Tenho visto, com certa insistência na imprensa, referências a um estudo realizado pelo Instituto Itaú Educação e Trabalho mensurando os ganhos econômicos dos investimentos públicos na expansão da oferta de ensino médio técnico. O estudo faz inferências até à elevação do PIB como resultado desta proposta o que não me atrevo a comentar, mas também afirma que são muito maiores as perspectivas de empregabilidade e benefícios salariais dos egressos dos cursos técnicos em relação àqueles que concluíram o ensino médio denominado como convencional, ou seja, composto apenas por disciplinas de formação geral, destinados principalmente a preparação para os vestibulares. Esta última constatação é o que o escritor Nelson Rodrigues chamaria de “óbvio ululante”, pois quem sai de um ensino médio técnico construiu ao longo de sua formação um conjunto de conhecimentos, habilidades e competências que o aproxima das atividades requeridas no mundo do trabalho o que não ocorre no ensino médio essencialmente propedêutico. No mundo real as atividades produtivas não se interessam pelo que se sabe, mas pelo que se sabe fazer, assim um simples olhar atento para a realidade bastaria para constatar o que a educação profissional sabe desde sempre.
De todo modo, mais uma vez, quero expressar que sou absolutamente favorável a um significativo aumento dos investimentos na formação profissional de nível técnico, sobretudo por acreditar que aqueles que concluem o ensino médio técnico estão melhor preparados para tudo o que irão enfrentar no desenvolvimento de seus projetos de vida. Entretanto a formação profissional antes do ensino superior sempre teve muita dificuldade de se desenvolver, pois temos uma longa tradição de seguir idéias e conceitos equivocados. Um exemplo disso vem dos anos 1970 época em que se vendiam automóveis de duas portas, para alegria das montadoras que economizavam as outras duas, sob a alegação de que carro de quatro portas era “táxi”. E lá iam os brasileiros comprando carros quase inacessíveis aos bancos de trás acreditando que estavam adquirindo veículos esportivos nos quais as duas portas são características. Muitos anos depois se pensou em conforto e acesso e os carros passaram a ter quatro portas e, assim, nos livramos de mais um desses paradigmas infelizmente e inexplicavelmente aceitos pelo senso comum que também aceita, sem questionar, a ideia de que a educação profissional é para “os filhos dos outros” e que só há realização plena para quem fizer curso superior, justificando uma desproporção de oferta nas modalidades do nosso ensino médio, muito diferente do que se observa no mundo desenvolvido. Afinal não há nenhuma restrição para continuidade de estudos para os concluintes do ensino médio técnico, além de ser possível observar que esse tipo de formação e as competências sócio emocionais desenvolvidas nestes cursos facilitam em muito a vida acadêmica e o desempenho no ensino superior.
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Cursos técnicos não são interessantes por si só, precisam ser apresentados de forma mais atrativa ou não vamos romper os paradigmas atuais, independente da suas consistências. Assim ousamos apresentar uma sugestão como medida de equilíbrio para a devida análise: uma política que valorize quem faz ensino médio técnico com uma pontuação adicional no acesso ao ensino superior. Essa poderia ser uma poderosa alavanca e o que a perspectiva de expansão desses cursos precisa.(Foto: portaldaindustria.com.br)

FERNANDO LEME DO PRADO
É educador
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