O que você sente ao caminhar por ruas e praças à noite com as decorações e luzes típicas do período natalino? Com certeza a sensação é das melhores. E onde elas estão? Nas áreas centrais e algumas ruas comerciais dos maiores e principais bairros da cidade. Esses enfeites coloridos já são conhecidos de todos. As prefeituras, juntos aos comerciantes, investem nessa decoração, que além de criar o “clima de Natal” – harmonia, fraternidade, paz, esperança – tem o apelo comercial. Mas não vou falar do materialismo e sim dos efeitos psicológicos que está na essência do Natal, aquele que traz o bem-estar às famílias, ao círculo de amizade, à sociedade no geral.
Ao caminhar pelas ruas decoradas, sem se deixar levar pela tentação das vitrines, a pessoa sente algo de “mágico”. Vão-se as preocupações do dia a dia e por minutos ou horas visualiza-se uma cidade transformada. Bela, acolhedora. Vemos com mais frequência o sorriso nos adultos e a alegria nas crianças, que não cansam de olhar para as decorações, apontarem o dedo e comentarem. Quem tem o privilégio de morar em ruas que foram decoradas, esse efeito é prolongado. Dá prazer ficar nas janelas, sacadas ou até na calçada, conversando com amigos.
Todo ano tem sido assim não só em Jundiaí, em muitas cidades. Porém em todas elas tais decorações são exatamente nesses lugares citados. Áreas centrais e principais bairros, nas ruas comerciais. Entendemos o motivo e todo mundo concorda. Pergunto então, por que não quebrar essa tradição já que a base cristã, o espírito natalino, é a caridade, a atenção e o amor para com os carentes, a parcela da população de menor poder aquisitivo?
Não falo de deixar de decorar os locais sempre decorados. Mas ampliar. Levar a um lugar esquecido pelo poder público. Um bairro periférico, carente. Antes que alguém questione, explico: lugares carentes necessitam de serviços públicos, melhorias na infraestrutura, segurança, qualidade de vida, e não “enfeites”. Logicamente as prefeituras devem levar tais melhorias, e se levam, não há motivo para desprezar uma decoração numa rua ou praça local. A importância disto: o efeito psicológico citado no início deste texto. Moradores de tais bairros, quais imagens que eles têm ao ir para as janelas, varandas, lajes de suas residências? O que veem ao sair diariamente de suas casas? Muito cinza, pouco verde. Emaranhados de fios nos postes e tudo muito escuro à noite. Imaginem o que esse cenário produz no psicológico das pessoas, por mais habituadas que estejam. Estresse, depressão, impaciência, revolta, insegurança. Ainda que as pessoas se dirijam para shoppings e áreas centrais, a passeio ou trabalho, o ambiente em que elas moram não produz alegria. Daí a importância em criar esse efeito em tais bairros durante o mês natalino. Uma praça que seja. Se não houver praça nesse bairro, 500 metros da principal rua, já muda o aspecto.
Jundiaí poderia fazer esta experiência. Avenida Carlos Ângelo Mathion no Tamoio. Bento do Amaral Gurgel no trecho do Nova República e Vila Rui Barbosa. Um trecho da Avenida São Camilo. 500 metros da Estrada Municipal do Varjão. Imaginem a surpresa das pessoas e a mudança no ambiente, no psicológico dos moradores. Ah, mas quem vai bancar? Primeiramente, falo de um bairro por ano. Todo ano reveza, um bairro diferente, que receba os 500 metros de iluminação. Sorteie-se os bairros ano a ano. E o custo não é tão “salgado”. Prefeitura, CPFL e os próprios comerciantes, se levarem para o lado da fraternidade e cristandade do espírito natalino, mais espiritual que o interesse puramente comercial, faz-se perfeitamente, sem choro e impasses. O objetivo é o efeito fraternal do período, despertar o bem-estar nas pessoas que moram em lugares “cinzas”. Sabemos que existem casos de famílias que se reaproximaram neste período. Amizades refeitas. Perdão. E pequenos detalhes, como um presépio, um presente, decoração, influem no impulso.
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Natal. Pode continuar comercial. Mas criemos algo humano. Acrescentemos o que falta… o espírito cristão. A decoração, algo simbólico, pode representar o primeiro passo para ideias e projetos bem mais significativos. É começar para ver o que virá depois. (Foto acima: George André Savy: bairro periférico da região metropolitana da capital)
GEORGE ANDRÉ SAVY
Técnico em Administração e Meio Ambiente, escritor, articulista e palestrante. Desenvolve atividades literárias e exposições sobre transporte coletivo, área que pesquisa desde o final da década de 70.