E então foi-se o NATAL…

NATAL

Como num passe de mágica, a semana voou e, então, foi-se o Natal…Mais um Natal em que estivemos expostos ao show de belas palavras, ao sabor das mais belas propostas de fraternidade e flutuamos num ar de muita espiritualidade e fraternidade. Mesmo que tudo não passasse de palavras e atos pensados, sem valor real.

Pergunto-me, nestas datas, se este clima não deveria ser eterno e se nossas boas intenções não deveriam ser desmedidas, nos 365 dias do ano? Não deveríamos estar abertos para todas as pessoas e preparados para boas e belas palavras sempre? Ou somente em épocas especiais? Porque a resposta a esta questão nos possibilita a fazermos direcionamentos a respeito de nossa própria personalidade.

Estar apto a ser bom ou a ser cordial apenas em datas previamente marcadas não significa que sejamos corteses e bons. Significa que nos preparamos para isso, que treinamos, que forçamos nossa natureza. Lógico está que alguns dirão: mas ao menos nestes dias eu fui bom. Ao menos nestes dias eu respeitei a diversidade. Pois é… Somente nestes dias e ainda com uma certa resistência diante do diferente, do menos válido.

O ser deveria ser para sempre bom, ser afável, ser atento, ser fraterno, ser acolhedor. Seria a possibilidade de irmanar e garantir acolhida a todos, sempre. Tal qual nossos animaizinhos de estimação fazem conosco: eles nasceram com este chip instalado, distribuindo o carinho mesmo diante ou após serem maltratados. Diferente de nós, que fingimos o que não é da nossa natureza. E assim foi-se mais um Natal.

Alguns anos atrás eu me via perguntando como seria passar uma data desta sozinho. Já havia passado o Natal de 2000 em Paris, longe de casa, comemorado meu aniversário lá, falando com minha mãe por telefone. Mas naquele tempo eu tinha garantido a existência de uma família: Carmen e Vitória estavam em casa, me esperando. Era apenas um momento. Distante mas não só.

Porém as coisas mudam, tomam outras direções e, de repente, a Vida resolve seus rearranjos e você é seu próprio parente. Como seria isso? A experiência de passar a meia noite num voo internacional, entre uma multidão desconhecida, mas também solitária, a princípio com os mesmos objetivos e planos, faz com que se redimensione as emoções e reveja as lógicas.

Os motivos não são os mesmos, os planos não são os mesmos, os destinos (geográficos, né?) não são os mesmos e as pessoas não são as mesmas. Cada um fazendo sua história a seu modo,vivendo intensamente seus monstros, sonhos, medos e ilusões, sem dar ouvidos a nada nem a ninguém. São sozinhos. Mas não são solitários. Ai está a grande diferença.

Não posso afirmar por todos, mas aqueles a quem tive contato nas longas 12 horas de viagem foram claros em dizer que iam para esfriar a cabeça, para tentar o novo, para descobrir sua capacidade de superação, para reafirmar sua liberdade, para ampliar seu grau de resiliência, enfim. Diferente de uma multidão numa avenida Paulista, assistindo a um show, sem saber porque estava ali nem o que viria a seguir, pois a meta era ir ao show e voltar. Sem mais propostas.

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Isso nos mostra que podemos estar sozinhos mesmo junto ou no meio de uma multidão. Estar sozinho é um estado de espírito. Um estado emocional que assumimos ou sentimos ( melhor sentirmos) que adotamos diante de uma situação que não nos traz mais descobertas ou não nos apetece. Ficar só no meio da multidão da avenida Paulista é tão comum como ficar só em nossa casa, com toda a família ao lado. É um abstrair-se, um permitir-se ser abduzido, mantendo o corpo naquele espaço.

Difícil explicar quando não se quer entender. Estar só, sentir solidão, é um flash emocional que nos coloca em busca de nós mesmos, diante de um movimento incessante de pessoas frenéticas com outros objetivos. O ensimesmar-se é uma ação interna, que pode ser benéfica, levando a crescimentos, ou pode gerar dor e incômodo, levando a tristezas e sofrimentos. Depende do que se faz com ele, com o ensimesmar-se.

Nesta viagem, desta vez realmente só, representando-me e a toda minha família (que sou eu) optei pelo enfrentamento e pela oportunidade de desafiar minha velhice, que já bate à porta: fui e voltarei tantas vezes quantas me forem permitidas e tiver vontade, mas fui e voltarei para descobrir o homem novo que renasce em mim a cada dia. Não estão sendo dias fáceis nem dias de total alegria, como não estão sendo dias monótonos. São dias e estou tendo oportunidade de classificá-los com meu estado de humor; não terei família para confidenciar as aventuras na volta, mas tenho amigos que me esperam. Não terei família para ligar, ao fim do meu dia, mas tenho parceiros para sentar e dividir o cansaço ou a gratidão pela descoberta do dia.

Como já disse: somos senhores da nossa história. E acredito que esteja escrevendo uma bela história. Para contar pros meus netinhos? Não, eu não tenho netinhos nem mais nenhum familiar. Para contar para aqueles que me auxiliam a construir a minha história. Só, mas nunca solitário. Talvez seja esta a magia do Natal: o permitir-se renascer.(Ilustração: psico.online)


Afonso Antonio Machado é docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduado em Psicologia, editor chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology. Aluno da FATI.


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