Esta semana foi muita atípica: muitas pessoas entrando em meu Facebook para comentar sobre o artigo da semana passada. O mais instigante é que muitas delas não são conhecidas, mas se apropriaram desta rede social para fazer seus comentários, trazer suas dúvidas e medos, opinar. E afinal? Seriam escolhas. Ou se seriam consequências? Como se eu pudesse mudar a Lei da Casualidade, na Vida de cada um; justo eu que mal consigo lidar com minhas casualidades.

Mas, três pessoas muito significativas me levaram a uma reflexão, que venho compartilhar com os leitores que talvez vejam meu artigo. A ligação afetivo-intelectual que nutro por estas três pessoas foi o elemento que me moveu a rever situações e fatos condutores desta introspecção que divido com todos, pois se é para causar….


E no filme “As Pontes de Madison”, o que temos pela frente? Escolhas ou consequências acertadas? Caso não houvesse o primeiro passeio pelas pontes, onde se tomaram as fotografias para a reportagem, será que teríamos o enredo daquela história? Se, por acaso, o esposo fosse mais atencioso, mais dedicado e percebesse as necessidades de sua mulher ser entendida como mulher, como mãe de seus filhos, como dona de seu lar a história se desenrolaria da mesma maneira?

E a reflexão vai partir deste prisma, para alcançar o ápice, que é o desenvolvimento de um amor infinito, forte, verdadeiro e arrebatador, que nas suas ultimas consequências padece pela escolha inesperada. Dentro daquele caminhãozinho, com toda aquela chuva, ela permanece ao lado do esposo, observando seu amado partir para sempre. Qual teria sido sua motivação, diante de tudo o que foi vivido, para permanecer no mesmismo e não abraçar a felicidade suprema?

Alguns dirão que foram os filhos (os mesmos filhos que a criticariam, após sua morte), outros dirão que foi sua educação rígida e obediência (tristeza de opinião…) e outros ainda dirão que foram as dúvidas diante do desconhecido (que existem para serem superadas e vividas), no entanto, apenas a ela caberia dar a verdadeira resposta.

Somente quem está diante do impasse pode nos afirmar o que acontece para que se opte pelo caminho A ou B ou C. São elementos do contexto íntimo e particular de cada um de nós que nos impele a escolher uma das alternativas existentes, mesmo que saibamos que escolhê-la significa não poder retomar o caminho, naquela mesma circunstancia, já que retomar seria reviver “outra” oportunidade diferente da primeira. Aquela já não existe mais, nem as pessoas são mais as mesmas…


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Vale ressaltar a indignação dos filhos diante das cartas da mãe. Preocupados com o pai, com a imagem daquele homem bondoso, mas descuidado com a felicidade da mãe. Será um desenho de uma família que pensa na preservação do gueto familiar, sem se importar com a felicidade de cada membro? Será uma proposta familiar semelhante àquela que ainda temos, onde ao homem é permitido tudo e à mulher apenas que procrie, lave, passe e cozinhe, sem dar vida aos seus sentimentos?

Esta história dos anos 70 não encontra eco em nossa contemporaneidade? As escolhas atuais são balizadas por outros ditames? E as consequências atuais? Atendem à qual volume de interesses? Quem ganha e quem perde?

Caso naquele dia de chuva ela descesse do seu furgão e fosse com seu amado, as consequências seriam mais trágicas do que foram? Porque ficar foi uma tragédia, ao menos para uma pessoa; dor conta-se por pessoa ou conta-se por sofrimento intenso? O grupo ou o indivíduo?

Sugestão: voltemos a assistir ao filme “As Pontes de Madison” para nos colocarmos pensantes e analistas das questões alheias, para que consigamos transferir o aprendizado para nossos lampejos e decisão: atrevo-me e realizo ou acovardo-me e acato? Pontes de Madison, ótima opção para estas noites frias, com um chocolate quente, pipocas e um lenço, porque vai que…


A segunda proposta é referente ao filme “Entre Dois Amores”, em que a aristocrata e fazendeira Karen Blixen deixa a mordomia de sua casa e viaja à África para juntar-se a seu marido Bror, um investidor de café, que a traia. Após descobrir que Bror é infiel, Karen se apaixona pelo caçador Denys, que houvera conhecido no clube de caças, mas percebe que ele prefere uma vida muito mais simples comparada com aquela que ela vive. Os dois permanecem juntos até o destino forçar Karen a escolher entre seu amor e seu crescimento profissional. Dureza: escolha ou consequência?

Neste filme temos diálogos curtos e duros, que nos levam a avaliar nossa trajetória e nossas escolhas, porque Denys insiste em afirmar que tudo aquilo que Karen gosta e se fascina, na África, não a pertence. Nada daquilo é dela…é da África, numa sugestão de que não possuímos nada, não controlamos nada; vivemos, passamos, sem apegos e sem domínios.

Diante disto, como ficam nossas escolhas? São furtos do Destino? Mas existe destino ou nós damos a cor, o som e o tempero que queremos dar aos nosso dias, aos nossos relacionamentos e às nossas escolhas, sejam quaisquer que sejam as consequências? Pois é, ai está o elemento desafiador e assustadoramente potente: nós fazemos nossos caminhos, com as cores que queremos, com o som que escolhemos e com o sabor que pretendemos, mas na hora das consequências é mais fácil encontrar um culpado, em que possamos depositar os desconfortos e discrepâncias.


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Covardemente ou imaturamente não fomos educados para levar ate as ultimas circunstancias tudo aquilo que escolhemos; isso nos torna amorfos e indecisos, com um poder de escolha sempre reduzido e com desfaçatez de transferir para outrem o que nos compete: e nos tornamos inconsequentes. E covardes.

Na verdade nada nos pertence nem nada controlamos a não ser a nós mesmos, cujas escolhas e consequências são moldadas ao nosso olhar e vontade. Pessoas outras e coisas são partes do contexto por onde passamos e habitamos. Componentes dos dois amores que desenvolvemos (sobre nós e sobre os outros).


Desta maneira, vale perceber que a Vida não é um espelho em que nos refletimos para admirarmos se estamos bem, se agirmos adequadamente ou se fizemos boas escolhas. A Vida é uma janela, isto sim. Uma janela onde cada um de nós até vê a mesma paisagem, no entanto para uns ela é colorida, para outros é cinza e para outros é em branco e preto.

Som? Sim, ela pode ter som melódico, ou metálico, ou nostálgico, ou pomposo, ou, ou, ou. Cada um escolhe o som que melhor lhe agrada, naquela ocasião e para aquela paisagem. O mesmo vale para o gosto, para a textura, para o enquadramento, afinal, cada um escolhe seu contexto e o habita. É este tipo de escolha que nos faz crescer e sermos senhores de nossa Vida. Aliás, isso é apoderar-se de si. Simples, simples assim. Feliz apoderamento. Isso dói, mas é gratificante. (foto acima: Divulgação)

 

E AFINAL?AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.