Depois do desastre social com dona Adelaide — mãe da jornalista e amiga Mônica Gropelo — abriu-se a porta para novas trapalhadas. Aí fiquei na dúvida: terapia resolve ou só aceitamos que sou naturalmente sem noção como dom genético? Alguns anos depois, a vítima de outro equívoco ingênuo foi a dona Egle Petroni, mãe da minha amiga, a jornalista Cláudia Müller, que conheci nos anos 1990 graças ao Luiz Alberto Lessi, meu então, chefe de reportagem. Ela trabalhava no Estado de S. Paulo, morava aqui, viajava todo dia e, quando dava, visitava o Lessi.
A amizade com a Cláudia cresceu rápido: já tínhamos os telefones fixos — porque somos da era dos dinossauros tecnológicos. Era o auge da secretária eletrônica e meu espírito de sexta série amava deixar recados inúteis, porém criativos. Especialmente recados com temática sensual adolescente constrangedora, mas sem vulgaridade — ou quase isso.
A vida seguia pacífica entre pautas, páginas diagramadas e minha carreira paralela de locutor brega da madrugada. A Cláudia achava hilário e dizia que se sentia ótima. Possivelmente ela mentia, mas eu acreditava. Eis que, numa dessas ligações, alguém atende com um alô. Minha surdez emocional interpretou: “vai, arrasa, é ao vivo”. E eu fui. Dois minutos descrevendo um roteiro sensual digno de novela mexicana mal dublada.
Até que veio uma risada… e não era 100% DNA Müller.
— Quem tá falando?
— Egle. A mãe da Cláudia. Pode continuar, fala mais, disse ela.
Nesse momento, fiz o único movimento digno: desliguei.
Entrei em pânico. Fumei quase meio maço esperando o Lessi chegar para contar meu novo equívoco. Ele chorou de rir e garantiu: “relaxa, a Egle tem bom humor”. Spoiler: tinha mesmo.
No Natal daquele ano, na chácara do Lessi em Itupeva, a porta abriu… e lá estava ela. Feliz, sociável, simpática… e eu tentando desaparecer apesar do meu tamanho de totem de shopping. A Cláudia anuncia:
— Mãe, esse é o Édi, o responsável pelas mensagens sensuais.
Perdi a conta do meu número de infartos sociais.
Ela me abraçou e disse:
— Amei. Pode mandar mais. Vou passar uma temporada em Jundiaí.
A mesa inteira desabou de rir — foi um sucesso digno de stand-up involuntário.
Anos depois, na gestão do Pedro Bigardi (PCdoB), entre 2013 e 2016, trabalhei na imprensa e depois de seis meses, virei secretário executivo dele. Eu filtrava agendas, acompanhava visitas e exercia maturidade administrativa. Telefone? Sim, teve mico, teve equívoco. Claro.
Ano de eleição para deputados, governadores, senadores e presidente, em 2014. O telefone toca e atendo: era a Miriam, secretária do diretório partidário, confirmando a agenda do candidato a estadual com apoio do prefeito, às 7h da manhã, fora do expediente do chefe do Executivo. Como ela já tinha ligado outras vezes no mesmo dia para Robéria Eichenberger, parceira de gabinete, fui comunicar pessoalmente ao Pedro, com a autoconfiança de quem nunca deveria tê-la.
Entro na sala e digo:
— Pedro, a mala da Miriam do diretório ligou de novo.
Ele, olhando sério:
— Miriam… a mulher do Douglas?
Eu, já perdendo a cor:
— Que Douglas?
— O Douglas, casado com a Miriam… irmã da minha esposa, a Margarete.
Neste ponto não houve infarto. A alma simplesmente pediu demissão do corpo.
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Ele riu e pediu um café — que eu encomendei com a força de quem sobreviveu emocionalmente por acidente. A Robéria perguntou o que houve, eu contei e ela resumiu:
— Édinho, você é louco.
Depois respirei fundo e liguei para a primeira-dama Margarete Geraldo Bigardi, na época presidente do Fundo Social de Solidariedade, pedindo desculpas. Ela riu muito, mas até hoje quando encontro a sua irmã, a Miriam, adivinha? A história da mala volta, com versão atualizada e ampliada.

MIGUEL ÉDI GOMES
É jundiaiense, tem 54 anos. É formado em jornalismo pela UniFaccamp e atualmente faz parte da equipe da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
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