Nos fundos de uma casa do jardim Pacaembu, em Jundiaí, pai e filho trabalham em uma pequena oficina fazendo um serviço que está quase em extinção. Eles são empalhadores de cadeiras, uma atividade que necessita de muita paciência. Hoje, em Jundiaí, existem, no máximo, seis profissionais como eles.
Arthur Gozo tem 91 anos. Aprendeu o ofício com a mãe – dona Ema, que veio de Verona, Itália, ainda criança – e as tias que trabalharam nas antigas fábricas de móveis Pellicciari e Candieiro. Uma curiosidade: o dono da primeira fábrica era Sperandio Pellicciari, que hoje empresta o nome ao viaduto que liga a Ponte São João até a vila Arens, também conhecido como viaduto da Duratex.
Na época, Arthur gostava de ajudar a família. “Meu pai fez uma carriola para mim e mandava eu buscar assentos de cadeira para empalhar”, relembra. Aos poucos, foi aprendendo a lidar com a palha.


Mas, ao ficar adulto acabou trabalhando como operador de cinema. Passou pelo Polytheama, Marabá e Ipiranga. “Eu fechei os três cinemas”, brinca.
Quando se aposentou, voltou a empalhar cadeiras. Para ele, a atividade não cansa e serve como terapia. “Dá para fazer dois assentos por dia”, explica. Atualmente, as lojas de móveis não vendem mais cadeiras deste tipo. Elas são consideradas do estilo Colonial.

Arthur e o filho Antônio, de 65 anos, são, na verdade, restauradores. Os móveis que chegam até eles muitas vezes têm mais de um século. “Agora estamos empalhando uma cadeira austríaca desta idade”, conta Arthur. Na sala da casa há uma cadeira de balanço que pertenceu a mãe dele. O móvel tem mais de 100 anos. Ele também guarda outro tesouro histórico: oito cadeiras que foram do Polytheama e parecem ter saído do antigo cinema há poucas horas.
Enquanto eles cuidam da palha, fazendo trama após trama, um outro profissional faz a restauração do restante da cadeira austríaca. No total, o trabalho fica por volta de R$ 700.

Antônio, mais conhecido por ‘Toninho’, era motorista. Quando se aposentou, passou a ajudar o pai no ofício de empalhar. Mas não deixou a banda Zabbadas, onde é tecladista. Ele não tem filhos. Os sobrinhos não se interessam pelo trabalho. “Isto vai morrer comigo e com o meu pai”, diz.
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A modernidade também atingiu o ofício do empalhador de cadeiras, segundo Toninho. Antes, eles usavam palha de verdade, que vinha da Índia. Hoje, este material foi substituído por uma fibra sintética, feita de polietileno. “Antigamente era muito mais difícil de trabalhar. A palha quebrava facilmente”, lembra. Além disso, pai e filho se aproveitam da internet para divulgar o trabalho. Fazem muitos anúncios em sites. “Nossa principal clientela vem de brechós que vendem móveis antigos”, conclui Toninho.
Para quem precisar dos serviços de Arthur e Antônio Gozo, os contatos dele: antonio_gozo@terra.com.br, (11) 9 9688 5970 e 4533 1125.
