológico sobre cada um destes exemplos: este comportamento me agrega algo positivo ou me leva a um limite ou a um patamar além da minha necessidade? Está aqui aquilo que me norteia: sou eu quem escolho o que adotarei como um comportamento padrão, a partir da minha opção consciente. Estranho é que, em nenhum dos casos, seus executores ou usuários se nominam dopados ou se declaram viciados nestas práticas. Esta esquiva é bem observada numa terapia que auxiliará na adequação da trajetória.

Afinal, eu sinto falta de quê? Qual meu dopping?(Foto: EBC)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO 

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.

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