Eleições 2018: GLAUCO, pré-candidatura radical; coletiva e anti-capitalista

O advogado Glauco Giuliano Vicentin Gobbi, de apenas 29 anos, é pré-candidato pelo PSOL de Jundiaí. Ele assumiu recentemente a vice-presidência do partido. Ele descreve a própria candidatura como radical, coletiva e anti-capitalista. A entrevista de Glauco ao Jundiaí Agora:

Há quanto tempo faz parte do PSOL? Tem algum cargo no partido atualmente? E antes?
Me filiei em setembro de 2015. Atualmente (faz uma semana) sou vice-presidente do PSOL Jundiaí, mas de 2016 até o começo do ano fui secretário geral.
Por que escolheu o PSOL? Passou por outros partidos?
Escolhi este partido porque se trata do único que, em toda a sua história, mesmo antes das alterações vigentes na lei eleitoral, se opôs à interferência do poder econômico na política, não aceitando doações ou apoio de empresas para suas atuações, seja dentro ou fora do período eleitoral.
Entendemos que a partir do momento que o dinheiro (capital privado) passa a interferir na política, abre-se uma porta para a corrupção, por isto não fazemos ou pensamos a política desta forma. Praticamente todos os casos emblemáticos conhecidos de corrupção envolvem a interferência do capital de empresas privadas, de alguma forma, na atuação do Estado – que deveria agir pautando-se pelo interesse público mas que acaba sendo corrompido por tais interferências em benefício de interesses privados.
Já fui do PV na época da faculdade, quando era mais jovem e não possuía muita noção de política enquanto tinha um apreço muito forte pelo ambientalismo (este último eu ainda tenho). Quando tomei consciência de onde havia me metido, me desfiliei e fui para o PSOL, que defende com mais coerência e embasamento a ideia de racionalização da utilização dos recursos naturais do planeta como forma de promover a justiça social, a distribuição com equidade das riquezas produzidas e o desenvolvimento da sociedade de forma ambientalmente sustentável.
Você é candidato a deputado federal. Por que ter Brasília como meta?
O parlamentar federal pode debater e votar leis sobre praticamente todo e qualquer assunto, pois a sua competência legislativa, ou seja, os temas que ficam sob responsabilidade dos Deputados Federais, são muito amplos e permitem a construção de um debate sobre toda a sociedade. Dentre alguns dos meus projetos posso destacar reformas profundas e radicais da atual sociedade, cuja discussão não seria possível em outras esferas de poder, como as de âmbito Estadual ou Municipal. Ao mesmo tempo, entendemos que Jundiaí e região carece de propostas para o legislativo federal, pois os políticos que saíram de nossa terra infelizmente hoje votam projetos contra os interesses dos trabalhadores daqui, como a Reforma Trabalhista, a PEC do teto de gastos, dentre outras obscenidades que não representam os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras da região.
E por que acha que os eleitores devem votar em você? O que o Glauco tem que os outros candidatos não tem?
Quem deve achar em mim motivos para receber a confiança do voto é a população e a classe trabalhadora, para as quais direcionamos nossas propostas. O que posso dizer é que nossa candidatura é radical, coletiva, anti-capitalista, com ideias e projetos totalmente diferentes daqueles dos demais partidos. Defendemos a reversão de todas as medidas impostas goela abaixo pelo governo ilegítimo dos últimos anos, bem como a adoção de políticas que garantam a soberania do país e a destinação de seus recursos estratégicos para os interesses populares. Somos manifestamente contrários e lutamos contra os ataques imperialistas que buscam transformar nosso país em uma modalidade de colônia moderna/neocolônia, fornecedora de matéria prima e mão de obra baratas para conglomerados multinacionais, tudo enquanto a nossa população carece dos mais básicos serviços públicos ou produtos essenciais. Neste sentido, entendemos as privatizações como as maiores ameaças às empresas públicas e aos recursos naturais do Brasil, pois seu objetivo é transferir o patrimônio que é de todos e todas para os bolsos de uma minoria que sequer representa 1% da população. Também temos propostas para a promoção da igualdade de condições e oportunidades aos brasileiros e brasileiras, para o desenvolvimento da tarifa zero nos transportes públicos, para a tributação de grandes fortunas e o fim dos privilégios e benefícios nababescos dos quais gozam as cúpulas dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) estabelecidos pelo Estado Brasileiro.
Aliás, já foi candidato alguma vez? A qual cargo? ano? Quantos votos teve?

Já fui candidato a vereador pelo PV em 2012, obtendo 242 votos e em 2016, pelo PSOL, também para vereador, obtendo 765 votos.
A Lava Jato, o impeachment da Dilma, a prisão do Lula e outros integrantes do PT. Acha que estes e outros fatos deverão prejudicar o desempenho da esquerda nestas eleições? Você teme perder votos?
Não. Ao contrário, acredito que o debate sobre a corrupção e as funções do Estado favorece muito o PSOL, pois não temos ninguém nos nossos quadros sob investigação (enquanto os demais partidos, sejam de esquerda ou direita, colecionam processos e denúncias) ao mesmo tempo que os parlamentares e políticos detentores de cargos públicos/mandatos pelo PSOL sempre foram referência de qualidade e seriedade em toda a história do partido.
O diferencial é o fato de nunca (nem enquanto a lei permitia) termos aceitado doações de latifundiários, bancos ou monopolistas, que são as empresas por trás das ofertas milionárias de doações para os políticos e partidos que acabaram flagrados praticando crimes. Nossas campanhas e nossas atuações são feitas “na raça”, pessoa por pessoa, sem o patrocínio milionário de empresas que, certamente, depois da eleição, cobram o preço da “ajuda financeira” na forma de desvios e favorecimentos ilícitos – o PSOL não corre esse risco e, por isto, fico satisfeito com a prisão de qualquer pessoa que tenha, comprovadamente, deturpado a função pública do Estado ou dos seus agentes políticos.
Existe a possibilidade do PSOL ser uma alternativa para os petistas decepcionados com a sigla?
O PSOL nasceu, resumidamente, de um grupo de militantes que resolveu abandonar o PT justamente porque a sigla não se mostrava mais tão “à esquerda” quanto sua proposta. Quando começaram os flertes petistas com o capital financeiro e outros setores da elite econômica, deixando os interesses da classe trabalhadora em segundo plano, muita gente analisou que o PT estava se tornando um partido de “centro” e resolveu sair para fundar o PSOL, junto de outros companheiros e companheiras dedicadas aos interesses populares, como uma alternativa verdadeiramente à esquerda das demais. Assim, seja para os petistas, ou para qualquer outro cidadão ou cidadã que esteja desiludido com a política oligárquica, ou seja, que objetiva privilégios para as elites, para poucos, em detrimentos dos interesses de muitos, o PSOL sempre será uma alternativa válida, pois contrária à prática dos velhos conchavos, do toma-lá dá-cá, da cooptação da máquina do Estado para atendimento de interesses privados, etc.
As denúncias contra tucanos também vem sendo feitas. Num ritmo mais lentos, mas estão ocorrendo. Pode ocorrer o contrário: a esquerda receber votos de quem antes votava no PSDB? Você em especial pode ser votada em eleitores que sempre preferiram os candidatos tucanos?
O momento é de choque de realidade e a população está tomando consciência de que o problema não é, apenas, a orientação política de um partido, se ele é de direita ou esquerda, mas sim o envolvimento direto de interesses do capital privado (leia-se empresas multinacionais) na tomada de decisões que deveria estar voltada a atender a sociedade brasileira. De onde vem a corrupção?! Já ficou claro que esta ocorre quando se “compra” um político através de doações para campanha, etc. Para um político se vender, alguém tem que comprar – e não falta gente interessada, nos dois lados, infelizmente. Por isso o PSOL nunca se “colocou à venda”, proibindo em seus estatutos o recebimento de doações ou valores dos conglomerados empresariais. Por não se colocar espontaneamente no “mercado”, o partido não esta sujeito ao jogo sujo da corrupção. Muita gente que acreditava na “direita” já veio conversar comigo e declarou seu voto nas eleições anteriores, pois tomaram conhecimento dos princípios e ideais que regem o PSOL e perceberam que nossa proposta, além de ética, oferece, ao contrário das demais, obstáculos verdadeiros aos desvios de interesses de prática política.
Acha que teremos muitos votos nulos e brancos?
Com certeza, a quantidade de candidaturas fisiológicas, ou seja, daquelas que só servem para juntar votos sob determinada coligação ou dividir os votos da oposição são inúmeras. Ao mesmo tempo, o cenário político brasileiro está bastante caótico e a dificuldade da sua compreensão pela maioria das pessoas torna o debate despolitizante, enquanto as afasta os interesses populares pelas questões públicas. Acredito que, se realmente tivermos eleições, o Brasil acumulará um recorde de votos brancos e nulos.
Guilherme Boulos é o melhor nome para a presidência? Por quê?
Certamente, lembrando que sua vice, Sonia Guajajara, também é um nome de relevância (já que a história nos ensinou que é sempre importante atentar para os vices dos presidenciáveis). Boulos e Guajajara oferecem um projeto de retomada do desenvolvimento para o Brasil que, se não for o único que privilegia nossa nação e o nosso povo, é o melhor dentre os que estão postos. Enquanto Boulos e Guajajara defendem o fortalecimento da soberania nacional, visando a garantia do oferecimento de serviços públicos acessíveis a todos e todas com a maior qualidade possível, o incremento da pesquisa e tecnologia, bem como a anulação das medidas colocadas à força pelo governo ilegítimo de Temer e sua corja de parasitas, os demais presidenciáveis já sinalizam sua vontade de entregar toda a riqueza que sobrou no país para quem aceitar sentar na mesa e fazer negócio. Nos debates relacionados às questões sociais, suas propostas também demonstram uma indiscutível consciência humana, além da consideração das problemáticas regionais e o respeito que se deve às diversidades que tornam cada ser humano único.
Por que Lisete Arelaro para o Governo de São Paulo?
A candidata Lisete Arelaro é figura ímpar, com propostas inteligentíssimas e um nome forte para o governo de SP, principalmente considerando sua trajetória, experiência e colaboração com o tratamento de questões relacionadas à educação pública e à cultura no estado.
Infelizmente, no Tucanistão (Estado de São Paulo), as últimas décadas têm sido cruéis para o povo quando falamos de serviços públicos, pois cada vez mais as infraestruturas públicas são precarizadas, cortam-se investimentos, rebaixam-se salários de servidores, tudo para destruir os aparelhos conquistados pelo suor do nosso povo com intenção clara de vendê-los/privatizá-los em favor de quem sentar na mesa e “negociar melhor”.
Sabemos onde isto vai parar, basta observarmos o exemplo da situação dos aparelhos de telecomunicação nacionais, que foram destruídos, precarizados e então leiloados a preço de banana em favor de empresas multinacionais – que agora nos vendem os piores e mais caros serviços de telecomunicação do mundo, colecionam incontáveis processos trabalhistas, infinitas reclamações de consumidores insatisfeitos, dívidas tributárias astronômicas, etc.
A educação, a cultura e todos os demais setores que envolvem serviços públicos oferecidos aos brasileiros e brasileiras não são moedas de troca, são garantidos por convenções de direitos humanos e constituem pilares para o desenvolvimento social do nosso país. Portanto, devem ser garantidos a todos e todas com a maior qualidade possível, de forma pública, gratuita, e isto será possível através do programa político representado pela companheira Lisete, contrária à precarização e privatização das nossas maiores riquezas.
São nomes desconhecidos da grande maioria dos brasileiros. Qual será a estratégia da legenda para conquistar votos para eles?

Como não contamos com o apoio da mídia, que inclusive exclui os nomes dos nossos candidatos e candidatas das pesquisas e programas (talvez daí venha esse suposto “desconhecimento” referido na pergunta), contamos com a forma mais natural, antiga e ética de se fazer política: demonstrando no debate aberto, na disputa pessoa por pessoa, de forma racional e humilde, que o nosso projeto oferece uma alternativa sólida para o desenvolvimento do país que merecemos e pelo qual lutamos.

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Eles deverão vir a Jundiaí? Se sim, quando? 

Provavelmente. Ainda não foram divulgadas as agendas.

Quantos votos você precisará fazer para ser eleito? Se a eleição fosse hoje, quantos teria com certeza?

Ainda há muito chão até termos uma expectativa de quociente eleitoral, mas não deve ser menos de 20 ou 30 mil. Se a eleição fosse hoje, o único voto que eu teria certeza que me pertenceria seria o meu próprio, pois os demais são votos incertos que teremos que disputar com toda a nossa vontade e energia perante a sociedade, um por um, lidando e esclarecendo nossas propostas para todas as pessoas, igualmente, sejam elas conhecedoras do programa do PSOL ou não.