DRAG: Vivencie oficina no Sesc Jundiaí, neste mês

DRAG

Existe uma questão que paira acima de todos nós e certamente é algo sobre o qual todas as pessoas já refletiram: estou vivendo ou apenas sobrevivendo? Uma hora ou outra nos deparamos com fluxos de pensamento existencialistas e não é para menos, afinal, na maioria dos dias, precisamos acordar cedo, fazer dinheiro para pagar as contas, cuidar da casa e tudo isso é um ciclo que parece não acabar. A rotina, a sensação de anonimato é algo que pode definhar o ser humano. Quem nunca teve vislumbres no transporte público ao ouvir uma música que gosta? Ficar imaginando como seria se fizéssemos um vídeo clipe ou um show onde mostraríamos ali quem somos, não é mesmo? Pois para todas as pessoas que se sentem limitadas pela vida, enjauladas em um sistema, trago um raio de esperança. Durante todas as quartas-feiras de setembro estarei no Sesc Jundiaí, na Sala de Múltiplo Uso 2 para instruir aqueles que se interessam em autoexpressar por meio de uma persona drag.

A Oficina Drag será gratuita, acontecerá das 19h às 21h30 e contará com temáticas específicas a cada aula. A primeira aula foi no dia 4 e tratou da base da maquiagem artística drag, onde abordamos noções de contorno e iluminação. A segunda aula (11) será ainda mais criativa pois dividiremos conhecimentos sobre a maquiagem em sua individualidade expressiva, noção de cor, assim como trabalharemos um pouco da semiótica e da intenção da produção do persona drag. A terceira aula (18) será sobre figurino e perucaria: uma aula para desenvolvermos os elementos estéticos dentro dessa arte transformista. Por fim, finalizaremos esta jornada de exteriorização do outro ‘eu’ com a quarta aula (25), que tem enfoque na performance, passando por exercícios de autoconhecimento e construção de um show para palco.

Este ano junto com Natiê Benite, produtor cultural, multiartista e integrante da banda ‘Clandestinas’, miramos alto ao transformar o que, por quase 10 anos, foi uma oficina de um único dia em um evento que dura o mês inteiro. Este feito importantíssimo só foi possível graças ao projeto ‘Persona’, iniciativa do Sesc Jundiaí que preza dar visibilidade durante o Mês da Diversidade na nossa cidade. Eu já mencionei em tantas outras ocasiões o quanto necessitamos no nosso cenário sociocultural colaborar para que possamos chegar no lugar que merecemos. Assim, com paciência, diálogo e esperança em ocupar os lugares que também são nossos por direito, alcançamos o lugar que queremos.

Mas não é apenas sobre celebrar a conquista de hoje. É também sobre agradecer o que foi construído antes de nós e quem fez parte disso. A história da Oficina Drag como evento anual em Jundiaí já é tradição na comunidade LGBTQIA+ e está na ativa desde 2015. Na época, já existia a Parada do Orgulho LGBTQIA+ em Jundiaí porém não tínhamos o Mês da Diversidade. Foi no ano de estreia da oficina que ocorreu o início do que hoje temos: o lançamento da Semana da Diversidade. Na época, tudo precisava ocorrer em sete dias, mas havia um outro cenário tanto na estrutura do projeto, quanto nas iniciativas de investimento. A Oficina Drag em si foi uma iniciativa do Programa de Ação Cultural de São Paulo (ProAC) e contou com a presença de Dindry Buck, drag queen renomada de São Paulo no Fundo Social de Solidariedade de Jundiaí.  Além disso, a oficina se manteve por anos com uma estrutura que se iniciava em formato de oficina mas o fim girava em torno do Concurso Drag da Parada Jundiaí, concurso esse que coroava (e ainda coroa) a artista que representaria toda a classe artística drag na Parada do Orgulho. Ao longo dos anos, o projeto da oficina foi ministrado por figuras regionais de extrema importância para o transformismo como Karol Della Lastra e Divinna Synik, e houve muito suor em manter esse projeto vivo apesar da adversidades.

Hoje, este projeto que deu espaço para tantas pessoas aprenderem e poderem mostrar seus talentos em palco mudou, embora a intenção seja a mesma. Com a vinda da possibilidade de executar iniciativas durante todo o mês e a abertura de portas de espaços como o SESC, as pessoas podem experienciar essa arte que salva a vida e sanidade de tantos (incluindo a minha) com mais intensidade e empenho.

Quando houve a possibilidade de trabalhar na organização tanto da oficina quanto do concurso, meus olhos brilharam e diretamente olhei para minha trajetória como drag até então. Passei muitos anos aprendendo tudo sozinha e também encontrei uma dificuldade gigantesca para conseguir que algum estabelecimento me permitisse performar. Hoje, com o poder de fazer acontecer, não quero que outras baby drags passem por isso: eu quero poder dar instrução, inspiração e acima de tudo espaço. Dentro dessas questões, atualmente dividimos essa iniciativa em duas partes: as aulas ao longo do mês e o Concurso Drag da Parada 2024 em um outro dia no fim de semana. Assim, trazemos um espaço de partilha de conhecimento e estudo mas também trazemos o entretenimento para que ainda mais pessoas possam prestigiar e viver a experiência de assistir um concurso drag de qualidade sem ter que ir para outra cidade.

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Fico contente de participar da democratização da arte drag justamente pelo cenário que permeia nossas vidas, aquele que mencionei no início, pois eu sei que para tantos o sonho de se sentir protagonista da própria vida parece um sonho distante. Somos educados a tentar se encaixar e carregamos amarras que a arte drag pode ajudar a desatar. Por meio da oficina, criamos um espaço seguro para idealizar e criar nossas possibilidades de nos entendermos como indivíduos sem preconceitos. Convido você a errar, acertar, aprender, ensinar, chorar e sorrir. Convido você a vir comigo sentir!(Foto: ‘Baby The Drag’, de Nala Vizon)

ANNA CLARA BUENO

De nome artístico Anubis Blackwood, é drag queen, artista performática e visual, professora de inglês, palestrante e produtora cultural. É membro do coletivo Tô de Drag, o primeiro de arte drag de Jundiaí e região. Colabora com o ‘Grafia Drag’, da UFRGS. Produz o festival Drag Vibes em colaboração com o coletivo, para democratizar a arte drag, mostrar sua versatilidade e levá-la a espaços e públicos novos por meio de performances plurais e muito diálogo.

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